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300812 formacaoPortugal - ACP-PI - Poderia dar-me por feliz se tal feito tivesse ocorrido por ter arranjado um emprego mas não, apenas acatei mais uma obrigação que o Centro de Emprego me impôs! Frequentar uma formação, e desta forma o meu novo estado oficial é “ocupada”.


Há uns meses atrás recebi uma carta do Centro de Emprego onde, numa página A4, uma frase complexa me informava que teria de me apresentar no Centro de Emprego para um “reajustamento no meu plano de procura de emprego”. Os restantes parágrafos dessa mesma página, intimidavam-me, informando sobre o que me poderia acontecer caso faltasse à tal convocatória.
 
Como desempregada do Concelho de Sintra, fui para aquele maldito Centro de Emprego e mais uma vez foi possível confirmar as centenas de pessoas que por lá passam, as histórias de vida tristes e, claro, esperar horas e horas a fio… Lá fui atendida e informada que teria que frequentar obrigatoriamente uma formação, uma nova medida imposta pela Governo, mas que esta seria de acordo com a minha formação e habilitações. Para tal teria que ir a uma sessão de “acolhimento” para me “dar a conhecer” e ser encaminhada para uma formação adequada para mim. A formação seria dada num dos Centros de Formação do IEFP, com direito a subsídio de alimentação, deslocação e certificado no fim. Uau! - pensei eu - uma formação gratuita, com direito a ajudas e certificado, muito fixe! 
 
Eu e mais 70 pessoas fomos “acolhidas” no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo anfiteatro. Para espanto da maioria foram apresentados 7 cursos num PowerPoint e fomos intimados a escolher um dos cursos no exacto momento! Afinal, não iríamos ter formação de acordo com as nossas habilitações ou experiência profissional mas sim de acordo com os cursos que existiam disponíveis no momento, pois já se sabe que no mês de Agosto a maioria dos formadores estão de férias… A escolha foi entre um curso de aprender a ler e a escrever, Word iniciado, Excel iniciado, fazer PowerPoints, e a maioria presente naquele anfiteatro começou a revoltar-se e a exigir cursos adequados às suas habilitações! Foi chamada uma senhora para apaziguar os ânimos que, do alto do seu estatuto, ou pelo menos deu a atender que o tinha assim que entrou na sala, informou-nos que teríamos que nos inscrever obrigatoriamente num daqueles cursos ou, em alternativa; poderíamos efectuar uma recusa, o que provavelmente nos levaria a perder o subsídio de desemprego, pois o IEFP não gostava muito de recusas e não aceitava quase nenhuma justificação. Os horários de alguns dos cursos apresentados eram inapropriados para quem tem filhos (tornava impossível ir buscá-los a amas e colégios), pelo que houve uma onda de revolta por parte das mães e pais presentes (é de salientar a quantidade de mães solteiras que se encontravam presentes!). Para acrescentar ainda mais revolta à revolta, todos os cursos iriam decorrer no mês de Agosto, mês por excelência de férias para a grande maioria das famílias portuguesas. Ora, com filhos de férias e marido/esposa de férias, se for desempregado não pode ir com a sua família pois tem de efectuar uma formação…
 
Depois de grande parte das pessoas presentes ficarem sentadas nas suas cadeiras e se recusarem a inscrever-se, foi criada uma nova turma de espanhol e aos poucos e poucos, cada um foi desistindo, levantando-se e efectuando a sua inscrição nas mesas à frente, instaladas para o efeito. Senti no peito: "mais uma vez eles venceram!" E sim… também eu desisti! Levantei-me e dirigi-me à mesa. Ao falar com a senhora na mesa de inscrição, ela informou-me que um dos cursos de informática que lá estava era mais avançado e que era de Access. Apesar de já ter feito um curso de Access não tenho o diploma do respectivo e como já há muito tempo que não pratico, pensei “porque não?” e achei por bem inscrever-me nesse curso!
 
E pronto! Lá fui eu ontem para o meu primeiro dia de curso… Sentei-me, a formadora fez a chamada (faltava quase metade das pessoas inscritas, "e ainda bem" – disse ela (porque senão não haveria sala nem computadores para a formação poder ocorrer!) e apresentou o curso! Mal dos males? O curso é de informática básica… Pus o dedo no ar e na minha ingenuidade disse: “disseram-me que este curso era de Access!”, a formadora riu-se e com um ar querido disse “não, vamos dar apenas Word e Excel básico, deve ter sido mal informada”. Pois… Realmente fui mal informada e a partir de ontem, todos os dias, 3h por dia, durante 3 semanas estarei no mesmo local à mesma hora, a receber formação de algo que eu própria tenho habilitações para dar. Falei com a formadora no fim para saber se poderia mudar de curso, disse-me que não era possível, que isto iria ser muito muito básico, mas que sempre poderia ajudar os colegas. 
 
Para além disso fomos informados que nas próximas apresentações quinzenais nas Juntas de Freguesia, provavelmente o nosso nome não iria estar no sistema, e não poderíamos efectuar a respectiva apresentação pois oficialmente já não somos desempregados mas sim ocupados! Talvez agora perceba esta medida do Governo, que é excelente para baixar os números das estatísticas do desemprego. Ah! É verdade…Nós “ocupados” não temos que fazer as apresentações quinzenais mas as provas de procura de emprego continuam obrigatórias!
 
Fomos informados também que durante as 50 horas do curso apenas podemos faltar a 3h, e que as faltas só têm justificação se forem de médico/hospital ou tribunal. Como desempregada que sou, o meu intuito é arranjar trabalho, e ficou a dúvida “então e se me ligarem para uma entrevista de emprego e esta for à hora da formação?”, pois bem a dúvida foi esclarecida e é surreal… Independentemente de qualquer entrevista que seja marcada, ninguém pode faltar mais que as 3h permitidas! Vale apenas no meio deste facto, o bom senso da formadora, que precária a recibos verdes para o Estado e tendo estado desempregada durante muito tempo e conhecendo bem a realidade das coisas, nos disse que não quer que ninguém falte a entrevistas ou que mude os horários das mesmas por causa do curso, que basta falarmos com ela na véspera e apresentarmos uma declaração posteriormente.
 
Ser desempregada em Portugal é sentir que o mundo gira contra ti, que és uma incapaz, uma inútil, uma preguiçosa, alguém que não faz nada da vida, uma delinquente que tem que ser controlada e chantageada ao máximo pelos serviços, de modo a efectuar todas as suas "obrigações", para assim poder receber o subsídio, que é seu por direito, e para o qual descontou durante anos a fio de trabalho!
 
SR, desempregada okupada.

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