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Atilio Borón

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Em coluna

A “estratégia guerrilheira” da direita na Venezuela

Atilio Borón - Publicado: Sexta, 10 Mai 2013 17:53

Encorajado pelos resultados das recentes eleições na Venezuela, a direita do país - tanto seus representantes autóctones como os agentes do imperialismo que operam na Venezuela - aprofundou uma estratégia de luta política que, de fato, colocou o governo chavista na defensiva ou, pelo menos, em um estado de alerta diante das ameaças ao futuro da Revolução Bolivariana.


Dói dizer isso, mas seria mais dolorido contemplar o inesperado e dramático final de um processo revolucionário tão significativo como o lançado pelo Comandante Hugo Chávez por não se ter adotado medidas corretivas imprescindíveis para preservá-lo. A irreversibilidade é um atributo que possuem muito poucos processos revolucionários, isso depois de haverem sido observados através das mais duras provas da história. Não é o caso, contudo, da Revolução Bolivariana, embora a existência de uma ampla rede de organizações populares nascidas durante o governo do Presidente Chávez possam muito bem ser os bastiões fundamentais que assegurem a continuidade do processo revolucionário.

Todos os clássicos do marxismo - começando neste tema específico por Engels e seguido por Marx, Lenin, Trotsky, Gramsci, Mao, Ho Chi Minh e, mais recentemente, Fidel e Che - compreenderam muito bem o notável paralelismo existente entre a arte da guerra e a luta política. Nenhuma diferença lhes era imperceptível, mas também as suas semelhanças não passavam despercebidas; deste modo, tomavam nota dos ensinamentos da história militar. Eles observaram, por exemplo, que quando uma força social e numericamente inferior quer atacar um exército poderoso e bem organizado, deve apelar para formas não convencionais de luta. As táticas de guerrilha são precisamente isso: ataques inesperados, surpreendentes, pontuais, seguidos por uma rápida retirada, deixando no campo de batalha um inimigo debilitado e, sobretudo, desmoralizado. Isso é precisamente o que, com muita astúcia (e absoluta falta de escrúpulos), vem fazendo a direita na Venezuela ao lançar uma torrente de ataques - desde denúncias e agressões verbais até sabotagens econômicas, assaltos a locais associados ao PSUV ou aos centros de saúde da "Misión Bairro Adentro" e "assassinatos exemplares" - com o objetivo de enfraquecer o entusiasmo e a moral revolucionária das forças chavistas, o que se refletiu na votação do 14 de Abril.

A eficácia dessas táticas se comprova ao constatar que elas tornaram possível que a direita lograsse o que até há pouco tempo pensava como sendo impossível: estabelecer a agenda política nacional e obrigar o governo bolivariano a ter que responder aos ataques de seus adversários, sem poder impulsionar iniciativas próprias e concretas. Já faz alguns anos que os intelectuais orgânicos do império e os estrategistas do Pentágono vem dizendo que, neste momento, "a luta antisubversiva se trava nas mídias". A estratégia da direita na Venezuela é tributária dessa nova concepção adotada por Washington e dá testemunho de sua eficácia.

O que pretende a direita com essas táticas? Estas, como se sabe, não existem num vazio, mas sempre se articulam em uma estratégia de mais largo alcance. Neste caso, estas foram concebidas para minar o respaldo dos setores populares ao governo, isolando-o de sua base tradicional de apoio e facilitando seus planos desestabilizadores, em qualquer de suas duas variantes: (a) "esquentamento das ruas", tumultos, saques e golpe de Estado para "restaurar a ordem" que supostamente o governo bolivariano já não pode mais garantir; ou (b) desgaste prolongado e destituição do governo via referendo revogatório. Estratégia global esta que será tanto mais exitosa quanto mais o governo persista no erro de recorrer ao desafio astutamente lançado pelos setores contra-revolucionários e busque travar combate no terreno midiático conforme propõem os seus inimigos. Nestes dias temos visto o próprio presidente Nicolás Maduro envolver-se nessas batalhas verbais - na campanha e depois dela - em resposta às insolentes provocações de Henrique Capriles e seus comparsas domésticos e do exterior.

