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171012 luisnunescercoaocongressoPortugal - Spectrum - É sintomático que a «tensão» nas ruas tenha subido de tom no momento em que a composição social das manifestações começou a ganhar novas formas. Os activistas e militantes do costume começam a encontrar-se com estivadores, pessoal de claques, jovens dos subúrbios, moradores de ghettos, desempregados fodidos. Partilho a preocupação que muitos sentem com a repetida emergência de palavras de ordem nacionalistas e do hino nacional nestas manifestações, mas é preciso sublinhar que a esquerda movimentista não faz melhor quando clama pela perda da soberania nacional e apresenta soluções nacionais para a crise.


Parece-me ainda cedo para avaliar o impacto e alcance das últimas manifestações. Uma coisa é certa, a comunicação e solidariedade e acção colectiva entre pessoas que mal se conhecem é uma realidade no momento de escolha da ilegalidade de massas contra a austeridade e a repressão policial. segunda-feira, estava muita gente de cara tapada (e ao contrário do que sustentou em tempos, com toda a solenidade, o Daniel Oliveira, muitas mulheres estavam na primeira linha de cara tapada) e muita mais ao seu lado. No relvado lateral, uma vez derrubadas as barreiras, vi reformados e senhoras de idade ao lado de pessoal de passa montanhas que lançava petardos. Dois polícias à paisana foram identificados, cercados e forçados a refugiar-se atrás da barreira policial. É preciso recordar que são precisamente estes que prendem pessoal quando as manifestações estão a acabar ou quando apanham alguém mais isolado por ter ido beber água ou mijar. E também importa não esquecer que isto aconteceu e poderá voltar a acontecer. Se os manifestantes fossem a massa selvática e inconsciente que é retratada pelos media – se fossem «radicais violentos» – não teriam tido dificuldades em linchá-los. Demonstraram bastante inteligência e sangue frio ao obrigá-los a correr.

Não deixa de ser irónico que venha de um meio habitualmente conotado com a alienação das massas e a sua despolitização este novo ímpeto à contestação nas ruas. É como se um feitiço se virasse contra o feiticeiro.  Os estádios de futebol tornaram-se há muito – num contexto de isolamento e fragmentação da vida social – dos poucos espaços de agregação e socialização dos jovens da classe trabalhadora e dos grupos subalternos. A experiência das claques – nomeadamente nas suas deslocações – familiariza os seus membros com os métodos do controlo e da repressão policial, bem como com as estratégias colectivas para lhe fazer frente. segunda-feira, em S. Bento, estava toda a gente junta, mas a iniciativa coube claramente a um conjunto de pessoas que sabia uma coisa ou outra acerca do confronto violento com a polícia e se preparou para ele. Se tivessem sido apenas manifestantes de esquerda com um punhado de anarquistas lá pelo meio teria sido porventura mais fácil para a polícia pôr um fim a tudo aquilo. Assim, esta confluência entre estivadores, hooligans (isto não é um insulto e, à falta de melhor, vocês sabem bem do que é que eu estou a falar), pessoal mais militante e manifestantes que já estão fartos de passeatas e discursos simpáticos, resultou num momento que poderá vir a dar o tom para o futuro.

A polícia carregou quando se esperava que carregasse, não antes. E fê-lo com todas as cautelas que a situação impunha. Não correu à desfilada a bater em tudo o que mexe. Não perseguiu pessoal durante horas pelas ruas. Ficou ali, quietinha, a defender o perímetro. Naturalmente que lançou a mão a quem conseguiu (a vida é feita de aprendizagens, quando eles carregam não serve de nada levantar os braços e ficar quietinho), mas convenhamos que o saldo não lhe foi propriamente positivo, se o compararmos com manifestações anteriores. Quando eles têm medo e são obrigados a defender-se, quando perdem a iniciativa, todos ficamos mais seguros. E por último, não é menos importante que se reflicta colectivamente acerca da repressão policial e se procure identificar alguns meios para lhe fazer frente. O panfleto distribuído na segunda-feira, Vamos juntos, voltamos juntos, foi um excelente ponto de partida. Esta merda está muito longe de ter acabado. Encontramos-nos nas barricadas.

Foto de Luis Nunes para o Diário Liberdade.


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