Os trabalhadores mais velhos e melhor remunerados são despedidos e os novos que entram são precarizados, empurrando o valor do seu trabalho para baixo.
Estes dados divulgados revelam ainda algo negado pelo FMI: que não só os novos trabalhadores sofreram um corte de 11% nos seus salários, como entre aqueles que permaneceram no seu posto de trabalho, 39,4%, isto é, quatro em cada dez, sofreram cortes nos salários entre 2011 e 2012. A precariedade e a austeridade andam de mão dada para poder destruir não só o emprego como para baixar as condições do emprego já existente. A precariedade é a arma de arremesso da troika e do governo para subjugar a sociedade e esmagar as suas aspirações a um trabalho digno e que permita viver em condições.
Fica assim claro aquilo que foi afirmado há muito: a flexibilização do mercado laboral apenas serve para aumentar o desemprego, baixar salários e condições de vida. Esta informação só demonstra a plena hipocrisia do discurso ontem proferido por José Eduardo Coelho, presidente da Associação Industrial Portuguesa, que dizia que era necessário mudar a Constituição para poder baixar salários e manter empresas abertas. A verdade é muito mais grave do que isso: os empresários reunidos nesta semana com Pedro Passos Coelho no Congresso dos Industriais em Lisboa querem não só poder despedir sem quaisquer condições, como querem poder baixar o salário mínimo, reduzir unilateralmente os salários e as condições de trabalho, aumentar horários e impedir a organização de trabalhadores dentro das empresas. Os grandes beneficiários da crise e da austeridade querem poder realizar a exploração máxima, a níveis comparáveis apenas com o praticado na ditadura ou em pleno liberalismo do séc. XIX.
Foto - João Belard