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Belém Grandal

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Em coluna

Nem naçom atrasada nem passiva nem submissa. Resposta a James Petras

Belém Grandal - Publicado: Domingo, 28 Outubro 2012 15:29

Numha recente entrevista a James Petras por Cx36, Radio Centenário desde Montevideu (Uruguai), segunda-feira 22 de outubro: http://www.lahaine.org/index.php?p=64765 realiza este sociólogo, politólogo e escritor norteamericano umha análise, vinculada a algúns resultados eleitorais do que ele próprio denomina "Espanha" falando con escasso ou nulo conhecimiento da realidade social, política, económica e cultural, quer dizer, da identidade e idiossincrásia dalgumhas naçons integradas à força dentro do entramado seudo-demóocrata oligárquico-capitalista e imperialista que é o Estado espanhol.


Num primeiro momento utiliza o termo regiom em referência a algumhas destas naçons submetidas ao jugo imperialista espanhol como som a Galiza e Euskal herria, começando assim umha série de valorizaçons e dissertaçons supérfluas, muito simples e pouco ou quase nada rigorosas, que desvirtuam e desnaturalizan multidom de aspetos essenciais para compreendermos com profundeza e em todas suas vertentes a situaçom real em que vivem cada umha destas naçons inseridas através de meios, em muitos dos casos, violentos, nesse marco ou ente estranho que se denomina Estado espanhol.

Teriamos primerio que relatar-lhe com com profusom de detalhe a história de nossas naçons. A criaçom dum Estado, o espanhol, em base a guerras de conquista e atos violentos. A história do surgimento, existência e desenvolvimento de ditas nacionalidades até chegarmos ao momento atual, muito antes do surgimento dos EUA, ainda que sem citar todas essas populaçons autóctones, originárias americanas que fôrom exterminadas para introduzir essa "Grande civilizaçom moderna ocidental" com grande produtividade e elevada tecnologia.

Mas, isto seria muito extenso e acho melhor que um sociólogo, politólogo e escritor com tanto prestígio, teria de, antes de expressar argumentos com grande falta de rigorosidade, documentar-se para evitar em vindeiras análises utilizar fórumulas estereotipadas e vazias de conteúdo real, que pensa, podem ser extrapoláveis a qualquer país, sem rigor cientista e socilógico qualquer.

Nom vou falar cá acerca dumha valorizaçom, de todo errónea, do resultado das eleiçons em Euskal Herria, já que nom me corresponde a mim, nem me incumbe. Senom a possíveis afetados por dita análise, doutra parte, bastante distorsionado. Mas sim, falarei da Galiza, já que som diretamente afetada polas suas análises deformadas e que distan muito de concordar com a realidade em que mora e se desenvolve nosso povo, nossa naçom.

Acho quase um insulto à imensa maioria de galegas e galegos, das suas classes trabalhadoras que luitam com todas suas forças dia após dia para mudar um sistema económico e político criminal que, desde o Estado centralista e imperialista nos impom, domina, oprime e explora, malia ser altamente produtivo, tecnificado e "modernizado" fora da nossa naçom, como ele próprio assevera.

Com certeza, umha produtividade e crescimento capitalistas que acha indispensáveis para falar de modernidade, com um crescimento exponencial e constante que destrue o entorno natural, seu ciclo vital, aniquila seus recursos naturais, destruindo assim mesmo o ser humano, neutralizando sua inteligência, tornando-o num simples objecto, alienando sua mente para dirigí-la únicamente face o monstro consumista de toda essa produtividade e alta tecnificaçom. E a isto denomina Petras modernidade e país desenvolvido...?

Mas, para atingirmos dita taxa de produtividade e incluirmonos na categoria de "modernidade"nom esqueçamos que o sistema capitalista escraviza-nos por um salário mísero e umhas condiçons laborais a cada vez mais semelhantes às do século XIX e tal produtividade nom é repartida equitativamente entre a classe trabalhadora, sinom entre as oligarquias ociosas, financieiras e económicas e, por acaso, algumhas migalhas vam parar às maos dos seus títeres políticos, se cumprem os mandados e deveres ditados por estas elites.

Nom sei qual é o nível de compreensom que possue Petras por regiom "mais atrasada", mas acho que erra quando utiliza com tanta ligeireza esse termo. Certo é que nom possuímos o nìvel de industrializaçom de mais algumhas naçons ou comunidades do Estado.

