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121217 RealizadoresPortugal - Esquerda - O esquerda.net entrevistou Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo, os cineastas que desde há sete anos trabalham num documentário sobre José Mário Branco. Para vencer a falta de apoios financeiros, lançaram-se na recolha de fundos online e com sucesso: a duas semanas do prazo final, já ultrapassaram 86% do valor pedido. Quem ajudar é compensado com várias ofertas, que podem incluir o filme. Não há data de lançamento prevista, mas há esperança em fazê-lo no primeiro semestre de 2013.


Para ultrapassar a falta de dinheiro e de apoios institucionais, optaram por uma plataforma de crowdfunding (numa tradução livre, será uma "vaquinha online") para recolher 7100 euros. No início esperavam atingir esse objetivo com a ajuda dos fãs do compositor?

N.G. - Sete anos é muito tempo, dá para nascer, aprender a andar e ir para a escola. O panorama actual do cinema português é um deserto. Nem Ministério temos. Quem é que trata do Cinema?? Tentámos de tudo, concursos públicos, apoios privados e nada. O apoio popular foi a última tentativa, e por sinal a solução. Juntos conseguiremos.

P.F. - Sempre acreditámos no povo e na importância deste filme, senão nem tínhamos incomodado as pessoas. O povo unido não pode ser vencido.

Após esses sete anos de rodagem, agora que os obstáculos financeiros estão quase ultrapassados, quando prevêem lançar o filme?

N.G. - Vamos a ver... Não depende só de nós. Da nossa parte precisamos de 3 ou 4 meses. Com tanta falta de dinheiro devido ao roubo dos vários des‐governos, se os apoios tiverem cobertura, é esperar que a Massivemov disponibilize o dinheiro após 30 dias do final da "vaquinha", para de seguida resolver as burocracias dos direitos autorais, terminar a rodagem e entrar na montagem.

P.F. - Depende. Primeiro teremos de ver se não haverá concessões económicas a fazer em relação a todos os arquivos que gostaríamos de usar, pois convém lembrar que o apoio Crowdfunding é uma grande ajuda, mas mesmo assim insuficiente para todos os gastos que nos esperam. Para não falar de algumas instituições que são lentas ou não nos respondem.

Talvez Abril? O povo tem apoiado como pode e não podemos pedir mais numa época de dificuldades como a atual. É pena que o dinheiro dos impostos não seja aplicado naquilo que as pessoas precisam, dá quase vontade de apelar às pessoas a não pagarem e a investir directamente nos projectos que lhes interessam. Continuo a acreditar que este filme apesar de tudo é uma "encomenda social" e urge deitá‐lo cá para fora quanto antes.

Como reagiu o José Mário Branco quando lhe propuseram a ideia de um documentário sobre a sua "vida e obra"? Ele foi acompanhando o vosso trabalho ao longo destes anos ou preferiu ficar mais distante?

N.G. - O JMB reagiu com surpresa. Não nos conhecíamos. Aparecemos em sua casa e fizemos o convite. Pediu uns dias para refletir, 2‐3 dias depois respondeu‐nos que sim. Não acreditávamos, como é possível?? Completamente desconhecidos, sem subsídios chorudos ou cunhas influentes, a partir dessa data metemos mãos à obra sempre com muitas dificuldades materiais e financeiras, eu em Lisboa e o Pedro em Paris. O JMB sempre esteve disponível.

P.F. - O Zé Mário apesar de toda a disponibilidade que sempre nos acordou, tem acompanhado de forma distante, confiando‐nos assim a história que temos para contar. Só temos de lhe agradecer por essa confiança, pois sabemos que não é fácil ser‐se filmado. Estamos conscientes da responsabilidade que é filmar a vida de alguém, sobretudo se esse alguém é um artista reconhecido publicamente e com uma vida recheada de lutas e esperanças representativas da história de um povo.

