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Guillermo Almeyra

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Os governos da América Latina depois de Chávez

Guillermo Almeyra - Publicado: Segunda, 13 Mai 2013 00:45

Do ponto de vista dos governos e das instituições, as mudanças na América Latina produzidos pelo aparecimento de Hugo Chávez são importantes, porém, fundamentais.


O processo revolucionário venezuelano está mais débil e, por conseguinte, seus adversários estão mais fortes; porém, se a direção do Estado e do PSUV decidisse radicalizar e aprofundar a transformação do país apoiando-se em suas bases, se reduzisse os desperdícios e melhorasse a distribuição de alimentos e bens, a mudança social poderia dar um novo salto adiante, já que o rápido restabelecimento atual do consumo e da produção nos Estados Unidos –o principal mercado venezuelano- dá certa estabilidade ao preço do petróleo.

Por outro lado, sobre isso se baseiam as seguranças dadas pelo governo de Maduro a Cuba, a Alba e ao Caribe contra o critério da direita venezuelana contra a 'distribuição indiscriminada' de petróleo e de apoios financeiros aos aliados da Venezuela e das mesmas concessões nesse plano que a direita do próprio chavismo quer fazer à direita antichavista.

No Brasil, ao mesmo tempo, ante as próximas eleições em 2014, a direita não parece ter nem candidato e nem possibilidades de vitória; a economia está mais equilibrada e o governo conta com o apoio das transnacionais, do agronegócio e do grande capital nacional aos quais tem feito grandes concessões e não enfrenta fortes protestos sociais.

No Uruguai, ao contrário, existe a possibilidade de que Tabaré Vázquez, a direita da Frente Ampla, seja o novo presidente, o que debilitaria os laços com o Brasil (e com a Venezuela), agravaria as tensões com a Argentina e fortaleceria uma tendência a aproximar-se aos Estados Unidos e a tentar formar um bloco muito moderado na Unasul; porém, essa mudança seria gradual e quantitativa, não qualitativa. No Paraguai, o novo governo Colorado de Horacio Cartes, corrupto e de direita, está por seu lado, muito ligado ao Brasil e não poderá manter a oposição ao papel da Venezuela no Mercosul nem opor-se eventualmente à entrada do Equador e da Bolívia.

Quanto ao Peru, o moderado Ollanta Humala continua sob o fogo direitista de Alan García e do fujimorismo e tem o problema fronteiriço com o Chile, o que, unido ao crescimento econômico, permite pensar que no imediato manterá sua política.

Na Colômbia, o presidente Santos mira com um olho o que acontece na Venezuela, tentando não comprometer-se com a direita desse país e de manter o comércio fronteiriço; com o outro, vigia a sabotagem constante feita pelo ex-presidente Álvaro Uribe e a extrema direita e tenta contrapor com as negociações de paz com as guerrilhas e com promessas vagas de reforma agrária.

No Equador, Rafael Correa se firmou muito frente à direita com seu controle da Assembleia e a oposição social de esquerda está mais débil do que nunca, o que lhe dá um bom campo de manobra para um progressismo oficial de tipo social-cristão.

Na Bolívia, a direita não está em condições de enfrentar ao governo de Evo Morales que, pelo contrário, encontra oposição nos movimentos sociais; porém, conseguiu progressos para a economia em geral.

O mais interessante no continente está acontecendo no Chile, onde as lutas indígenas, as greves e o constante movimento estudantil pela educação leiga, estatal e gratuita coincidem com a candidatura presidencial de Michelle Bachelet (apesar de que não a apoiam). Eles acabam empurrando-a e também ao Partido Socialista mais para a esquerda.

Para um futuro próximo é previsível uma Unasul mais moderada, um atraso nos planos integracionistas promovidos por Chávez e um Mercosul ainda mais limitado e com muitos conflitos internos, onde o Brasil pesará mais do que no passado recente e a Venezuela pesará menos; porém, não são previsíveis mudanças dramáticas, apesar dos pontos críticos venezuelanos e argentinos.

De fato, finalmente, tudo depende de para onde se inclinará a balança na luta para aprofundar o processo democrático venezuelano, dar golpes reais ao capitalismo, construir elementos de autonomia e de autogestão, reforçando as comunas e os germens de poder popular. Para derrotar a direita oligárquica e pró imperialista, têm que vencer a burocracia, o centralismo autoritário, o verticalismo decisionista. Esse é o desafio para o próximo período e do desenlace dessa batalha depende para onde irá a Venezuela, se para o passado préchavista ou para a construção de elementos socialistas.

A Argentina também enfrentará um processo eleitoral significativo em outubro próximo e a renovação presidencial dentro de um ano e meio. 54% dos votos obtidos por Cristina Fernández ficaram no passado e hoje o governo pode ficar contente com 35-40%, o que lhe permitiria ser, de todos os modos, a primeira maioria frente a uma oposição dispersa e conservar a maioria no Parlamento. A eleição presidencial aparece complicada, já que é difícil que o governo obtenha a maioria parlamentar indispensável para renovar a Constituição, de modo a permitir uma terceira eleição de Cristina Fernández e não conta atualmente com outro candidato. Além disso, o ajuste econômico não confesso provoca choques com os sindicatos e irrita a oposição tão violenta, primitiva e insaciável como a venezuelana; porém, mais desunida do que esta. A chave do problema na Argentina é que o legítimo protesto social contra a corrupção, o autoritarismo e a redução dos salários reais não encontra uma expressão política positiva. Como tratarei de analisar no próximo artigo, o fundamental é, portanto, o atual grau e a evolução futura da consciência e da organização dos movimentos sociais e a independização de uma esquerda anticapitalista dos confusos movimentos nacional-populares que chegaram ao seu limite.


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