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Lara Soto

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Letras em Lilás

As galegas já somos “maiores de idade”

Lara Soto - Publicado: Domingo, 12 Janeiro 2014 00:21

Dedicado no 106 aniversário de seu nascimento a Simone de Beauvoir, fundadora da Liga dos Direitos da Mulher.


Pego na primeira folha em branco e venhem à minha cabeça dezenas de motivos com que encher um número incalculavel de folhas... depois penso se verdadeiramente vale a pena investir tanto tempo em engrossar a informaçom que “pulula” polo ciber-espaço (e digo tanto, porque quando som milharess as ideias que assaltam a tua cabeça que quase parece um quadro naïf deves reler continuamente e ver se és capaz realmente de as plasmar de maneira singela e entendível), ou se ao contrário seria melhor estar dia e noite na rua sem ler já nada mais, berrando, colando cartazes, incomodando aqueles que nom nos querem ver nem ouvir. E sem medo a equivocar-me acho que ambas devem ir da mao, daí que decidisse fazer aqui um pequeno percurso sobre porque é que devemos e deveremos estar nas ruas.

Primeiramente, devo apontar que realmente acredito nesse dito de “ano novo, vida nova”, aliás, acho que deve ser quase como um roteiro para as feministas galegas; deixar atrás um 2013 em que as violências machistas de todo o tipo infringidas polo governo espanhol principalmente com o selo do PP, os seus meios de comunicaçom e a sua burguesia provocavam que as redes sociais se enchessem de insultos e proposiçons que nunca fôrom avante. E assim começar um 2014 em que os nossos enfados se fagam sentir verdadeiramente, em que ensinemos os dentes, um novo ano que cubra as cidades, vilas e povos de grandes marés lilás de fouces e martelos para destruirmos o que nos oprime e construirmos o que nos corresponde, umha Galiza livre e igualitária.

Por isso, sem nengumha dúvida, este pode ser um bom momento para apresentar o que está por trás de todo isso que aprendemos nas relaçons pessoais, sexuais, na educaçom, nos meios de comunicaçom, nos livros, na publicidade, nas linguagens, na pornografia, no silêncio... em absolutamente todos os ámbitos da nossa vida, da nossa cultura, das nossas tradiçons; o patriarcado fai parte da nossa realidade, determinando-a, o patriarcado é o nosso companheiro de viagem, esse contra o qual diariamente deveremos de luitar no interior dos demais ou inclusive no nosso próprio.

É claro que nom, nom foi, nem é tarefa fácil tombar um gigante que leva desde os princípios da huminade a desenvolver-se e ganhar forma, um gigante que bem se soubo adequar aos tempos e ritmos e que alicerçou na nossa invisibilizaçom continuada e no desenvolvimento de teorias para o nosso submetimento, um bom trabalho com que quase conseguírom a desapariçom da nossa história graças à ocultaçom e, portanto, ao esquecimento popular das nossas luitas. Assim, desde finais do século XIX e durante o século XX, as mulheres nom com pouco esforço e sempre acompanhadas de agressons, prisom, violências e até assassinatos, conseguimos avanços na igualdade formal, pondo assim de manifesto o caráter estrutural do patriarcado, que nesta sua última etapa foi sobrevivendo com o reforço de mitos (como a construçom do binómio genérico homem-mulher) ou com a sua melhor “vaza”: a opressom material (diferença salarial, tripla jornada laboral...).

Duas faces da mesma moeda, isso encontrou o patriarcado no capitalismo e ao invés, a conjunçom perfeita para o seu crescimento, desenvolvimento e mesmo aperfeiçoamento. Assim podemos facilmente fazer umha simples listagem do que este casal leva significando para nós nos aspetos mais visíveis quanto a manifestaçons socioeconómicas:

  • Reduçom do papel social para a mulher a determinados estereótipos.

  • Conseqüência do anterior, nasce a dupla e inclusive triple jornada laboral (trabalho remunerado, trabalho doméstico e trabalho do cuidado)

  • Falta de independência económica devido a diferenças salariais, trabalhos precários ou até nom remunerados.

  • Divisom do trabalho segundo género que se transforma na valorizaçom dos campos altamente masculinizados.

  • Cousificaçom dos nossos corpos, convertendonos em objeto de uso e desfrute dos homens.

