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Maurício Castro

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Enquanto há força

Dar força ao independentismo

Maurício Castro - Publicado: Quinta, 28 Fevereiro 2013 11:02

Vamos começar por fazer um pouco de memória. Entre os anos 2005 e 2006 viveu-se no Estado espanhol umha tentativa dupla, basca e catalá, de alargar a autonomia pola via do que naqueles anos se denominava "soberania compartida" ou "co-soberania".


Fôrom o 'Plano Ibarretxe' e o Estatut catalám, cuja neutralizaçom ou desnaturalizaçom por parte da ineludível maioria parlamentar espanhola (PSOE, PP e IU) mostrou a impossibilidade de atingir acordos de mínimos que reformem a Espanha de sempre, a alicerçada no hegemonismo e no submetimento nacional.

Na Galiza, o BNG integrava na altura o governo bipartido na Junta, junto ao PSOE, embarcado numha política de claro rebaixamento do que tinha sido o seu programa histórico. A autodeterminaçom sumiu das suas principais preocupaçons e a aliança estratégica com o PNV e CiU refletia bem a vontade de homologaçom com os nacionalismos ditos “moderados”, aspirantes à gestom direta da parte do bolo que o Estado espanhol estava disposto a ceder-lhes. Aquele BNG propunha, lembremos, o chamado “Estatuto de Naçom”, como versom galega dos textos propostos polas forças burguesas basca e catalá, mas com ainda menor percurso, quase nulo.

Como conseqüência daqueles esclarecedores processos, hoje todas as forças políticas dos nacionalismos basco e catalám estám em posiçons inequivocamente soberanistas. Aprendêrom a liçom e tirárom as conclusons necessárias, saindo especialmente reforçadas as organizaçons situadas à esquerda.

Quanto ao nacionalismo galego, a política daqueles anos nom demorou a passar fatura ao aggiornado BNG, que historicamente se tinha caraterizado polo seu perfil insubmisso e de compromisso com as classes populares. Para dizer a verdade, o Bloque nunca tinha sido excessivamente ambicioso no plano nacional, fugindo de qualquer “tentaçom” independentista e mesmo desqualificando tal possibilidade em termos absolutos, em favor de irrealizáveis soluçons de tipo federal ou “co-soberanista”.

O seu progressivo afastamento das luitas nas ruas em favor da suposta “grande política” completou um quadro que o levou à delicada situaçom atual, sem que, ao mesmo tempo, o independentismo fosse capaz de superar a sua própria fragmentaçom para poder aspirar a aglutinar um setor significativo da base social soberanista realmente existente.

Voltando para o atual momento político, deparamo-nos com o BNG a confirmar a tendência eleitoral negativa e a tocar fundo nas recentes Autonómicas de 21 de outubro. O realmente preocupante do episódio, analisado em visom nacional, é a inesperada irrupçom com força no Parlamento autónomo do espanholismo “de esquerda”, aliado com setores cindidos do próprio BNG sob a liderança do mediático Xosé Manuel Beiras.

É sobretodo a partir desse momento que se torna mais percetível umha viragem de aparência estratégica no derrotado BNG, tanto em matéria social como nacional. Dá a impressom de que se rendeu à evidência do fracasso da sua tentativa de conquistar parte da burguesia autóctone e tenta recuperar a atraçom que durante anos exerceu sobre significativos segmentos do povo trabalhador.

Nom sabemos neste momento se a viragem é real e sincera ou responde unicamente a cálculos táticos de trajetória limitada. Tampouco sabemos se servirá para que consiga efetivamente cativar novamente e no curto prazo as dezenas de milhares de galegas e galegos desencantados com a deriva do Bloque. Se isto fosse umha simples análise de conjuntura, recorreríamos agora ao tópico para afirmar que “o tempo dirá”.

Porém, o nosso país nom tem muito tempo: a grave situaçom por que atravessam cada vez mais amplos setores do nosso povo, devido à crise económica e à espanholizaçom acelerada que sofremos em todos os ámbitos da nossa vida social, impedem que podamos perder um minuto mais em mascaradas e taticismos de alcance unicamente partidista.

