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Laerte Braga

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A pirotecnia do Vaticano

Laerte Braga - Publicado: Domingo, 03 Março 2013 18:55

Em nenhum momento, desde o dia que anunciou que iria renunciar, até o show do dia da renúncia, o agora papa emérito Bento XVI fez qualquer alusão à crise que leva milhões de pessoas à miséria, principalmente entre países da União Europeia, dentre eles a Itália.


Na farsa de tentar mascarar as fraudes e o documento dos cardeais que fala em "escândalos sexuais" na Cúria Romana, o papa se preocupou em justificar a renúncia, atribuir a si um ato de "grandeza" e tratar de problemas internos de uma instituição que se depara com o abismo entre seu caráter medieval e a realidade contemporânea.

Bento XVI foi um dos principais, o principal, integrante dessa Cúria durante o período do papa show João Paulo II, fez parte de todas as operações para minimizar, por exemplo, casos de pedofilia e se impôs como papa no dia seguinte ao da morte de seu antecessor, num discurso que fez no Vaticano. Foi, inclusive, um dos conclaves mais rápidos da história.

Num dos pronunciamentos feitos no dia 28 o papa emérito declarou que "tem dias que parece que o Senhor está dormindo", clara confissão de derrota diante da realidade podre da Cúria Romana e de sua impotência, até por cumplicidade em tempos passados e presentes, no caráter repressivo e bárbaro dos dois últimos pontífices da Igreja Católica, ele e João Paulo II. Em sua concepção o Senhor tinha que estar em vigília permanente a seu serviço.

O papa sequer tocou na crise que faz com que 500 famílias sejam despejadas diariamente na Espanha por falta de pagamento de hipoteca de suas residências. Nos altos índices de desemprego no País da OPUS DEI, na Grécia, na Itália, em Portugal, na fome na África e deixou clara sua postura imperial e marcial de antigo integrante da Juventude Nazista.

A crise da Igreja Católica é da Igreja e a Igreja está distante da realidade séculos, vive ainda o tempo dos cavaleiros templários, o próprio desenrolar do noticiário da renúncia nos dias em que durou o espetáculo (continua até a eleição do próximo papa) não foi outra coisa que não o reflexo dessa situação.

A caricata figura de Bento XVI e sua "comovente grandeza" nos eventos padrão Hollywood que se seguiram ao anúncio e a renúncia propriamente dita. O ex-presidente Nixon, dias antes de renunciar, acertou com Geraldo Ford, seu sucessor, as condições de perdão e anistia para seus crimes. Bento XVI cuidou ele mesmo de garantir sua impunidade diante dos "colegas" de fé, mesmo que o caso de um tenha sido de cadeia e o do papa emérito de vergonha e em certos casos de punições mais severas.

Vai morar num castelo, cercado de seguranças, com assessores.

O tipo de show cuja produção, além de mais cara, é bem mais epopeica que as fanfarronadas de pastores neopentecostais, uma das principais ameaças à Igreja em vários cantos do mundo.

Como a imensa maioria dos principais prelados católicos de alto porte a Igreja ignora a realidade que cerca e aflige o mundo. O terror da guerra financiada pelos EUA e por Israel na Síria. A matança genocida de palestinos. Toda a sorte de barbárie imposta pelo terrorismo capitalista.

Foi parte dele, continua sendo, como certamente, o seu sucessor.

Há outra distância abissal entre a Igreja e seus fiéis. Ficou claro nas muitas opiniões emitidas durante esses dias por católicos que não aceitam dogmas atrasados do Vaticano, ou que chegam a enxergar um processo de decomposição bem acelerado do poder de Roma.

A última cidadela do império romano.

Uma pena que a Academia de Cinema de Hollywood não tenha incluído o "filme" A RENÚNCIA DO PAPA entre as produções candidatas ao OSCAR. Teria levado todos. O de ator se tornaria eterno, algo tipo hors concours.

No Brasil, para se ter uma ideia, preocupou seriamente a principal rede de tevê do País ao abalar os índices de audiência de um bordel
conhecido como Big Brother. Nem isso mais os papas conseguem ser desde João Paulo II. São boys do atraso e do capitalismo.

O que o colégio de cardeais vai decidir não muda a situação. Em curto prazo a Igreja Católica é apenas um adereço nesse mundo globalizado
onde as religiões se prestam a barbáries e a estupidez capitalista em nome da democracia e da "verdade divina".

E nem faltam os sacrifícios de Abrahão – seu filho – na violência que caracteriza a ação do capitalismo.

Deve ser aí que o "Senhor parece estar dormindo". Nos corpos de palestinos, de sírios, de líbios, de iraquianos, de afegãos, na fome na África, na Europa, na ascensão das máfias russas, nas bagatelas vendidas pelos chineses e que levam 30 milhões de norte-americanos à linha da miséria.

O mundo em que o ser humano é mero objeto.

Bento XVI é só uma figura o lamentável que sai de cena. Breve outro em seu lugar, o show tem que continuar. Lembra a perfeição o desfile de moda sacra do filme ROMA DE FELINI, uma caricatura que antecedeu toda essa farsa e toda essa pantomima da renúncia do papa.

O mundo, esse que se dane. As pessoas, essas que se estrepem.


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