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Eva Golinger

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A emboscada dos EUA contra a Venezuela

Eva Golinger - Publicado: Domingo, 15 Novembro 2015 19:56

Operações clandestinas, investigações secretas, acusações criminosas, financiamento multimilionário, guerra psicológica e provocações militares. É a emboscada dos Estados Unidos contra a Venezuela.


Durante o último ano, o governo dos EUA gastou mais de 18 milhões de dólares em financiamento público para grupos antigovernamentais na Venezuela, alimentando o conflito no país sul-americano e mantendo viva uma oposição sem unidade nem apoio significativo. Apenas da Fundação Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy, NED) durante 2014-2015, quase 3 milhões de dólares foram entregues a organizações opositoras na Venezuela, focadas na campanha para as eleições parlamentares previstas para o próximo 6 de dezembro. Por exemplo, 125 mil dólares foram entregues ao grupo opositor Súmate, criado pela NED na Venezuela em 2003 para liderar um referendo revogatório contra o presidente Hugo Chávez. Agora esses 125 mil dólares estão financiando a iniciativa do Súmate em exercer influências sobre os membros de centros eleitorais a nível nacional durante as próximas eleições em dezembro, uma interferência flagrante. Outros 400 mil dólares foram entregues a um programa para “apoiar membros da Assembleia Nacional e o desenvolvimento de políticas”. E existem mais de 40 mil dólares dedicados a “monitorar a Assembleia Nacional da Venezuela”. Que direito tem um organismo estrangeiro de “monitorar” o corpo legislativo de outro país? Pior ainda é quando grupos internos recebem o dinheiro de um governo estrangeiro para espionar seu próprio governo.

As contribuições da NED para alimentar o conflito na Venezuela incluem também quase meio milhão de dólares (410.155 dólares) para “melhorar as capacidades estratégicas comunicacionais de organizações políticas através de meios alternativos”. Em particular, esta enorme quantidade de dinheiro está financiando o uso de redes sociais para projetar a visão antigovernamental em espaços que influenciem a nível internacional. Outros 73.654 dólares da NED foram utilizados para “fortalecer a capacidade técnica e promover a liberdade de expressão e direitos humanos através do Twitter”. E 63.421 dólares para “treinar sobre o uso efetivo de redes sociais e meios alternativos”. As redes sociais se converteram em um campo de batalha na Venezuela, onde todo o Estado como a oposição as utilizam para promover suas agendas. Não obstante, o dinheiro da NED revela que por trás da suposta oposição “independente” na Venezuela está o Governo dos Estados Unidos.

Não é coincidência que durante o último ano os EUA e seus aliados criticaram fortemente o Governo do presidente Nicolás Maduro por supostas violações de direitos humanos. São mais de 474 mil dólares fornecidos pela NED para financiar grupos opositores na Venezuela que “documentam e disseminam” informação sobre a “situação de direitos humanos”, incluindo a preparação de denúncias contra o Governo venezuelano em instâncias internacionais, entre outras tarefas. Quando um governo estrangeiro financia supostas ONG's para montar relatórios contra seus próprio governo com a intenção de desqualificá-lo a nível internacional, não é objetivo nem confiável.

Além dos milhões de dólares entregues pela NED, uma fundação criada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1983 para “fazer o trabalho que a CIA já não podia fazer publicamente”, o Departamento de Estado e sua Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) dedicaram mais de 15 milhões de dólares para a oposição na Venezuela durante o período 2014-2015. No Orçamento de Operações Exteriores do Departamento de Estado para o ano fiscal de 2016, que começou em outubro de 2015, estão destinados 5,5 milhões de dólares para “defender e fortalecer práticas democráticas, instituições e valores que apoiam os direitos humanos na Venezuela”. Segundo o orçamento já aprovado pelo Congresso, grande parte desses 5,5 milhões de dólares serão utilizados para “ajudar a sociedade civil a promover a transparência institucional, o processo democrático e a defesa dos direitos humanos”.

O uso do termo “sociedade civil” por parte do Governo dos Estados Unidos em referência à Venezuela significa “a oposição”. Essas mesmas agências estadunidenses também financiaram e apoiaram a chamada “sociedade civil” na Venezuela durante o golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez em abril de 2002, uma “sociedade civil” que utilizou franco-atiradores para matar pessoas inocentes a fim de derrubar um presidente democraticamente eleito e depois impor uma ditadura. Graças à verdadeira “sociedade civil” na Venezuela, mais conhecida como povo, essa oposição antidemocrática não conseguiu seu objetivo.

Missão especial de inteligência

Muitas das atividades do Governo dos EUA orientadas para a Venezuela se originaram em um escritório clandestino, criado em 2005 sob a reestruturação da comunidade de inteligência dos Estados Unidos. Nessa transformação da estrutura de inteligência, foi também criada a Direção Nacional de Inteligência, encarregada de coordenar as 16 agências de inteligência do Governo estadunidense. O primeiro diretor nacional de Inteligência, nomeado pelo então presidente George W. Bush, foi John Negroponte, um nome bastante conhecido na América Latina por seu papel nas guerras sujas na América Central nos anos 80 e seu papel principal no escândalo Irã-Contra.