Mas, isto é assim, porque o Estado centralista e imperialista espanhol promoveu e fomentou o desenvolvimento industrial dumhas zonas em detrimento doutras, impedindo assim, a Galiza, com suas imensas riquezas naturais e grandes potencialidades e capacidades humanas poder desenvolver cá umha indústria próprioa y autóctone ao serviço da imensa maioria da populaçom, quer dizer, da sua classe trabalhadora, distribuindo equitativamente os benefícios dumha boa produtividade, baseada na sustentabilidade de seus recursos naturais e do seu meio ambiente e à margem dum sistema capitalista que apenas procura crescer exponencialmente para atesourar mais e mais riquezas, e ainda mais benefícios económicos em maos dumha elite de poderosos e, que alguns, costumam denominar "civilizaçom moderna e altamente tecnificada".

Quanto a sanidade, educaçom, serviços sociais, infraestruturas, e tecnificaçom, podemos dizer que o nível é similar às demais naçons e comunidades autónomas de este Estado. De facto, possuímos muito boas Universidades e Centros de Instruçom Profissional em que se formam jovens que depois devem emigrar ou serem cooptados para aplicar e desenvolver empiricamente toda sua formaçom em Centros de Investigaçom, Universidades, ou Centros de trabalho estrangeiros, quer espanhois, quer europeios.

Quanto a esperanza de vida, é similar também a do resto do Estado.

De facto, Galiza possui umha populaçom idosa e com umha esperança de vida de 82,2 anos, muito acima da média dos EUA e de mais alguns países ocidentais.

Portanto... Onde se encontra esse atraso do que fala Petras? Nessa baixa industrializaçom fomentada e promovida por um governo centralista que nos impom umha realidade estranha a nossa existência, umha realidade que nom desejamos, mas que, em muitos casos, impede a possibilidade de tomarmos decisons arredor de nosso presente e nosso futuro em liberdade, fora das cadeias que nos atam desde o Estado espanhol e desde o sistema capitalista...?

Com certeza, existe a crença popular, lá, na distância, de que nosso povo é passivo, indiferente e nom luita, mas isto está muito longe da realidade. Há que fazer valorizaçons objectivas e com todos os dados que podamos de atingir, urgar na memória do passado distante e mais recente para nom recorrer a análises simplistas, tópicos e ódios face um povo que leva muitos mais anos que Euskal Herria e Catalunha sendo oprimido, negado, silenciado, polo só facto de querer manter e preservar sua idiosincrásia, seus valores sociais e culturais, quer dizer, os seus signos identitários e sendo ocultados muitos conflitos, movilizaçons e afrentas em que participou a classe trabalhadora deste país, em confronto direto com aqueles que nos querem submeter, assimilar-nos e aniquilar-nos como povo, como naçom que somos.

Malia todos os obstáculos, após mais de cinco séculos, cá seguimos perpetuando e preservando nossa sociedade, nosso modo de vida, nossa cultura e nossa lingua, após multidom de tentativas assimiladoras.

E, através do tempo fomos luitando, luitamos e luitaremos, como aconteceu com o regime ditatorial franquista, quando Franco e seus sequaces, malia nom existir cá fronte de guerra, já que nom existiam meios materiais nem armas para o confronto com os sublevados, se desenvolveu um Galiza, seguindo as palavras do historiador Velasco Souto " umha auténtica guerra de exterminio contra civiles desarmados, contra todo aquelo que simbolizara evocara o régime democrático republicano nacido em abril de 1931″. Milheiros de pessoas(mulheres e homens) sufrirom golpes contundentes na nossa naçom, sendo perseguidas, torturadas, encadeadas, depuradas, exiladas, ou assassinadas por luitar contra a barbárie franquista.

De facto, formarom-se guerrilhas já nos primeiros instantes da sublevaçom militar, umhas inseridas na federaçom de guerrilhas de Galiza-Leom e a outra que formou parte do Exército Guerrilheiro, integradas, quer por homens, quer por mulheres, muitas delas com grande valentia, osadia e determinaçom pola sua parte tomarom as armas e participarom em confrontos diretos contra os fascistas. Outras, a grande maioria, realizavam funçons de enlaces, passar informaçons, materiais diversos, alimentos, armas... Sendo muitas delas encadeadas, torturadas, vejadas, violadas e até assassinadas com seus filhos nos ventres. Guerrilhas que resistirom nos montes até os anos 50.

Mas, malia todo sofrimento, durante toda a posguerra, muitas trabalhadoras e trabalhadores, sobretodo mestras e mestres, profesores de universidade, funcionarios do correio postal, e outras/os...quer pertencentes a organismos públicos quer pertencentes a empresas privadas forom represaliados e depurados, nom permitíndo-lhes exercer sua profissom com as consequências que isto lhes comportava, para suas vidas e das suas famílias.

