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João Sousa

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Na Galiza para o Sul

25 de Abril Sempre? Fascismo Nunca Mais? (Primeira Parte)

João Sousa - Publicado: Quarta, 25 Abril 2012 16:18

João Sousa

Nas ruas gritava-se. Em casa gritava-se. No trabalho gritava-se. Nas universidades gritava-se. No parlamento gritava-se. Na televisão ouviam-se os gritos. O 25 de Abril não durou sempre, definitivamente; o fascismo está cada vez mais longe do nunca mais. Nós, geração recente, cuja distância da revolução portuguesa é já maior, não só não a vivemos, como não a conhecemos – e é por isso que ainda vivemos na maior das ditaduras.


Aproximando-se a data de celebração da Revolução dos Cravos pareceu-me indicado escrever meia-dúzia de palavras, simples e modestas, para o Diário Liberdade; uma vez que, tem sido de há um ano para cá, o meu Diário de Notícias, o meu Tele-jornal, a minha fonte de informação primeira e primordial.

A ditadura de Salazar, cuja não vivi nem posso descrever a 100%, chegou-me num livro de História – desde o ensino primário até ao Secundário. Hoje, eu sei que a censura directa das artes, dos textos, das expressões políticas e sociais não é executada com o lápis azul – Mas eu sei que ainda há censura. Hoje, eu sei que não há apenas o partido do governo – Mas sei que hoje o PSD é o mau e o PS é o bom (o da Oposição) e que isso muda quando trocarem de papeis. Hoje, eu sei que não há uma campanha exaustiva de cultivo de cereais em campos não preparados para certas culturas – Mas sei que a agricultura é um luxo gourmet ou um factor de sobrevivência mínimo e cada vez mais escasso. Hoje, eu sei que os donos das indústrias e empresas não fazem parte das cooperativas Salazaritas; Mas eu sei que são hoje elas quem governa, quem manda, quem censura, quem mata, quem faz passar fome, quem fuzila a produção nacional, quem nos fuzila.

Daqui, desde este teclado, saltam palavras que representam uma opinião apenas, pelo que, e espero que sim, hajam opiniões opostas. São apenas pontos de vista, frutos da minha breve experiência. E se vos soem caóticas as minhas observações, tudo se explica pelo caos que vivemos na Europa a cada dia, pelo caos que o Mundo vive cada vez mais.

Os transportes públicos estão a deixar de ser públicos tal como outros serviços. O dinheiro destina às obras públicas foi gasto em estádios de futebol para o Euro 2004; para melhorar estruturas em lugar de construir novas e salvar algumas em ruínas; para fazer novas escolas de raiz em vez de melhor todas aquelas que deixam entrar água pelas paredes e tectos apodrecidos. O ensino foi reformada para controlar os professores e impedir-lhes que tenham papel na auto-educação civil de cada individuo a quem chamam aluno e passou a ser a marioneta de um sistema de estatísticas de aprovação escolar para a União Europeia. O ensino que antes era abandonado, hoje é frequentado, chega para todos, chega a todos, e forma vegetais antropomorfos. A massa amorfa que daqui sai tentará o seu melhor para cumprir para com os desígnios do mercado, e quando chegarei à faculdade, onde poderão ter as ferramentas para a auto-educação, para a elaboração de uma escolha de vida, são bombardeados com processos e brochuras que prometem especificação em empregos que o nosso país não cria, não produz, não domina. Tudo em nome de uma europeização que o Estado Português procura desde 85.

