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gdanskPolónia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Para o próximo período, na Polônia, nos países da Europa Oriental e, principalmente, nos países desenvolvidos, estará colocado o aprofundamento da crise capitalista e a incapacidade de controlar o regime político. A retomada do movimento grevista mundial ficará novamente à ordem do dia. A burguesia tentará responder com o fascismo e novas guerras. Mas estará colocado o confronto aberto entre a burguesia e o proletariado.


Portões de estaleiro de Gdansk, local de gigantescas greves nos anos 1980 na Polônia. Foto: Trojan Llama (CC BY 2.0)

As greves de 1980: remix!

As greves dos operários poloneses estiveram à frente do colapso do modelo imposto pela burocracia que controlava a União Soviética não somente no leste europeu, mas também na própria União Soviética. Em 1970, aconteceram enormes greves contra a inflação, a carestia de vida e as condições de trabalho ruins, que foram reprimidas a bala. Em 1976, se repetiram e o saldo foi de vários mortos.

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Em 1980, a crise foi a mil por hora por causa do aprofundamento da crise econômica que foi aprofundada por causa da crise aberta em 1974 com a chamada crise mundial do petróleo. As primeiras greves estouraram na cidade de Lublin, localizada a 180 quilômetros ao sul de Varsóvia, no setor metalúrgico. A burocracia polonesa ficou com medo e acabou cedendo a quase todas as reivindicações operárias. Não houve repressão. Mas a crise do regime já estava instalada. Umas semanas depois, estouraram gigantescas greves nos estaleiros de Gdansk, o porto localizado no Mar Báltico. O motivo inicial, a faísca, foi a demissão de uma operária, ativista contra o governo. Mas o motivo de fundo era uma inflação galopante e o completo esgotamento do regime soviético na Polônia.

Lech Walesa, que tinha sido demitido em 1976, e que tinha sido um eletricista nos estaleiros, passou a integrar o Comitê de Greve. A Igreja Católica e os serviços de inteligência ocidentais atuavam com intensidade. Mas o problema principal era o descontentamento generalizado da população.

O movimento grevista começou a se alastrar no país inteiro, e atingiu todas as cidades mais importantes. O sindicato Solidariedade, que nasceu em Gdansk, foi legalizado e passou a atuar como um verdadeiro soviet (conselho de trabalhadores) no país inteiro. A Igreja Católica se transformou num dos principais instrumentos do imperialismo na tentativa de controlar a abertura, mantendo os trabalhadores sob controle. Os serviços de inteligência do imperialismo atuaram em cheio. Mas a causa profunda do alastramento do movimento grevista não está num "complô da CIA", como parte da esquerda mundial apresenta, mas no colapso da economia e a piora das condições de vida dos trabalhadores.

Crise do "comunismo" ou rompimento do elo mais fraco do sistema capitalista mundial?

A crise do regime polonês foi se desenvolvendo até o ponto em que, na prática, existia um governo paralelo que impunha as próprias decisões, até a redução da jornada de trabalho.

A situação foi se tornando insustentável para a burocracia que acabou promovendo um golpe de estado em junho de 1981, encabeçado pelo general Wojciech Jaruzelski. O golpe, apesar da retórica demagógica, foi apoiado pelo Vaticano, Ronald Reagan, Margareth Thatcher e, no Brasil, até por João Amazonas do PCdoB.

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Apesar do toque de recolher e de várias medidas repressivas, o descontentamento popular continuou em ascensão porque a inflação e a carestia da vida não conseguiam ser controladas. O contágio sobre os demais países do bloco soviético se colocou à ordem do dia e foi impulsionado em cima do colapso econômico de todos esses países.

A burocracia soviética entrou em pânico e ficou paralisada em relação aos acontecimentos na Polônia. Enquanto os países do leste europeu se encontravam à beira do colapso, a crise econômica se aprofundava na própria União Soviética, que também tinha se endividado aos bancos imperialistas e agora enfrentava dificuldades para pagar. A indústria leve estava semiparalisada e a agricultura não conseguia atender a demanda interna. A partir do início dos anos 1960, o grande celeiro da Europa começou a importar trigo da Argentina. A resposta da burocracia à crise foi tornar-se mais "papista que o Papa", ou seja, passou a defender e impor a volta ao "capitalismo de mercado". O objetivo era ela manter e até aumentar os privilégios. Ela assumiu o controle direto de boa parte da economia. Esse foi o sentido da chamada Glasnost e da Perestroika, impulsionada sob a direção do então secretário-geral do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), Mikhail Gorbatchev.

Em 1988, com a economia totalmente implodida e com a impossibilidade de pagar as dívidas aos bancos estrangeiros e ao FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo polonês abriu negociações com o Solidariedade. As eleições presidenciais de 1990 foram vencidas de lavada por Lech Walesa, que preparou o caminho para o controle direito do país pelo imperialismo, principalmente os alemães e os norte-americanos.

Hoje os estaleiros de Gdansk, onde o estaleiro Lenin, o foco das revoltas, construía navios enormes para os países do bloco soviético, parecem terra arrasada. Gdansk se tornou uma cidade turística, com um mega museu do Sindicato Solidariedade e dezenas de call centers que aproveitam a mão de obra polonesa, qualificada e com salários irrisórios para os padrões europeus.

A crise não foi do socialismo, mas do elo mais fraco do sistema capitalista mundial. Todos esses países, inclusive a Polônia, se encontravam extremamente endividados aos bancos ocidentais. Na Hungria, o regime se encontrava aberto para a entrada do capital estrangeiro havia anos. Inclusive, no início da década de 1960, tinha aberto as fronteiras para a Áustria. Na Romênia, o endividamento externo tinha chegado a tal ponto (US$ 13 bilhões) que o governo de Nicolae Ceaușescu, na tentativa de se livrar desta pressão, chegou a impor um plano de austeridade tão duro que, no último período, a população quase só tinha frango para comer, pois quase tudo era exportado.

A retomada do movimento grevista dos anos 1980

Para o próximo período, na Polônia, nos países da Europa Oriental e, principalmente, nos países desenvolvidos, estará colocado o aprofundamento da crise capitalista e a incapacidade de controlar o regime político. A retomada do movimento grevista mundial, abortado pela implementação do neoliberalismo na década de 1980, ficará novamente à ordem do dia. A tônica será o que aconteceu na Polônia em 1980. A burguesia tentará responder com o fascismo e novas guerras. Mas estará colocado o confronto aberto entre a burguesia e o proletariado.

Alejandro Acosta está atualmente no Leste Europeu acompanhando os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.


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