As gáveas da Galiza continuam a estar cheias de luitadoras e luitadores assassinados, sendo testemunhas destes horríveis crimes, os fusilados, os próprios criminais fascistas e o silencio da noite oscura em que a lua afogava sua dora acovilhada em bágoas de sangue.

Casos como o de Henriqueta Outeiro, e as irmás Antonia Rodríguez, Clarisa Rodríguez, esta última violada e assassinada portando no seu ventre umha criança e Consuelo Rodríguez (Chelo) som exemplo da participaçom da mulher na guerrilha, ainda que estas som apenas umha cativa mostra de mais outras. Entre os homens falar de Benigno Andrade "Foucelhas", Manuel González "O Fresco" e inumeráveis guerrilheiras e guerrilheiros que inundaron de força, honra, valentia e decisom umha Galiza que jamais se resignou nem se resignará e que, se resistiu mais de cinco séculos continuará, nom apenas resistindo, senom, nesta época de crise sistémica, com certeza, até atingir o ponto álgido em que terá de assumir um compromisso claro e firme decidindo, por si e para si própria, um presente e un futuro em liberdade e igualdade para todas as galegas e galegos, com o convencimento de que a única saída é a transformaçom total desta sociedade, umha catarse imprescindível para um novo rumo, um novo tempo, umha nova história, construida por un novo ser humano.

Represaliadas e represaliados, depuradas e depurados houvo durante toda a posguerra, e que dizer dos conflitos sociais e laborais de fins dos años 60 e 70 emVigo e Ferrol, que causarom, nom apenas muitas detençons e encarcelamentos, agressons, torturas, senom também crimes sanguinários de parte das forças repressivas dirigidas polos governantes franquistas e fascistas, como Manuel Fraga, galego sem lustre e indigno que ordenava impunemente cargar contra o povo trabalhador custar o que custar, mesmo vidas humanas.

Já no ano 1970, enquanto as mobilizaçons atingírom seu ponto álgido por toda a geografia do Estado, Galiza nom ficará aletargada. É assim que, em 10 de março de 1972 na cidade de Ferrol, trabalhadores de Bazán manifestam-se para exigir melhoras das condiçons laborais e salariais, com 42 horas semanais de jornada, um mês de férias, readmissom dos despedidos e mais algumhas petiçons... No marco das mobilizaçons que se desenvolvêrom, som assassinados Amador Rey e Daniel Niebla polas forças repressivas, além doutros feridos de bala e inúmeros detidos e despedidos.

É Vigo também protagonista destes conflitos socio-laborais de grandes dimensons que culminou com a greve geral de 15 dias em setembro de 1972, com as mesmas demandas que em Ferrol e que se saldou com detidos e despedidos. Estes acontecimentos supugerom situar estas duas cidades como vanguarda das luitas laborais no Estado de fins do franquismo, cidades que possuiam um grande poder organizativo de parte das suas classes operárias.

Também nom podemos esquecer as últimas mortes causadas pola ditadura franquista, porque o monstro morreu matando. O assassinato de Moncho Reboiras na madrugada do 12 de agosto, a maos da Garda Civil, em Ferrol, membro este da direçom da UPG. Organizaçom que em aquele tempo padeceu detençons, torturas, encarcelamentos e exílio de muitas e muitos de seus militantes, ou a execuçom pouco antes da morte do ditador de José Humberto Baena, deVigo, militante da FRAP, 27 de setembro de 1975, junto a outros companheiros também militantes da FRAP, e de Angel Otaegi e Paredes Manot, membros estes últimos da ETA.

Mas, estas luitas respondidas por atos repressivos som só umha mostra da vontade férrea do povo galego, nom apenas de se defender e resistir, mas também de se implicar ativamente na transformaçom dumha sociedade injusta que tenta dobrar a nosssa dignidade, sem o conseguir, já que enquanto há vida, há esperança, a esperança da continuidade da luita através das geraçons que cá estám e as que virám, até a atingirmos a vitória final.

No entanto, nom foi a transiçom, como di o companheiro Xavier Moreda, "traición sen fim", um exemplo ou modelo de transiçom a umha democracia real e participaativa neste ente denominado Estado espanhol, ainda bem, todo o contrário. Criou-se umha seudo-democracia burguesa capitalista pactuada entre umhas elite, as mesmas que entroncavam diretamente com o regime ditatorial, permitindo a alternaçao pacífica no poder, do mesmo jeito que já acontecera a fins do século XIX com a restauraçom bourbónica e alternáncia pacífica no poder do Partido Liberal e o Partido Conservador, con Cánovas e Sagasta como os seus líderes.

