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Guillermo Almeyra

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Venezuela: O perigo imediato reside na direita chavista

Guillermo Almeyra - Publicado: Quarta, 17 Abril 2013 13:36

Nicolás Maduro definiu como seu objetivo recolher os votos de Hugo Chávez e inclusive superá-los chegando a 10 milhões, mas obteve somente 7.505.338, perdendo 600 mil votos em relação à última votação obtida por Chávez e ganhou por cerca de 300 mil votos com 50,6 por cento contra 49,07 de Henrique Capriles.


A abstenção cresceu muito pouco, pois passou de 20 para 22 por cento, o que demonstra que a maioria dos 600 mil votos que Maduro perdeu foram diretamente para a oposição que, imitando Chávez e disputando o seu legado, conseguiu arrastar um sector de classe média dantes chavista e inclusive sectores operários.

A campanha de Maduro foi muito pobre: grande exibição de retórica nacionalista a que Capriles respondia cobrindo-se com a figura de Bolívar e com a bandeira, nenhuma ideia sobre o aprofundamento do processo social e, menos ainda, sobre o socialismo, apelos repetidos à lealdade (dirigidos em parte à luta interna no aparelho estatal) e não à iniciativa e auto-organização populares, silêncio sobre os organismos de poder popular e uma mistura de religiosidade com misticismo (o famoso passarinho). A campanha de Capriles, mentirosa e insidiosa, foi mais hábil porque fez questão de diferenciar Chávez dos seus sucessores e de atacar estes mencionando continuamente os privilégios, a corrupção e os negócios da boliburguesia1 e calando-se sobre os seus planos e os seus contactos com o imperialismo. Os votos chavistas que ganhou e os que foram para a abstenção não foram, no entanto, votos de esperança, mas uma expressão de protesto face à inflação de 20 por cento, que devora os salários, e face aos efeitos negativos nos setores populares da desvalorização, assim como da delinquência, da violência, da corrupção e, tal como se viu no enterro de Chávez quando aqueles que iam para a câmara ardente obrigaram os ministros a descer dos seus luxuosos automóveis e a caminhar com eles, também aos privilégios de muitos funcionários.

Capriles insiste agora numa recontagem dos votos, apesar do roubo de boletins ser impossível na Venezuela. O governo dos Estados Unidos, que se calou perante as confusões eleitorais em 1988 e em 2006, apoia Capriles e prepara o golpe de Estado disfarçado de campanha de democratização e de moralização. Washington e a direita antichavista constroem agora laços com a direita do chavismo e com o setor mais conservador das forças armadas e depois vão impulsionar uma campanha que combinará sabotagens, fugas de capitais, campanha da imprensa destrutiva, lock-outs patronais, manifestações estudantis procurando vítimas e suborno a personalidades civis e militares nos meios oficiais.

O perigo imediato reside portanto na direita chavista que interpretará a escassa margem de votos, que permitiu que o chavismo continue a governar, como um sinal de que há que parar o ritmo do processo e negociar com a oposição, fazendo-lhe concessões.

Mas se as 1.600 empresas expropriadas funcionam mal, não há que as privatizar novamente, mas, pelo contrário, administrá-las bem e sob controle dos seus trabalhadores. Se os organismos de poder popular funcionam a meio gás, não há que os eliminar: pelo contrário, há que deixar de os controlar a partir do aparelho estatal e de os asfixiar e dar-lhes mais responsabilidade. Se há uma grande delinquência, que o controle e a organização nos bairros a combata com todos os meios necessários e não uma polícia corrupta e corruptível. Os direitos democráticos estão assegurados pelo referendo revogatório, mas para dar uma saída política positiva ao descontentamento e tirar base ao golpismo com face "democrática" a revogação dos mandatos deve estender-se a todos os cargos públicos. Em vez de proibir as greves e reprimir os sindicatos e os trabalhadores, há que discutir com eles em plena igualdade. Em vez de transformar o socialismo numa palavra propagandística vazia há que discutir publicamente, sem nenhuma restrição e com todas as pessoas, quais devem ser as medidas que ajudem a prepará-lo, como evitar a burocracia e a corrupção com a participação consciente e organizada de operários, estudantes, intelectuais. Em vez de embelezar a realidade, há que mostrar a tempo as dificuldades para as corrigir. Em vez do paternalismo e da lealdade ao comando há que desenvolver a iniciativa, a criatividade, a inovação, a crítica, a construção de cidadania.

Maduro prometeu aumentos de salários em massa e imediatos que não poderá deixar de cumprir sem pagar um custo político. Mas com uma inflação muito forte, carências de alimentos e matérias-primas, mercado negro, redução dos rendimentos reais, esses aumentos quando muito compensarão em parte a perda do poder de compra. A Venezuela não pode depender só do preço do petróleo: deve produzir e elevar a sua produtividade. Há que aplicar as medidas que permitam terminar com a ineptidão ou a corrupção nos aparelhos administrativos e que favorecem os grandes importadores e há que formar rapidamente jovens administradores e técnicos eficientes e inovadores. É necessário igualmente aprender com o passado e, em vez de se guiar por uma imagem deformada e mítica da experiência peronista, aprender a sério por que é que Perón levou nos anos cinquenta a economia argentina a um beco sem saída e foi derrotado e por que é que, nos anos setenta, voltou a repetir-se essa política nefasta e abriu-se o caminho a uma ditadura de direita feroz. Que a história latino-americana e do socialismo se discuta sem tabus nem limites é fundamental, porque sem aprender com o passado não se pode preparar o futuro. Face à imprensa golpista há que estimular a criação de uma imprensa de esquerda, de sindicatos, grupos, organizações: se ela critica algumas medidas do governo, isso permitirá corrigi-las se for necessário ou, pelo contrário, convencer os críticos de que estão equivocados. Numa palavra, para reduzir o alcance do golpismo em marcha e derrotá-lo, não há outra via senão apelar aos trabalhadores e aprofundar o processo.

Tradução de Carlos Santos.


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