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luciana-genroBrasil - Brasil de Fato - [José Francisco Neto] Em entrevista exclusiva à série do Brasil de Fato com os presidenciáveis, Luciana Genro (foto) falou sobre política de combate às drogas, a ruptura "pela direita" da candidata Marina Silva (PSB) com o PT e as consequências das manifestações de junho de 2013.


O fato de disputar as eleições com duas mulheres que estão no favoritismo das pesquisas não faz muita diferença para a candidata à presidência da repú­blica Luciana Genro, do PSOL. Para ela, não basta ser mulher: é preciso estar do lado certo. "A Dilma e a Marina, em vá­rios casos que dizem respeito aos interes­ses das mulheres, estão do lado errado", argumenta.

No final de 2003, Luciana foi expulsa do PT junto com mais dois parlamen­tares: o deputado João Batista, o Babá, e a senadora Heloísa Helena. Ambos foram excluídos do partido por serem "radicais ao não optar por uma cons­trução diferente", nas palavras do lí­der do governo petista na época, Aloí­sio Mercadante.

Luciana, no entanto, explica o que mo­tivou sua exclusão do partido. Segundo ela, quem optou por uma construção di­ferente do que tinha defendido ao longo de sua história foi o próprio PT, quando chegou ao poder.

Leia mais: Luciana Genro e a trajetória das esquerdas petistas

"Eles (petistas) entenderam que radi­calismo foi o fato de nós não aceitarmos mudar de lado quando chegamos ao po­der. Nós nos mantemos fieis às bandeiras que o PT sempre tinha defendido quan­do era oposição, e é por isso que nós não aceitamos nos dobrar a essas imposi­ções", defende.

Brasil de Fato – Como é disputar as eleições com duas mulheres que estão no favoritismo das pesquisas?

Luciana Genro – O fato de disputar contra duas mulheres, para mim, não faz muita diferença, porque não basta ser mulher: é preciso estar do lado certo. A Dilma e a Marina, em vários casos que dizem respeito aos interesses das mulhe­res, estão do lado errado. Inclusive, a Dil­ma, que é presidenta há quatro anos, não avançou em uma das promessas mais importantes que ela fez para as mulheres na campanha de 2010, que foi a constru­ção de 70 mil creches. Ela realizou menos de 10% dessa promessa. A educação in­fantil é um elemento fundamental para o desenvolvimento das crianças e das mu­lheres. Ter com quem deixar com segu­rança seus filhos é um fator fundamen­tal para garantir que a mulher possa con­tinuar estudando, trabalhando e tendo atividade política. Isso demonstra clara­mente que o fato de ser mulher não as­segura que os direitos das mulheres es­tejam sendo definitivamente contempla­dos com essas candidaturas.

Como tem sido o debate sobre a representatividade negra dentro do PSOL, já que a gente pode verificar que os quadros do partido não refletem muito a diversidade da população brasileira?

Nós temos vários candidatos negros e negras. Temos uma plataforma de direi­tos para a população negra e de comba­te ao racismo que faz parte do nosso pro­grama de governo. Temos uma setorial de negros e negras do PSOL que se orga­nizam não só na hora da eleição, mas são permanentemente organizados dentro do partido, debatendo e apresentando propostas. Eu acredito que o partido tem um compromisso muito claro com com­bate ao racismo e com as políticas para compensar esses anos todos de discrimi­nação e opressão que os negros e negras vivem no Brasil.

Na prática, a chamada 'guerra às drogas' nada mais é do que uma guerra contra uma população negra, jovem e periférica que está mais vulnerável à esse tipo de situação. Como a senhora enfrentaria esse tipo de problema?

Essa é uma das propostas do nosso programa de governo que dialoga direta­mente com o problema do racismo. Nós defendemos que a política de seguran­ça pública não pode ser ancorada nessa chamada guerra às drogas, que se trans­formou na prática numa guerra aos po­bres e negros das periferias.

Então, em primeiro lugar, é preciso mudar a política de segurança pública, democratizando a estrutura policial, des­militarizando, formando policiais com intuito de garantia de direitos e respeito aos direitos humanos. E não essa política de entrar nas favelas promovendo execu­ções sumárias como nós vimos o caso da Cláudia, torturas como nós vimos o caso do Amarildo, que levou a morte e ao de­saparecimento dele e tantos outros anô­nimos que têm sido vítimas dessa fami­gerada guerra às drogas, que não acabou com o narcotráfico e nem conseguiu di­minuir o uso abusivo de drogas.

Isso não sou eu quem diz. São prêmios nobeis de economia. O próprio Fernando Henrique Cardoso e outros ex-presiden­tes, como o do México, Vicente Fox. E co­mo um passo adiante no fim dessa polí­tica de guerra aos pobres, nós propomos a descriminalização e regulamentação do uso da maconha, que é uma droga de me­nor potencial danoso e que deve ser tra­tada, na nossa opinião e na opinião de muitos especialistas, nos mesmos pata­mares que o álcool e o cigarro. Portanto, não se trata de se fazer apologia ao uso da maconha, mas sim de descriminalizá­-la para tirar o usuário da maconha das garras do narcotráfico e possibilitar a ele acesso à melhores informações a respei­to da possibilidade de se fazer o uso re­creativo da maconha e também da pos­sibilidade disso se transformar numa de­pendência que causa danos à saúde. Tem que haver um maior controle do Estado em relação aos usuários até para oferecer tratamentos que forem necessários.

A senhora falou sobre a desmilitarização. Como seria então um outro modelo de segurança pública no governo da senhora?