Um bipartidismo , que equivaleria com o que seria PP e PSOE, na atualidade, que impeda sair do guiom estipulado polas oligarquias. Oferecendo umha image de pluralidade que nom é mais que umha lavagem de rosto. Puro formalismo e protocolo exterior, mas o conteúdo interior fica inalterável e bem ancorado nos piares sustentadores da ditadura, permitindo a subsistência de certas esquerdas enquanto estejam bem domesticadas, e integradas no jogo do sistema plutocrático e patriarco-burguês.

Certamente a Ley D'Hont é umha das muitas ferramentas que permitem manter o estatus e as estruturas de poder intactas de ditas oligarquias. É assim que, esta lei , favorece os partidos maioritários e origina um bipartidismo, característica essencial e generalizada destas seudo-democracias capitalistas neoliberais. A equitatividade no reparto de escanos para todas as províncias sem ter em conta o número de habitantes é mais um dos recursos a utilizar nesta farsa eleitoral.

Além disso, há que dizer também ao Sr Petras que a abstençom nom é umha caraterística do atraso da Galiza, mas que, é a comprovaçom empírica de que, até o momento nengum dos partidos, organizaçons ou alianças eleitorais resolvêrom os problemas históricos, sociais, laborais e culturais de nosso país, nem sequer os problemas mais imediatos para vivermos e desenvolvermonos com um mínimo de dignidade no nosso país.

Até agora, os obstáculos impostos ao nosso desenvolvimento como naçom soberana, para que a classe trabalhadora poda decidir um presente e um futuro em liberdade, sem qualquer um tipo de opressom e exploraçom, forom um lastre que nom souberom corrigir nem PP, nem PSOE, nem BNG, tampouco acho que a cissom e alianza eleitoralista, com tintes burgueses, reformistas e mesmo espanholistas e centro-esquerdistas vaiam transformar esta realidade atual. Alguns de seus líderes já militarom no BNG, demonstrando sua nula capacidade para resolver o problema real da Galiza. Por outra parte impossível de resolver dentro deste marco constitucional espanhol.

Doutra parte quando Petras fala da irracionalidade de votar à direita e nom votar as esquerdas, conheço bem aos primeiros, mas nom aos segundos, polo menos aqueles partidos ou alianças eleitorais que participarom desta ocasiom no fraude deste sistema eleitoral burgués. Dumha parte está o PP e PSOE, algo semelhante ao Partido Liberal e conservador da Restauraçom bourbónica de fins do S.XIX, insertos no turno pacífico no poder,e muito semelhante também à farsa eleitoral dos EEUU, dividida entre o bipartidismo do Partido Republicano e Democrata. Nom diferindo muito dos jogos eleitoralistas embaucadores que cada certo tempo organizam os paises ocidentais com o objecto de oferecer umha imagem de transparência democrática que nom é mais que umha mascarada para preservar e perpetuar o estatus das minorias oligárquicas poderosas.

Nenhum dos partidos e alianças que se formarom nas passadas eleiçons em Galiza poderiam solucionar a questom de fondo de nossa classe e de nosso povo. E nem sequer foi possível vislumbrar nelas essa esquerda real com ánsias de mudar de vez o nosso status de classe explorada e de naçom oprimida. Nelas só existia umhas alianças com burguesias de tendência esquerdosa e espanholista, com a ideia de formar parte desse jogo seudo-democrático e burguês centralista e imperialista que nunca há ser quem de solucionar os problemas reais de nossa classe e de nossa naçom.

Enquanto continuemos a formar parte do Estado espanhol, enquanto imponham pola força nossa integraçom nas suas estruturas, enquanto nom se nos permita decidir nosso presente e nosso futuro em liberdade, enquanto sejamos oprimidas e oprimidos, exploradas e explorados por este monstro asssimilador e aniquilador denominado Estado espanhol e de seu sistema político centralista e imperialista, controlado a sua vez polas oligarquias financieiras e económicas, bem galegas, bem espanholas ou europeias enquadradas nessa Uniom Europeia, que nom é mais que a uniom de suas oligarquias económicas para extrair o máximo benefício da exploraçom de suas classes trabalhadoras, nom poderemos começar um processo revolucionário que construa umha nova sociedade sobre piares e estruturas novas, firmes e bem assentadas, quer dizer, umha sociedade justa, socialista e antipatriarcal.


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