  • Perda na ocupaçom de lugares públicos derivada das responsabilidades do cuidado de terceiros.

  • A violência fisica, o assédio sexual, a violaçom e assassinatos machistas.

  • A gravidez e o aborto.

  • A prostituiçom.

  • Umha realidade social que nom fica aí, num problema de rua, do trabalho ou dos centros comerciais, é umha realidade com que cada dia caminhamos, que nos afeta e que provoca numha alta percentagem de mulheres cousas como a falta de autoestima, a limitaçom de expetativas de logro, medo à liberdade, insatisfaçom permanente, sentimentos de debilidade e insegurança e assim um longo et-cétera com que, senhoras, levamos séculos luitando. Por isso que acredito firmemente que a menor pegada da continuidade de luita é em si já umha vitória, pois significa que continuamos irredutíveis, que continuamos a tirar fora a cabeça para colher ar e novamente remamos contracorrente.

    Crescemos rodeadas de umha educaçom que nos elimina da história, no seio de umha estrutura de família criada para exercer de correia transmissora dos estereótipos, com o fomento destes mesmos estereótipos através dos meios de comunicaçom e da publicidade, rodeadas de umha ciência, literatura, arte e tecnologia impregnadas dos valores masculinos, rodeadas de umha religiom machista e misógina, rodeadas de contras que nos oprimem, nos dominam e nos exploram.

    E assim chegamos as mulheres trabalhadoras galegas ao 2014, como muito bem definiu Simone de Beauvoir, “O feminsimo é viver individualmente e luitar coletivamente”. Chegamos desde aquel 1968 em que aparecêrom os primeiros grupos de mulheres organizadas na Galiza, chegamos desde aquele 1976 em que nascia o primeiro grupo feminista organizado, as AGM. E chegamos desde aquele 1984 emque nascia o feminismo nacionalista, as MNG. Mas o importante é que continuamos, com o passar dos anos, com o nascimento ao longo do País de Assembleias, Associaçons ou Redes feministas, e também continuamos no seio das nossas organizaçons políticas, dando a batalha (menor por sorte de portas para dentro e sem dúvida com mais forças de portas para fora).

    Mas é hoje,companheiras, quando novamente este sistema agora enfraquecido mais do que nunca pretende, no seu rescaldo, amarrar-se ao que sempre pensou que era o elo mais fraco da cadeia, as mulheres. Mas realmente sabem que se após milhares de anos de resistência continuamos aqui, na primeira linha de batalha: é agora quando vam poder com nós? Embora seja longa a listagem de minas antipessoa que o Estado espanhol nos leva colocado e que de algumha forma nos levam estourado nas maos neste passado ano;

  • A reforma da lei do aborto.

  • A eliminaçom das mamografias móveis.

  • A privatizaçom, ainda maior, dos serviços ginecológicos.

  • O endurecimento da publicidade sexista.

  • O incremento da pobreza femenina.

  • Incremento de assasinatos machistas.

  • Aumento de casos de denúncias por violência machista.

  • Continuidade do reforço genérico.

  • Proibiçom na inseminaçom livre a mulheres solteiras e lésbicas.

  • Crescimento de prostituiçom e proxenitismo.

  • Quantiosas ajudas económicas a organizaçons integristas católicas como Red madre e colégios do Opus com segregaçom genérica.

  • Permissividade da denigraçom pública.

  • Encarecimento de medicamentos ou serviços médicos específicos.

  • E tantas outras que continuam há décadas, tantas outras polas quais pretendem ainda fazer-nos passar, tantas outras que se ocultam por trás de outras tantas...

    Eis o momento, nom mais silêncios, nom mais medos nem sequer mais titubeios. Chegou a hora de ensinar o que é a sororiedade e de quanto nos vamos valer dela para traçar a nossa estratégia. Eu com a minha bandeira tricolor, azul vermelha e lilás estarei nas ruas reclamando o que nos pertence por direito, o nosso direito a decidir, a decidirmos como queremos viver, porque galegas, já é 2014, já somos mulheres “maiores de idade”, já nom queremos pais que nos governem.

    É por isto, porque a nossa luita é a verdadeira, porque a nossa luita é a que trará a emancipaçom do nosso género, a emancipaçom da nossa classe e a emancipaçom da nossa pátria, que vos espero aí fora.

  • Ferrol, 09/01/2014


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