Eu nasci em 88 e dou explicações de disciplinas na área das ciências sociais. Eu nasci em 88 e estou a escrever uma tese sobre a construção do símbolo de pátria nas obras de Rosalía de Castro e de António Nobre. Eu nasci em 88 e não vi o muro cair. Eu nasci em ontem e não vi o fascismo que Salazar tentou modelar em Portugal. Eu nasci em 88 e sei que o que era fascismo é hoje bem real, moderno e discreto – mas acompanha-nos desde que apanhamos a 71 para a estação de Oeiras, e o Directo para o Cais do Sodré; acompanha-nos quando pagamos propinas, rendas, água e luz; acompanha-nos quando ensaiamos e tocamos ao vivo com as bandas que criamos e com as letras contestatárias das quais a polícia se ri; acompanha-nos quando vemos companheir@s espancadas nas manifestação; acompanha-nos a tod@s quando desalojam brutalmente a Es.Col.A no Alto da Fontinha (que não é, como hoje dizem, o princípio nem será o fim das alternativas autogestionadas).

George Orwell tinha toda a razão. Nós não temos comando sobre o que escolhemos para a nossa vida – para isso temos de nos sujeitar a ser apelidados de perigosos, terroristas, anarquistas, parasitas; temos de abdicar na nossa vida, família, paz e tranquilidade que a Meo e a Zon prometem oferecer junto com a nova TDT, temos de declarar-nos como ovelhas negras... Quando somos apenas pessoas com opiniões no coração, e o coração na boca e nos punhos.

A precariedade é fruto da modernização e do alastrar globalista dos mercados capitalistas. As empresas de trabalho temporário e recursos humanos são o nosso futuro – trabalhar para um intermediário de uma outra empresa; que nos pagam metade para trabalhar o dobro, que nos despedem quando fazemos perguntas. Pensa... mas não fales. Forma-te e educa-te, mas não contes a ninguém... Ninguém quer um licenciado na Zara.

Nasci em 88 e não sei o que é dividir uma sardinha pela família toda. Nasci em 88 mas sei que as minhas palavras – as nossas palavras – caiem no chão, batem e dissolvem-se como as bastonadas da polícia. E tudo o que sei só me serve para procurar alternativas... e é isso que eu quero fazer. Agir localmente, pensar globalmente. Enquanto estivermos calados o Fascimo será o status quo – o fascismo está hoje na rua mais do que Nunca e o pior é que não tem uma cara apenas, tem uma série delas que nos conversam através da televisão. Não somos livres para ter opinião própria, para viver à margem da dependência total da moeda e do mercado de trabalho, para acreditar nessas alternativas e defendê-las de unhas e dentes... Seremos sempre os que têm a mania que são espertos e por isso seremos despedidos (ou nem sequer contratados para uma loja de roupa... ninguém quer uma menina bonita com maquilhagem que peça os € por Hora a que tem direito mas não recebe), s seremos sempre parasitas e malucos (porque tentamos viver fora do sistema capitalista, tentamos ser nós os donos do nosso futuro), seremos sempre os terroristas porque nos defendemos contra a violência do Estado e da Autoridade.

Amig@s... o 25 de Abril é sempre, todos os anos, em qualquer o lugar... O Fascismo é aquele que com ele nos distraí e nos humilha. A PSP declarou já tolerância zero para as manifestações de hoje que não tenham sido comunicadas ao Estado; o Estado já espalhou cartazes para a semana do "Parlamento Aberto" (Venha visitar-nos e verá que não somos assim tão maus...); o PNR já marcou o comício para dia 1 de Maio em Setúbal...

Creio que está na hora de juntar todos os movimentos insurrectos e inconformados que se têm exprimido nos últimos tempos em Portugal e na Europa, repensar estratégias, reconhecer de vez que o inimigo é comum e parar de engolir as mentiras desse inimigo

Hoje temos um 25 de Abril cinzento, com tem vindo a ser nos últimos vinte e cincos de Abril. O nome dos antigos revolucionários é hoje usado e abusado pelos media. O nome dos antigos revolucionários é hoje explorado como se fossem mais uma personalidade do jet set e das revistas cor-de-rosa. O burguês conseguiu o que queria e hoje é o escravo que come, enquanto os que lutam conta a escravidão se tornam escravos do pão.

Vemo-nos em breve. Até já.


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