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Lorena Alonso Pinheiro

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De sonhos e raivas

Seremos manada selvagem

Lorena Alonso Pinheiro - Publicado: Segunda, 16 Dezembro 2013 20:09

As mulheres nom somos. Somos o Nom Ser. As que nom tenhem voz, as desconhecidas. Eles; o centro do universo, o sonho a conquistar. Som a cultura, a razom, nós a natureza.


Eles a mente, nós corpos impuros. Eles a ciência, nós a intuiçom. O bem contra o mal. O homem contra a mulher. Somos o resultado de um experimento bem sucedido. Ratas de laboratório violadas por todas as injustiças criadas polo sujeito universal. Somos a peça precisa para a engrenagem do patriarco-capitalismo e a sua heteronormatividade. Somos o que nom querem ser mas, pola contra, desejam submeter para a mantença dos seus privilégios.

O social marcou os nossos corpos. Os genitais do par hetero, tardarem séculos em ser inventados. O unissexo1 foi a representaçom do ser mulher desde a antiguidade. Em essência, as mulheres eram homens com o falo invertido. Depois contaram-nos que eram dous os sexos, inegáveis, imutáveis e mutuamente dependentes para a estabilidade e a ordem do sistema sexo/género.

As múltiplas diferenças som patologias, corpos estranhos e defeituosos. Todo o que saia da imagem binária será considerado anormal, monstruoso, inadaptado. Mas ninguém deverá sabê-lo, ficaram ocultas, invisíveis, inexistentes. Nada que a ciência nom poda solucionar para ver compenetrar-se o corpóreo e o social. A obra maestra da medicina; adaptar os corpos ao discurso dos contrários. O homem: alto, adulto, forte, valente, penetrante. A mulher: baixa, infantil, dévil, cobarte, a penetrada.

Luitamos por rachar e desprender-nos da opresom dos géneros. Das obrigas, das cadeias da obediência que nos impuseram com a força física das palavras, de ser nomeadas como o outro. O abjecto.

Gatas, cadelas: sem atitudes para o público, mas sim para o âmbito doméstico, animal de estimaçom.

Burras, mulas: sem capacidade para o mundo das ideias. Muito funcionais para lavrar a terra.

Vacas, porcas, ovelhas: sebentas, sujas, ignorantes e facilmente manipuláveis. Muito úteis para chuchar do teto.

Raposas, víboras, tigresas: provocadoras, perigosas. Melhor dissecar e mostrar como objetos de museus.

Definidas como animais. Animais de carrega, escravizados, animais a matar para a sobrevivência do seu sistema depredador e assassino.

Parireis com dor. Parireis quando, como e donde nós digamos. Planificaremos a criaçom de mais-valia e será destruída quando for preciso. As nom mulheres, as desviadas, sereis isentas de este programa. A falta de macho nom é umha questom médica2.

Vós, sabedores do que é o correto e o bom, do que interessa para o progreso da civilizaçom e do ser humano, firmes defensores da democracia em tódos os âmbitos da sociedade; fededes a merda.

A vossa estratégia tácita, o pensamento hetero3, é a nossa opresom. Há décadas que somos conscientes da materialidade da sua violência. Doe, humilha, elimina, exclue. Há séculos que vivimos na categórica negaçom das nossas existências.

Apropriastes-vos da linguagem. As vossas palavras; igualdade, emprego, justiça e direitos. Dizeis que nom é doado, mas que trabalhais a arreio por nós. As coitadas, as vitimas dos erros de umha história imperfeita.

Sempre subestimando-nos embora, faremos-nos as parvas, diremos que sim, que está bem, que com vós, para o que for preciso porém, na escuridade, donde se topam todas as perversons, as bruxas, as queimadas nas fogueiras voltarám para inaugurarmos o princípio do fim. Ceivaremos todas as vossas palavras, muito fomentas e enlouquecidas e em siléncio, sem remorsos nem escrúpulos, atacaram ferozes. Por vez primeira sentireis a dor dos verbos em carne própria. As bestas produzidas polos vossos discursos aboliram a História da dominaçom masculina. Nom existimos como sujeitos autónomos, somos manada selvagem!

1Pôr no buscador de internet Thomas Laqueur. Inventando o sexto: corpo e género dos gregos a Freud.

2As palavras de Ana Mato, ministra de Sanidade do governo espanhol, ao respeito da exclusom de mulheres sem parelha ou parelha de lesbianas dos tratamentos de reproduçom assistira, forom: “no creo que la falta de varón sea un problema médico, pero me vais a permitir que eso se lo deje a los profesionales” Declaraçons do mês de julho de este ano, que nom causarom muito alvoroço.

3Ler a Monique Wittig, entre ouras.   


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