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inflaçãoBrasil - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Brasil: crise passageira ou na direção da recessão profunda?


Foto: Agência Brasília (CC BY 2.0)

A disparada da inflação

A inflação é um fenômeno próprio das leis do sistema capitalista. Durante os períodos de crise, a tendência é à hiperinflação. O fundamento é a queda das atividades produtivas e o aumento das emissões de títulos públicos e moedas sem lastro produtivo. A propaganda da imprensa burguesa em relação ao problema da deflação faz parte da campanha para justificar os maciços repasses de recursos para os grandes capitalistas. A deflação foi um fenômeno típico da década de 1930 quando existia a conversibilidade ao ouro e os principais governos não podiam emitir moeda além de um limite controlado. Desde 1971, com o golpe aplicado pelo presidente Richard Nixon, após a revogação unilateral dos acordos de Bretton Woods, o mundo tem sido inundado por crescentes volumes de moedas podres, principalmente o dólar norte-americano. Ao mesmo tempo, as manipulações estatísticas foram ao espaço.

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Nos Estados Unidos, por exemplo, a suposta inflação de 2,7% ao ano somente é conseguida aplicando as normas impostas na Administração de Ronald Reagan, na década de 1980, o paladino da implantação do chamado neoliberalismo em escala mundial. Na realidade, simplesmente aplicando as regras anteriores, a inflação dispararia para algo em torno aos 10%. Para os trabalhadores considerados pobres, os que se encontram abaixo da linha oficial de pobreza de US$ 22 mil ao ano, a inflação sobe para algo em torno aos 15%, o que está próximo aos 20,5% oficiais de 1980.

Da mesma maneira, no Brasil, as manipulações são enormes e grotescas. A inflação no ano passado não foi de 6,5%, nem hoje está em 8,27%. Os preços controlados, os agrupamentos dos produtos, os pesos dos produtos, a desconsideração do poder de compra dos mais pobres, os locais onde as pesquisas são feitas etc., representam apenas alguns dos mecanismos envolvidos na falsificação.

A burguesia tem condições de conter a disparada da inflação?

As pressões inflacionárias avançam a passos largos no Brasil, na América Latina e no mundo. A burguesia se vale de grotescas manipulações estatísticas e da propaganda em larguíssima escala na tentativa de camuflar a gravidade da situação.

A inflação deverá continuar alta devido à continuidade dos aumentos nos preços dos produtos de consumo popular, que cada vez mais, são importados. Trata-se do colapso do nefasto "desenvolvimento Lula", de fato imposto pelo imperialismo, baseado na exportação de meia dúzia de matérias primas.

O governo tenta conter as pressões inflacionárias aplicando a mesma política usada para garantir os lucros dos capitalistas a qualquer custo. O aumento do endividamento e as emissões de títulos podres do Tesouro Nacional representam um dos principais pilares para garantir de maneira direta os lucros dos bancos e, de maneira indireta, os lucros das grandes empresas. O efeito colateral é da disparada da dívida pública que ameaça sufocar as contas públicas e, obviamente, a disparada das pressões inflacionárias.

A inflação baixa seria a solução ideal para os especuladores internacionais, que se veriam beneficiados pelos altos juros pagos pelos títulos da dívida pública, cujos serviços de pagamento hoje consomem quase a metade do orçamento do governo federal. Operações relacionadas seriam mantidas e incrementadas, como os lucros fáceis objetivos pelas operações de "carry trade" com "swap cambiais", onde os especuladores obtêm dinheiro no exterior a taxas próximas a zero por cento e o repassam para o governo brasileiro a taxas várias vezes maior.

Mas esses mecanismos conseguirão conter o crescimento das tendências inflacionárias? Não por muito tempo. Os principais componentes inflacionários dependem de fatores que se desenvolvem em escala mundial, como a especulação com alimentos e energia nas bolsas de commodities, onde os títulos financeiros passam de mão em mão dezenas de vezes antes dos produtos chegarem aos consumidores. O outro componente fundamental da inflação relaciona-se com a emissão crescente de títulos públicos.

A emissão de títulos públicos é feita sem lastro produtivo, a partir do ar, e representa um dos principais componentes do aumento da dívida pública federal, que uma das mais altas dos países atrasados. A operação não entra no Orçamento da União, apesar de que, surpreendentemente, os rendimentos, mesmo baixos, desses empréstimos, entram como ingressos do governo, inclusive com antecipação do lucros, para compensar a queda da arrecadação. Trata-se da geração de recursos com um passe de mágica! Essas operações representam um dos principais componentes da ascendente pressão inflacionária, mesmo com a economia estagnada, que corroem o poder de compra das massas trabalhadoras.

