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Ilka Oliva Corado

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Crónicas de uma inquilina

Hillary Clinton, o seu falso feminismo e os indocumentados como uma carta-curinga na sua candidatura

Ilka Oliva Corado - Publicado: Quarta, 27 Mai 2015 13:55

[Tradução de Camila Lee para o DL] Não causou nem a mínima surpresa a notícia do lançamento da candidatura de Hillary Clinton para a presidência, pois este caminho foi preparado por Obama. Num momento dado, ele representou um passo adiante na questão de equidade no país, do basta ao ódio racial, estratégia muito bem utilizada e que deu os seus frutos. Agora é a vez dela, sob o manto do feminismo e de que nos Estados Unidos já é hora de ver a uma mulher no cargo da presidência.


Tem muitas cartas a seu favor. A primeira: o seu falso discurso feminista que a converteu em praticamente um ícone. Hillary Clinton vem preparando a tática desde que Obama chegou à presidência. Ela soube muito bem que alcançaria as massas se utilizasse a equidade de gêneros, de justiça e de consciência. De repente viaja por todo o mundo acudindo a eventos de causas humanitárias e fala de combater a violência sexual. É claro que a denuncia é mais do que bem-vinda e que a opressão e a violência que nós, mulheres, vivemos ao redor do mundo devem ser vistas, Porém, o "x" da questão não é esse, aqui o assunto é que essa falsa consciência lhe serviu de plataforma. Não se deve esquecer a sua postura como primeira-dama quando o seu marido, Bill Clinton, foi presidente dos Estados Unidos. A humilhação de uma infidelidade pública. Foi obrigada a engolir este fato e jogar o papel de esposa compreensiva que entende os deslizes de um homem porque é homem. Quanto estava em jogo para que não exigisse o divórcio? Por acaso desde daquele acontecimento teve na mira a candidatura e, por isso, um divórcio lhe custaria muito caro em matéria de projeção diante de uma sociedade de dupla moral?

Ela é membro do Partido Democrata que invadiu o Vietnã, quem não se lembra das mortes de milhares de pessoas por causa do agente laranja? Foi o mesmo que deu o sinal verde para as invasões ao Iraque e ao Afeganistão e que declarou a Venezuela, através de Barack Obama, como uma ameaça para os Estados Unidos. Que tipo de mulher feminista se filia a um partido que está implicado em tanta morte? Ela mesma apoiou a invasão ao Iraque. Nos seus discursos, Hillary Clinton fala de combater a opressão contra a mulher, mas, para isso, teria de enfrentar o sistema que ela mesma representa. Duplo discurso? Para acabar com a opressão, é necessário terminar primeiro com o capitalismo. Como ela poderia atacar algo do qual se está beneficiando? Pelo momento — e penso que continuará assim porque o gênero e o feminismo são as suas cartas de apresentação e o auge da sua campanha política —, a veremos todos os dias em anúncios publicitários, rodeada de mulheres de todas as cores, etnias, nacionalidades e idades. Seria maravilhoso que os Estados Unidos desse espaço às mulheres para os altos cargos públicos, como a presidência, mas Hillary Clinton não é a opção. Ela é falsa, oportunista e capitalista até a morte.

Obama deixou preparada para ela a carta-curinga do tema dos indocumentados. O dia 19 de maio era para ter entrado em vigência a Ação Executiva. Porém, continua detida nas Cortes do país, pretexto perfeito para que os candidatos à presidência usem essa ferramenta fundamental para ganhar com o voto dos latinos. Serviu para Obama subir ao posto de presidente e também servirá aos candidatos da vez, pois nós, os indocumentados, somos a carta-curinga eleitoral de sempre. Somos os enganados. Nos seus discursos políticos, ela fala de uma Reforma Migratória que inclua a cidadania, o mesmo que disse Obama, e este já está às portas de terminar o seu mandato e deixou os indocumentados pior do que antes, pois lhes fez sonhar e lhes defraudou, cravando neles um punhal pelas costas.

Tem caráter para a oratória e é muito precisa nos seus discursos, é muito fácil acreditar nela, assim como acreditamos em Obama. Um por ser negro, outra por ser mulher O tema da equidade jogou a favor de ambos. No caso de Hillary Clinton, o tema da descriminação por gênero não vai, ela o tem a seu favor.

Foi vista em reuniões com grupos de estudantes latinos que foram parcialmente beneficiados com o programa DACA1 e lhes prometeu fazer da Reforma Migratória uma realidade. Desperta o entusiamos nos jovens e nas mulheres, os quais a veem como uma opção. O certo é que Hillary Clinton leva uma enorme vantagem com respeito aos seus oponentes por causa do seu falso discurso feminista, pois os Estados Unidos precisam de uma mulher na presidência e apóiam a Reforma Migratória. Novamente (como Obama), provavelmente conseguirá o voto latino e o de muitas mulheres que a admiram pela sua postura feminista, a sua energia com a juventude e a sua promessa da Reforma Migratória.

Não acredito que o descontentamento que tenham os Republicanos com Obama a prejudique, como muitos expuseram pois, ao final das contas, o partido Democrata demonstrou que é tão totalitário quanto o partido Republicano. A diferença está em que tem lábia e delicadeza para cravar a estocada. Aí está o exemplo de Obama, quem continuou mandando ordens para invadir o Iraque, quem agora declara a Venezuela como uma ameaça e quem teve a ver com a tentativa de desestabilização dos governos de Cristina Kirchner e de Dilma Rousseff. Quem apoiou o golpe de estado em Honduras. Quem não autoriza a retirado do bloqueio a Cuba. Quem está enchendo de soldados a América Central, o Peru, a Colômbia e o Paraguai. Que não nos surpreenda que, após a sua vitória, Hillary Clinton autorize uma invasão à Venezuela e que queira arrasar com a Argentina, o Equador, o Uruguai, a Bolívia e o Brasil. Existem muitas coisas cobrindo a sua falsidade de mulher e como ser humano, muitas mais!

Ilka Oliva Corado @ilkaolivacorado.

23 de maio de 2015

Estados Unidos

Nota de tradução:

1O DACA (acrônimo de Deferred Action for Childhood Arrival ou Ação Diferida para os Chegados na Infância) é um programa lançado pelo presidente Barack Obama em 2012 que pretende fornecer a residência temporária para jovens imigrantes sem documentos que chegaram aos Estados Unidos até os 16 anos antes de junho de 2007.


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