Não deveria ser assim, pois a delicada correlação de forças que existe hoje na Venezuela não se modificará em uma direção favorável ao chavismo em virtude da eficácia discursiva do presidente, dos seus ministros ou líderes do PSUV, mas sim pela capacidade que demonstre o governo para reorganizar e revitalizar um pesado e ineficiente aparelho estatal, hiperburocratizado e com indisfarçáveis focos de corrupção. Sem isso, mal se poderá atacar os principais problemas que afligem a população venezuelana e provocaram a deserção de uma parte do eleitorado chavista: a carestia e demais aspectos concernentes à economia, como o desabastecimento de produtos essenciais, por exemplo; os cortes de energia elétrica e a insegurança pública, dentre outros. Consciente disso, a direita descarrega uma enxurrada de ataques, como na guerra de guerrilhas, distraindo sem cessar o exército regular - neste caso, o governo -, dificultando que este possa se concentrar nas tarefas cruciais exigidas pela atual conjuntura. O que a direita deseja é que ele fique atolado no estéril terreno da polêmica e da discussão, evitando deste modo dedicar seu pessoal e seu tempo para projetar e implementar políticas eficazes para resolver os problemas que afetam os cidadãos.

Disso tudo se compreende que o governo do presidente Nicolás Maduro tem que lançar uma contra-ofensiva política, centrada no terreno das políticas públicas, ignorando as provocações e os insultos que proferem os partidários da direita e neutralizando desta maneira as sua táticas agressivas que, deve-se esclarecer, procuram ocultar o caráter reacionário de sua agenda com as declarações demagógicas e enganosas que expressam seu desejo de apropriar-se dos "aspectos positivos" do legado de Chávez. Deve, por isso, concentrar todos os seus recursos humanos e institucionais na batalha contra os problemas acima mencionados, sem perder um minuto em enfrentamentos verbais que em nenhum caso servirão para consolidar - e muito menos ampliar - sua base de sustentação na sociedade e em meio ao eleitorado.

E o governo bolivariano também deve estar ciente de que, nesta conjuntura pós-eleitoral, o tempo joga contra. Deve estar ciente de que a direita tenta criar um clima de opinião pública que abra espaço para ensaiar sua intenção golpista, seu plano máximo, ou que lhe faculte a chance de exigir um referendo revogatório que poderia ter lugar em cerca de três anos. Sabendo-se também que, se a gestão governamental não consegue resolver, pelo menos parcialmente, os problemas acima mencionados, a Revolução Bolivariana poderia re-editar o infortúnio que se abateu sobre o Sandinismo, que dez anos depois de sua vitória épica contra a tirania de Anastasio Somoza (h) foi derrotado inapelavelmente nas urnas por uma coalizão restauradora promovida, organizada e financiada - como se faz hoje na pátria de Bolívar e Chávez - pelo imperialismo dos EUA.

Ainda se está em tempo para impedir tão triste fim na Venezuela, mas é preciso colocar as mãos à obra imediatamente e desenhar uma nova estratégia de reconstrução política que permita ao chavismo recuperar a iniciativa e passar para a ofensiva. Isto significa travar o combate contra a direita no terreno escolhido pelo governo e não naquele que for preferido pela oposição: o malicioso pântano dos meios de comunicação. Com relação a isso não podemos senão celebrar a recente criação da "Misión Eficiencia o Nada", concebida para velar pela correta administração da coisa pública e lutar contra os focos de corrupção e burocratização que corroem a partir do interior a vitalidade da revolução. Além disso, será necessário que o presidente continue com sua acertada política de recuperar novamente as ruas, hoje disputadas pelas mobilizações da direita. Isto significa aproximar-se mais do povo, melhorar a comunicação com este, escutar suas demandas e atender suas reivindicações, atitudes indispensáveis para desbaratar a estratégia da "guerrilha midiática" seguida pela direita. Sendo consciente, além disso, de que aquilo que Chávez poderia resolver graças à sua liderança carismática hoje deve ser resolvido mediante uma gestão estatal eficiente e socialmente inclusiva, livre de todo desvio tecnocrático e capaz de produzir resultados imediatos. Uma gestão, além disso, que estreite os vínculos com os governos locais e que conte com um elenco de idôneos servidores públicos capacitados para dar resposta imediata às reivindicações da sociedade.

No Equador, por exemplo, o Sistema Quipux é um serviço via internet que o Presidente Rafael Correa instalou em todas as agências governamentais para facilitar um enlace direto com seu escritório e o do vice-presidente, permitindo assim que estes possam monitorar em tempo real o andamento dos diversos projetos do governo, conhecendo seu grau de avanço e seus obstáculos, de modo tal que possam ser tomadas sem demora as medidas corretivas que sejam pertinentes. Isto não é uma panaceia mas, sem dúvida, vai facilitar o necessário, inadiável salto de qualidade que tem que se produzir na administração pública da Revolução Bolivariana para fazer frente aos inéditos desafios do momento atual.


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