A recessão não está apenas reservada a Portugal, com uma previsão de -3,3%, mas a vários outros países expostos ao regime da austeridade: Grécia (-4,7%), Espanha (-1,8%), Itália (-1,4%), Eslovénia (-1,4%), Holanda (-0,9%) e Chipre (-0,8%).
As metas para as contas públicas também não serão cumpridas, e o défice de que o governo falava (4,5% do Produto Interno Bruto) será excedido pelo menos em 0,2%. As previsões de hipotético crescimento para 2013, que o governo avançava na ordem dos 0,6% são novamente desinflacionadas pela CE para os 0,3%.
A Comissão Europeia confirma a hecatombe que ocorre em Portugal, aponta como principal (quase único) motor de actividade económica as exportações e a queda brutal da procura interna, do consumo e da deterioração do mercado laboral. Com os restantes países potenciais importadores dos produtos portugueses em fraquíssimo crescimento ou mesmo em recessão, resta saber em que cenário macroeconómico se baseiam os especialistas europeus para as suas previsões – exportações para a China e a Índia?
No que diz respeito a todos estes incumprimentos, Olli Rehn destaca que "O Governo está comprometido a atingir os objectivos orçamentais de 2012" e como as contas não estão a bater certo remata "espera-se uma execução orçamental mais rigorosa", i.e. –mais medidas de austeridade. Não há qualquer irracionalidade nestas aparentes contradições: simultaneamente a CE revê para pior todas as previsões do governo, depois louva-o pelo seu trabalho e pede mais austeridade: a questão não se põe sobre as previsões, a evolução macroeconómica, défices, desemprego ou crescimento – o único objectivo é a austeridade. E esse justificar-se-ia e reafirmar-se-ia quaisquer que fossem os dados. Porque há apenas uma coisa que governo e Comissão Europeia querem inflacionar: a Austeridade.
Foto: PI - Vitor Gaspar