Em resposta às recomendações da Comissão de Armas de Destruição em Massa e a Lei de Reforma de Inteligência e Prevenção do Terrorismo de 2004, Negroponte estabeleceu a figura de “missões gerenciais” para temas de alta prioridade estratégica e desafios de inteligência para os Estados Unidos. A Missão Gerencial para Cuba-Venezuela foi uma de apenas três missões dedicadas a países. As outras duas eram as missões para o Irã e a Coreia do Norte, inimigos declarados dos Estados Unidos. O fato de incluir a Venezuela em uma missão orientada para a luta contra as armas de destruição em massa e o terrorismo evidencia que é uma alta prioridade de segurança e defesa para Washington , ainda que fundamentada em conceitos absurdos e errôneos.

O primeiro encarregada dessa missão gerencial para Cuba-Venezuela foi o veterano da CIA Norman A. Bailey, um especialista nas táticas e estratégias de inteligência durante a Guerra Fria. Mas Bailey só durou um ano, e quando saiu confessou que o escritório estava quase abandonado, sem recursos nem pessoal. Não obstante, entrou um novo encarregado, Thimothy Langford, com sua carreira de mais de 25 anos nos serviços clandestinos da CIA, para renovar a Missão Gerencial Cuba-Venezuela e ativá-la novamente.

Documentos secretos parcialmente desclassificados revelam a importância dada à Missão Gerencial para Cuba-Venezuela desde a Direção Nacional de Inteligência dos EUA. Em um documento classificado como “ultrassecreto” (Top Secret), de 2008, o diretor de Inteligência destacava como uma meta chave a “identificação e controle de 'centros de excelência' para fornecer inteligência relevante, oportuna e autêntica sobre o Irã, a Coreia do Norte e Cuba-Venezuela orientada a fortalecer análise, coleta e exploração”. E também se apontava o começo de “uma campanha de planos contra programas e redes específicas no Irã, Coreia do Norte e Cuba-Venezuela”. No mesmo documento secreto, que é uma justificativa de orçamento de 2008, é feita uma referência à criação de um “Fundo de Iniciativas Cuba-Venezuela” para fomentar novas capacidades na comunidade de inteligência estadunidense para analisar, coletar e explorar informação relevante sobre ambos os países.

Outro documento ultrassecreto, parcialmente desclassificado do ano de 2009, revela uma estratégia da Missão Gerencial Cuba-Venezuela de “desenvolver análises sobre transições de liderança”, fazendo referência específica ao Plano de Transição à Democracia para Cuba, e as iniciativas para derrubar o governo de Hugo Chávez na Venezuela. Em um testemunho diante do Comitê de Inteligência do Senado dos Estados Unidos em 2009, Thimothy Langford fez referência às operações que estavam realizando a partir de seu escritório através do “Centro de Fusão de Inteligência” na Colômbia, um grupo de espionagem que une as capacidades da NSA, CIA, DEA e inteligência militar (DIA). Foi a partir desse centro que forças estadunidenses comandaram o ataque contra o líder das FARC, Raúl Reyes, violando território equatoriano em 1º de março de 2008.

Para o ano de 2011, a Missão Especial para Cuba-Venezuela ainda existia, embora a informação sobre suas operações e atividades seja, desde então, totalmente secreta. E ainda que seu orçamento não tenha sido desclassificado detalhadamente, em 2015 a Direção Nacional de Inteligência teve um orçamento acima de 53 bilhões de dólares. Como a missão especial dedicada à Venezuela foi uma das prioridades dessa Direção, sem dúvida foram investidos bilhões de dólares em suas operações.

Ao longo desses anos, houve múltiplas denúncias sobre atentados contra o Governo venezuelano, contra o presidente Hugo Chávez e, mais recentemente, contra o presidente Nicolás Maduro. Também houve dezenas de incursões não autorizadas de aviões de espionagem dos Estados Unidos, provocações que incrementaram as tensões entre ambos os países. Para alguns analistas, o falecimento do presidente Chávez causado por uma doença tão agressiva e abrupta é motivo de suspeita, ainda que até hoje não haja evidência para comprovar alguma teoria de assassinato.

Alerta

Durante as últimas semanas, na véspera as eleições parlamentares do dia 6 de dezembro, se intensificaram os ataques contra a Venezuela na grande imprensa mundial. Reportagens sem fundamento nem evidência seguem saindo em meios como “The New York Times”, “The Washington Post”, “The Wall Street Journal” e outros, acusando figuras e instituições chaves do Governo venezuelano de corrupção, atividades ilícitas, lavagem de dinheiro, mal uso de fundos, narcotráfico e violações de direitos humanos. Na maioria dos casos, não há nenhuma prova apresentada para evidenciar essas graves acusações, mas o impacto midiático é muito efetivo.

Todos esses milhões de dólares investidos no fomento de um conflito interno na Venezuela e em operações clandestinas dos serviços de inteligência de Washington que estão dedicadas a desestabilizar o país indicam algo fudamental: é preciso estar alerta. Há investigações em marcha e montagens preparadas que já estão esperando o próximo que caia na armadilha. Qualquer espaço cedido será tomado. Qualquer um que se equivoque ou abuse de seu poder sem retificar põe em risco a continuidade e credibilidade da Venezuela soberana e independente. O jogo é sério.

Não se pode esquecer nunca que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do planeta e sempre será alvo dos mais poderosos interesses do nosso mundo. É hora de cerrar fileiras, de não se deixar distrair por intrigas, agoísmos, cobiças e armadilhas. O objetivo por trás dessas emboscadas não é a pessoa que caia, o objetivo final é a Venezuela.

Fonte: RT.

Tradução do Diário Liberdade.


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