Nós precisamos desvincular a polícia das forças armadas e fazer com que ela tenha um outro tipo de treinamento. Não o treinamento para a guerra como ocor­re hoje, mas sim um treinamento para a proteção dos direitos e garantia dos di­reitos humanos. Precisamos também de uma polícia de ciclo completo e com uma porta de entrada única. Não é possível que um oficial nunca tenha sido soldado, como ocorre hoje, já que são duas por­tas de entradas diferentes, o que torna a polícia disfuncional. Além disso, é preci­so pagar melhores salários para também garantir melhores condições de trabalho para os policiais. Uma outra política de segurança que não seja a política de vio­lência permanente contra os direitos hu­manos, contra as mobilizações e contra os pobres.

A senhora foi expulsa do PT em 2003. O PT decidiu expulsar as pessoas que ele chamou de "radicais que optaram por uma construção diferente". Queria que a senhora explicasse o que seria essa "construção diferente" que foi chamada de "radicalismo" pelo PT na época.

Na verdade, quem optou por uma construção diferente do que tinha de­fendido ao longo de sua história foi o PT quando chegou ao poder. Nosso pri­meiro enfretamento com o governo do PT foi justamente quando ele decidiu apoiar o Sarney para ser presidente do senado. Junto com isso, colocou o Hen­rique Meireles, vindo do Bank Boston e deputado eleito pelo PSDB na chefia do Banco Central, garantindo a continuida­de da política econômica do Fernando Henrique. E pra culminar, queríamos que nós votássemos a favor da reforma da previdência que estendeu aos servi­dores públicos as maldades que o Fer­nando Henrique já tinha feito com os trabalhadores e aposentados da iniciati­va privada e que o PT havia sido contra quando era oposição.

Então eles entenderam que radicalis­mo foi o fato de nós não aceitarmos mu­dar de lado quando chegamos ao poder. Somos fiéis às bandeiras que o PT sem­pre defendeu quando era oposição, e é por isso que nós não aceitamos nos do­brar à essas imposições. Nós acabamos sendo expulsos e construímos o PSOL para continuar a construir uma esquerda coerente, que não aceita se dobrar aos in­teresses do capital, dos bancos e das oli­garquias políticas.

Como a senhora avalia o pós-junho 2013? A senhora acha que o governo incorporou as demandas da rua?

As demandas de junho continuam pendentes. Tivemos algumas vitórias. O preço da passagem de ônibus caiu, con­seguimos aprovar o fim do voto secre­to para a cassação de deputados na Câ­mara Federal, que estava engavetada há muitos anos. Mas isso foi muito pouco em relação ao tamanho da mobilização e a quantidade de demandas. Então eu vejo que nós entramos numa outra fa­se: a de organizar a indignação. Porque junho foi muito espontâneo e sem ne­nhum controle de partidos, movimen­tos ou entidades. Isso foi muito positivo, porque foi como uma panela de pressão que se destampou.

Leia também: "Candidatura é contraponto à onda reacionária"

Os movimentos sociais estavam mui­to contidos pela cooptação feita pelo PT. E junho destravou esse processo. Agora a gente entra numa nova etapa de cons­trução de novas lideranças que possam dar continuidade a esse processo orga­nizando de forma mais clara o progra­ma para avançar mais ainda a conquista de direitos. E a minha tarefa como can­didata do PSOL à presidência é ajudar a dar voz a essas demandas de junho e se­guir insistindo para que elas tenham vi­sibilidade e tenham cada vez mais força para poder conquistar.

Um dos resultados da Jornada de Junho foi a proposta do plebiscito pela reforma do sistema político, que foi sugerido pela Dilma. Essa proposta foi encampada por mais de 400 organizações sociais e partidos políticos, inclusive o PSOL. Por que o Brasil precisa de uma reforma política?

Na verdade, a Dilma usou essa ideia da constituinte como um subterfúgio na­quele momento em que o povo estava nas ruas questionando o seu próprio go­verno. Ela não foi consequente na defesa dessa proposta, tanto é que ela abando­nou logo depois que as mobilizações ter­minaram.

Então, os movimentos sociais toma­ram essa bandeira como sua. Nós apoia­mos essa ideia e achamos que fazer uma reforma política é fundamental, porque as instituições, tais quais como estão or­ganizadas, não conseguem mais repre­sentar os interesses da população. Es­tão capturadas principalmente pelo po­der econômico, que é quem financia as campanhas eleitorais de Aécio, Dilma e Marina.

Então, terminar com essa relação pro­míscua entre a iniciativa privada e os partidos é fundamental para que as elei­ções tenham um resultado mais próximo da vontade popular.

Nas eleições de 2010, a senhora deixou claro que apoiaria a candidatura da Marina Silva para a presidência com argumento de que "não teria outra alternativa se não quisesse cair no isolamento e perder grande quantidade do capital político que foi acumulado nos últimos anos". Que posição a senhora adotaria numa possível repetição daquele pleito, hoje?

Esta manifestação que tu estás citando fiz muito antes das eleições de 2010. Eu fiz quando a Marina rompeu com o PT e aparentemente estava rompendo pe­la esquerda. Acontece que, a partir daí, nós buscamos dialogar com a Marina e ela deixou muito claro que não queria se vincular com a esquerda socialista, por­que a proposta dela era uma unidade do PT com o PSDB. Então, naquele momen­to, ela já deixou claro que a ruptura de­la com o PT não era pela esquerda, mas inclusive pela direita, aproximando mais do PSDB.

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Por isso eu fui uma militante da cam­panha do Plínio de Arruda Sampaio em 2010, que foi o único candidato que re­presentou a esquerda coerente nas elei­ções presidenciais. E agora, em 2014, es­se perfil da Marina não só se confirmou como se aprofundou, já que ela abraçou bandeiras totalmente neoliberais, co­mo foi o caso da independência do Ban­co Central.


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