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Laerte Braga

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Livre expressão

A pacificação dos excluídos

Laerte Braga - Publicado: Quarta, 24 Outubro 2012 00:15

A ocupação de morros no Rio de Janeiro, prática que começa a se estender a todo o País, é uma decisão tomada longe do Brasil e sob a batuta dos serviços secretos dos EUA e de Israel. A decisão de enviar tropas brasileiras ao Haiti (forças armadas e polícias militares) deu início ao treinamento do que chamam pacificação.


Na prática, além da violência não noticiada pela mídia, consuma a exclusão dos excluídos e a incompetência do aparelho policial, logo dos governos, para combater o tráfico de drogas.

Há alguns anos atrás uma senhora perguntada em São Paulo sobre a ação policial na favela onde morava reclamou mais ou menos nos seguintes termos – "prefiro o INPS do PCC, lá tem remédio, o do governo não".

A decisão de construir muros separando comunidades e que soa como instrumento de combate ao tráfico de drogas e outras modalidades de crimes não difere dos muros que separam palestinos de israelenses, ou mexicanos de norte-americanos. São muros de segregação, dos preconceitos.

A violência em São Paulo, por exemplo, na própria mídia de mercado, atinge a níveis absurdos tanto por parte de criminosos como de policiais, sobretudo militares. Polícias militares, com as características que têm em nosso País, são uma aberração em si e por si. Polícia é uma instituição civil.

Resquício do coronelismo escravagista do século XIX, força de repressão a serviço das elites políticas e econômicas. Se o tráfico de drogas se mantém intocado (as prisões são de bagrinhos no esquema), movimentos de trabalhadores rurais sem terra, professores, estudantes, trabalhadores de um modo geral, são reprimidos com requintes de barbaridade só visível em países totalitários.

Não é um fenômeno que atinge só o Brasil. A exceção dos países latino-americanos cujos governos não aceitam a tutela das elites (internacionais e as submissas nacionais), essa forma de reprimir e "pacificar" excluídos é comum aqui, na Colômbia, no Peru, nos países da América Central a exceção de Cuba e começa a se mostrar forte e viva na reação de trabalhadores de países da Comunidade Européia diante do novo Reich que se forma em Berlim.

BOPE. Glorificado em prosa, verso e na tela. O assassinato oficializado, o linchamento coletivo autorizado pelo Estado. O medo e o terror impostos a populações de favelas. A imensa e esmagadora maioria formada por trabalhadores, ou marginalizados pelo sistema. Os excluídos.

Um dos grandes temores dos governos dos EUA e de Israel (que controla a indústria bélica brasileira desde o acordo de livre comércio firmado pelo governo Lula, o que foi engolido pela baleia capitalista/sionista) é que as conversações de paz entre os rebeldes colombianos e o governo cheguem a bom termo. A perspectiva de controle, em eleições, do Parlamento e até da eleição de um presidente ligado às FARCs é real. No último acordo de paz firmado, quando as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas depuseram armas e resolveram disputar as eleições perto de três mil militantes foram assassinados, dentre eles dois candidatos a presidente (Jame Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, além do ex-secretário geral da Juventude Comunista Colombiana José Antequera e dirigentes como Teófilo Forero e Manuel Cepeda Vargas.

As forças regulares colombianas ignorando o acordo de paz atacaram o secretariado nacional das FARCs. As distorções da mídia funcionaram e ao movimento não restou alternativa que não a de voltar à luta armada.

Não interessa ao tráfico de droga, comandado pelos militares colombianos, pelo governo de Uribe e agora Manoel Santos, pelas forças de extrema direita – os paramilitares – que haja paz. E muito menos a Washington ou Tel Aviv que enxergam na América Latina um vasto campo de experiências, de controle, de espoliação de riquezas, nos mesmos moldes dos colonizadores espanhóis e portugueses.

Em 2007 o governo da Colômbia foi condenado pela Corte Internacional de Direitos Humanos pelo assassinato de doze investigadores de direitos humanos. Foram mortos por paramilitares (traficantes). Relator das investigações, Michael Camilleri, afirmou que "a sentença mostra que o Estado não só carecia de vontade de confrontos os paramilitares, mas que alguns oficiais se mancomunaram com eles contra os investigadores do próprio governo".

Militares brasileiros, policiais militares visitam regularmente a Colômbia onde apreciam os métodos que vão pondo em prática aqui.

É a pacificação que se estende ao Brasil, milícias, como as que atuam no Rio (apoiaram Sérgio Cabral em 2010 e a Eduardo Paes agora).

O embrião desse processo começa ainda no governo FHC, prossegue no governo Lula e agora no governo Dilma, com a inevitável contribuição de governadores estaduais (Casagrande já pensa em fazer o mesmo no Espírito Santo, na prática, recebeu a comunicação que a bola da vez é seu estado).

O acordo militar Brasil/EUA passa pela Escola de Tegucigalpa, onde são formados os militares golpistas para todos os países latino-americanos, africanos, motivo da deposição de Manuel Zelaya (é a maior base americana na região), como o controle da tríplice fronteira resultou no golpe branco contra Fernando Lugo e em seguida manobras militares de tropas paraguaias e norte-americanas.

Em Honduras se mata em média dez pessoas por dia (trabalhadores, jornalistas, resistentes) nas políticas de repressão do governo "democrático" de Pepe Lobo que, neste momento vai privatizar "CIDADES". Expropriar áreas no interior do país para construir cidades a serem entregues a iniciativa privada.

Grande Colômbia é o nome disso e inclui o Brasil.

Quando uma rede de comunicações como a GLOBO começa uma novela para louvar a "pacificação" dos morros do Rio de Janeiro está apenas vendendo a idéia colonizadora e de exclusão. Quando a RECORDE reage está reagindo a uma investida em sua área, onde, muitas vezes aliada ao tráfico, "recupera" bandidos e os transforma em pregadores da "palavra" de Deus. Legiões de excluídos de um lado catequizados no fanatismo religioso e de outro nos carros blindados que chamam de "caveirões".

A disputa pelo direito de melhor servir ao capitalismo.

A tal inclusão social é falácia. Serviu para conferir ao automóvel a condição de divindade.

Transformá-lo em objeto de culto e adoração e entupir ruas de cidades no afã de levar pessoas – supostamente – a se vangloriarem de terem participado de congestionamentos de 50, 60 quilômetros. Exibidos portentosamente do alto em helicópteros especiais para o gáudio dos zumbis.

É o espetáculo exibido diariamente e sob disfarce de entretenimento, às vezes de "cultura", a submissão imposta pelo tacão da telinha e das bordunas pacificadoras.

Não se percebe o sangue que sangra verde nos ralos das ruas das cidades. O ser vai se despojando do seu bem mais precioso, seu caráter humano.

Não existe pacificação alguma nas favelas do Rio, apenas se conclui um processo brutal e que robotizando pessoas se transforma num outro grande muro, esse invisível, mas perceptível. O da colonização, ou recolonização.

E chamam isso de pacificação. É o muro que exclui os "pacificados". Um perfil aterrorizante do capitalismo (dentre muitos).

É preciso arrebentar esses muros e recobrar a vida em seu sentido, em sua essência, sentir correr nas veias o sangue vermelho da luta de classes.

Que é de sobrevivência.

E tome Regina Duarte dissertando sobre liberdade de expressão.


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