Perante uma assistência numerosa e muito diversificada, os quatro oradores convidados abordaram esta problemática a partir de prismas de análise distintos.
José Castro Caldas, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e membro da Iniciativa Auditoria Cidadã à Dívida (IAC) centrou-se na necessidade de renegociação urgente da dívida face à sua insustentabilidade económica, social e ambiental. Mostrou como as previsões oficiais têm ficado sistematicamente longe da realidade e apresentou possíveis cenários de um processo de renegociação que interesse ao país no seu todo e não apenas aos credores.
André Barata, director do Mestrado em Ciência Política da UBI e membro do Congresso Democrático das Alternativas, situou a sua intervenção no processo político de transformação da soberania. Abordou a dívida enquanto instrumento de coerção e de transferência da fonte de legitimidade da soberania do poder democrático para as esferas de decisão financeira. Destacou a construção simbólica da austeridade enquanto alicerce de um processo ideológico que visa a supressão ou limitação de direitos sociais.
Anabela Dinis, docente do Departamento de Gestão e Economia da UBI discutiu a relação entre dinheiro, democracia e solidariedade e apresentou exemplos de sistemas financeiros alternativos, como por ex. as moedas sociais.
A última intervenção coube a Nuno Augusto, do Departamento de Sociologia da UBI e do CIES-ISCTE, que destacou o facto de nenhuma acção política ser ideologicamente neutra ou socialmente equitativa. Considerou que a combinação entre dívida e crise coloca os cidadãos entre a inevitabilidade do pagamento da primeira e a indignação pelas consequências sociais da segunda e destacou que a coesão social está a ser substituída pelas exigências da coesão económica.
No intenso debate que se seguiu foram discutidas questões como a cultura de subordinação e os baixos níveis de interesse pela política que se registam em Portugal, a ilegitimidade da dívida ou de parte dela, a sustentabilidade de iniciativas de Economia Social e a necessidade de enquadrar a discussão da problemática da dívida portuguesa num contexto mais global.