Preços controlados? Para quem?

No ano passado, os chamados preços controlados, aqueles que são controlados pelo governo (gasolina, diesel, tarifa de transporte público, energia), representaram 0,9%. A inflação dos preços livres disparou para 7,34%. Os preços controlados compõem um quarto do índice. Se eles foram liberados, a inflação oficial dispararia para algo cerca de 10%.

A imprensa burguesa tenta apresentar os preços controlados como uma dádiva do governo para os trabalhadores. De fato, os verdadeiros beneficiados são os capitalistas. As tarifas privatizadas de serviços públicos, como luz, água, telefone e gás, na prática, funcionam como um imposto sobre a população, e sofreram aumentos absurdos após as privatizações. Os preços administrados somaram mais de 30% da renda destas famílias, segundo os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, de 2010 e aumentaram pelo menos 5% nos últimos três anos.

Os aumentos nos preços da gasolina, da água, da energia elétrica, dos transportes foram às alturas após as privatizações dos serviços públicos. Nos últimos anos, após a crise de 2009, foram segurados por meio de gigantescos repasses de recursos públicos para as empresas desses setores. Essa era a mágica para que a inflação dos preços da energia, que compõem 40% do índice total, fosse mantido em torno a 1%, enquanto o endividamento público disparava. Agora, com a pressão do imperialismo para direcionar todos os recursos para manter os lucros dos bancos, esses subsídios estão sendo eliminados e a inflação dispara sem parar.

Uma política muito parecida com a que foi vista no início dos anos de 1980, a que foi aplicada por Delfim Neto. O aumento inicial da inflação e a corrosão dos salários. Depois, se segue o controle inflacionário por meio de uma política recessiva. Com essa política, o país foi mantido sob controle entre 1981 e 1983, quando estouraram grandes greves. Foi o prelúdio da ascensão do movimento grevista de 1985, que somente veio a ser controlado por meio do neoliberalismo com FHC.

Desvalorização do real: um dos principais fatores envolvidos na inflação

Conforme a economia brasileira tem ficado, cada vez mais, dependente de produtos importados, a desvalorização do real tem impactado no aumento dos preços de uma grande parte de consumo popular. A economia brasileira tem sido focada na exportação de meia dúzia de matérias provocando a desaceleração industrial. Vários dos produtos agrícolas que fazem parte da cesta básica, como o trigo, foram deixados de lado e agora são importados.

A inflação oficial brasileira se encontra hoje em 8,17%. Com a subida dos juros nos Estados Unidos a tendência é o aumento das pressões inflacionárias.

O problema dos preços do petróleo, que representa outro dos componentes fundamentais da inflação, se relaciona com os preços do mercado mundial, mas, principalmente, com a política entreguista da burguesia brasileira. Os investimentos da Petrobras no refino tem sido muito inferiores e na petroquímica, que é o filé mignon da cadeia produtiva, é irrisório. Quase 60% dos investimentos da Petrobras estão colocados na área de Exploração e Produção, ou, dito em outras palavras, na exportação de óleo cru, basicamente, por meio das bolsas especulativas de energia.

As importações de combustíveis e derivados têm provocado a disparada do déficit comercial da Petrobras de US$ 11 bilhões há dois anos para mais de US$ 20 bilhões. A Petrobras é obrigada a importar álcool combustível quando os usineiros deixam de produzi-lo para usar a safra de cana para a produção de açúcar, quando os preços nas bolsas de commodities estão favoráveis. E tudo sobre a base de enormes repasses de recursos públicos. Não por acaso, os usineiros têm sido um dos principais tomadores de empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). O rombo da petroquímica é ainda mais gritante. Os poucos projetos focados nessa área, como o de fertilizantes, onde as importações representam algo em torno aos 80% do consumo, têm sido morosos.

Obviamente, nada é mencionado sobre essas questões na propaganda da imprensa burguesa, que tem como objetivo entregar a Petrobras, de maneira integral, aos monopólios. Exatamente, nos mesmos moldes do que foi feito com a Pemex (Petróleos Mexicanos) no ano passado.


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