Contrariamente ao que defendem as forças que hoje ocupam o espaço eleitoral perdido polo BNG, estes sim som para a Galiza tempos de soberanismo. Isso é o que nos mostra a realidade de praticamente todas as naçons oprimidas da Europa Ocidental e a Galiza, sendo umha delas, nom pode ser umha exceçom. De facto, só em chave soberanista conseguiremos que a Galiza saia reforçada da atual crise em que nos metêrom as oligarquias espanhola e europeia com a colaboraçom necessária da vendida classe burguesa galega.

Sabemos que a situaçom da Galiza, no referente à imprescindível consciência nacional, é mais atrasada que a existente noutras naçons sem Estado próximas. Porém, essa consciência nom vai crescer nem por decreto de nengum governo autonómico, nem por geraçom espontánea num futuro indeterminado. Deve alimentar-se e estender-se de maneira permanente, coerente e decidida em toda a atividade social e política produzida no seio da sociedade galega.

Por isso, ainda que saibamos que a construçom de força social para a independência vai muito além do ámbito partidário, consideramos mui positivamente a possibilidade de retificaçom em chave soberanista do BNG. Nom pode esquecer-se que o Bloque, que nunca foi o único nacionalismo galego existente, sim representa, ainda hoje, a corrente maioritária do nosso nacionalismo político. Seria, sem dúvida, positivo que assumisse, de maneira urgente e real, um programa abertamente independentista e socialista ou, dito por outras palavras, um programa de ruptura democrática e de construçom do Estado galego.

Como poderia um independentista desprezar tal possibilidade e o significado que isso pode ter para a imprescindível tomada de consciência nacional por parte do nosso povo?

Se a aposta do BNG for a sério, nom duvido que poderá articular-se umha aliança nacional ampla que trabalhe conjuntamente na direçom da independência e do socialismo.

Poderá discutir-se como chegar e, sobretodo, como avançar em direçom a esses incontornáveis objetivos estratégicos. Também os termos concretos e o alcance dessa colaboraçom necessária. No entanto, para isso, deve ficar definitivamente descartada a inócua vaza do “co-soberanismo”, do “federalismo” e outras lérias do género. A experiência da última década (para nom recuarmos mais no tempo) e os jogos de artifício “federalistas” que já assumem forças do espanholismo como o PSOE ou Izquierda Unida, confirmam que estamos numha nova etapa.

Com um espanholismo em ofensiva reacionária e recentralizadora, nom é exagerado afirmar que a Galiza deverá escolher no imediato futuro entre a via independentista e a definitiva assimilaçom por parte do ainda inacabado projeto nacional espanhol.

É difícil saber se ainda vai ser possível que a Galiza se ponha em pé, rompa com Espanha e se afirme como naçom livre, com o seu próprio Estado soberano. Vemos as grandes dificuldades que enfrentam inclusive os povos que já andárom mais caminho nessa direçom, como o basco e o catalám.

Sim sabemos é que a única possibilidade para a nossa sobrevivência coletiva, enquanto povo e também enquanto comunidade lingüística, passa pola recuperaçom da plena soberania perdida. Devemos igualmente entender que, num país cuja burguesia está vendida à oligaquia espanhola dominante, só um nacionalismo independentista e de esquerda poderá aspirar a ganhar para a sua causa a maioria do nosso povo. Numha fase de decadência total do capitalismo, teremos que enfrentar-nos com inteligência e decisom ao inimigo nacional e de classe, representado polo regime corrupto e degenerado surgido como continuador natural do franquismo.

Nom serve apelar às dificuldades objetivas. Muito menos adiar sine die o único rumo estratégico que poderá conduzir-nos à liberdade como povo. Sem tirarmos valor a gestos de ocasiom em tempos de crise, devem ser dados passos concretos e decisivos no caminho da plena emancipaçom nacional, fazendo da maioria social, liderada pola classe trabalhadora, o motor da revolucionária transformaçom que a Naçom Galega necessita.

Todos e todas, cada um e cada umha no seu posto, devemos assumir a responsabilidade para a realizaçom da tarefa comum neste momento histórico. Essa tarefa é hoje dar força ao independentismo. Será isso, ou vermos impotentes como o velho cosmopolitismo espanhol, na versom progre ou na neofranquista, nos papa de vez.


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