Dizem que "as suas canções escritas há mais de 40 anos se mantêm atuais". E na vossa viagem pelos arquivos de imagens dos anos 60 e 70, encontraram também alguns traços de atualidade na sociedade portuguesa?

N.G. - São evidentes. Olhemo‐nos ao espelho da Europa. Ordenado mínimo dos mais baixos da Europa. Vivemos de "Remendos e Côdeas". Olhamos à nossa volta e estamos num enorme deserto. A emigração, a falta de emprego, de educação, saúde, justiça... de VIDA! Não mudámos muito desde os tempos em que se cantava Paz, Pão, Saúde, Habitação.

P.F. - Ainda há pouco ao consultar os arquivos do INA encontrei Lisboa filmada em 1974 (antes do 25 de Abril)... sinceramente a cidade esta igual... com turistas a passear, o povo a olhar para as montras a ver o que não pode comprar... as mesmas fabricas do atraso industrial que este pais sofreu... enfim, para não falar de uma entrevista ao Marcelo Caetano e a um senhor apelidado de Pinto Balsemão em plena ditadura (a RTP não filmava estas coisas)... afinal são os mesmos que têm o poder mesmo depois da queda do Estado Novo. É triste mas Abril não serviu para nada. Quando não há liberdade de expressão não podemos dizer que vivemos numa ditadura, mas sabemos que a vivemos, agora podemos saber e gritar que vivemos numa ditadura e dizem‐nos logo uns tantos moralistas: "mas tens liberdade de expressão"...

Numa altura em que a crise e a pobreza alastram e as escolhas dos governos são determinadas pelo capital - os famosos "mercados" -, em que medida é que este documentário poderá de alguma forma servir de inspiração para a resistência social?

N.G - Ouço falar na crise desde pequenino. Isto está cada vez pior... aperta o cinto... não sei onde vamos parar... São expressões já gastas. Pessoalmente como cineasta e trabalhador a recibos verdes este filme está a custar‐me uma divida enorme à Segurança Social. É evidente que a crise social está na rua há muitos anos. Eu faço parte da (já esquecida) geração rasca. Protesto desde os meus 16 anos e com isso conquistei o quê?? Futuro Penhorado. Espero que neste filme nos vejamos ao espelho durante as últimas décadas. É preciso agir! É preciso viver! Celebrar a vida, vivida de pé. Celebrar a vida é revolucionário.

P.F. - Ao próprio José Mário Branco as editoras recusaram discos. O Ser Solidário foi produzido por uma pré‐venda do disco (crowdfunding da época). A prova é que esse álbum é um marco da nossa cultura. O artista resistiu à falta de apoios oficiais, mas sabia que o seu disco era importante e por isso contornou o obstáculo de forma alternativa. Do ponto de vista pessoal, acho que a grande bofetada que podemos dar nos que nos tentam meter de joelhos é simplesmente viver como se não houvesse crise (estamos em crise!?), e parar de nos submetermos ao Estado e suas instituições. Continuar a criar e a produzir sem esperar pela "oficialização" das obras. Há sempre quem queira destruir a felicidade das pessoas para manter um mesquinho poder económico, mas será que conseguirá sempre? Podem despejar quantas Es.Co.Las da Fontinha quiserem, podem deixar de financiar filmes, podem... podem... mas nós encontraremos sempre buracos para ocupar.

Esta vossa incursão pela chamada "música de intervenção" em Portugal deu-vos ideias para outros filmes? Ou os vossos projetos no imediato não passam por aí?

N.G. - Sim. Precisamos de uma espécie de New‐Deal no Cinema Português, documentar a realidade portuguesa. Captarmos e reflectirmos do que somos feitos. Afinal andamos aqui a fazer o quê?? Estamos aí, somos 10 milhões e meio, só precisamos de começar a filmar.

P.F. - Pessoalmente, há outros filmes em curso, mas tudo sem nenhum espírito "carreirista". Com tanta coisa por fazer, para quê ficar só a fazer filmes?

Entrevista por Luís Branco.


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