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Laerte Braga

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Livre expressão

O rei de Espanha

Laerte Braga - Publicado: Quarta, 25 Abril 2012 16:07

Laerte Braga

Sua majestade Juan de Bourbon foi perdoado pelos seus súditos, diz a mídia, por ter caçado elefantes. Já os argentinos estão sob fogo cerrado do governo espanhol por conta da nacionalização da Repsol. Por trás dos argumentos que buscam escorar no direito internacional a frustração de não conseguir passar a perna nos portenhos numa operação com a China e a eterna convicção que países da América Latina são colônias e como tal devem ser tratados.


O ministro das relações exteriores da Espanha, José Manuel García Margallo está propondo aos demais países da Comunidade Europeia que cada um comercie fora do MERCOSUL. O objetivo é excluir a Argentina, fazendo negócios diretos, aquela conversa de acordos bilaterais de livre comércio, mais ou menos por aí.

O ministro pede uma reflexão sobre o assunto.

Esquece-se que seu país está falido, um dos mais altos – se não for o mais alto – índices de desemprego da Comunidade Europeia e os negócios ruindo cachoeira abaixo a despeito da pontaria real em se tratando de elefantes.

Referiu-se a um precedente, um acordo direto com os governos da Colômbia – esse país sim, colônia norte-americana – e o Peru. O pedido foi feito em Luxemburgo numa reunião com seus pares da União Europeia.

Para os argentinos a história é diferente. Julio de Vido, ministro do Planejamento Federal, Investimentos e Serviços Públicos, retomar o controle da empresa foi "um dos acontecimentos mais importantes dos últimos nove anos. Marca nova direção nos rumos do país". "A mais ousada decisão do governo argentino nos últimos 50 anos".

Milhares de portugueses, diariamente, devolvem suas casas aos bancos. Portugal é vizinho da Espanha e como o país do rei Juan Carlo vive uma crise. A tal da hipoteca. O curioso é que tanto um como outro foram governados anos a fio por ditaduras fascistas. Francisco Franco na Espanha e Antônio Salazar em Portugal. Conseguiram passar ao largo da segunda Grande Guerra sem esconder a simpatia por Hitler.

Os bancos alemães, por enquanto, não manifestaram nenhuma preocupação com a decisão do governo de Cristina Kirchner. Estão preocupados com o prejuízo que amargam na Grécia, a reação do povo grego e o risco que o sonho de um novo Reich agora sob a batuta de Ângela Merkel não se concretize, até porque Nicolas Sarkozy pode não ser reeleito e guardadas as devidas proporções, Paris pode ser novamente libertada.

Não há nenhum De Gaulle nessa história – e nem gente com a estatura do ex-presidente francês, em todos os sentidos –, mas há um elefante, ou um monte deles debaixo da cama do rei e do primeiro-ministro da Espanha.

A decisão da presidente da Argentina abre perspectivas para que o ciclo Menem/FHC (Argentina e Brasil) possa ser revisto. Os dois ex-presidentes deram golpes brancos para forjar suas reeleições – que não estavam previstas nas respectivas cartas magnas – e venderam o patrimônio público por preço vil e propinas nem tanto (no Brasil, o livro A PRIVATARIA TUCANA do jornalista Amauri Ribeiro conta a história sem tirar uma vírgula sequer).

Os brasileiros, por exemplo, a despeito dos altos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff, somos um país rumo ao século XVIII e se tivermos sorte ainda conseguiremos exportar mais matérias primas que exportávamos àquela época, quando ainda éramos colônia.

Potência de ocasião.

A restatização da Repsol junta-se a uma série de atitudes semelhantes do governo do presidente Hugo Chávez (que a mídia venal tenta matar todo dia), seguidas pelos governos de Evo Morales, Rafael Corrêa e cria perspectivas para uma retomada do processo de integração latino-americana, inclusive com Cuba, lógico, levando em conta ainda os resultados da Conferência das Américas, onde o show foram os agentes encarregados da segurança de Obama em caça por prostitutas e farras em hotéis colombianos (é terra deles, sentiram-se em casa.

Mas, na mesma Colômbia milhares de cidadãos saem às ruas em marcha nacional para por fim à guerra civil e exigir paz. Centenas de milhares de mortos, índices de violência absurdos, o narcotráfico na presidência da República e prisões repletas de presos por crime de opinião.

Cortez ou Pizarro neste momento seriam inviáveis, até a esquadra britânica para proteger mais ainda as ilhas Malvinas (desrespeitando normais internacionais, essas sim, mantêm nas ilhas armamento nuclear, refiro-me aos britânicos) não conseguiria deter o processo.

São condições objetivas. É necessário agora sair às ruas como na Colômbia e na Argentina (75% dos argentinos apoiam a presidente), de forma organizada e consciente e retomar a independência de cada um dos nossos países.

A União Europeia, como Veneza, está afundando, ou como a Torre de Pizza, se inclinando cada vez mais na direção de Washington/Tel Aviv (o cartel que controla os "negócios").

O rei da Espanha não é ninguém. Nem mesmo um caçador de elefantes. Caça em reservas especiais, paga a peso de ouro o direito de abater animais em risco de extinção e conta com dezenas de assessores e rifles de mira especial para não errar o tiro, ou os tiros).

Só não tem direito ao marfim.

A decisão da presidente argentina tem esse alcance. Ultrapassa as fronteiras de seu país, como o Chile e o seu presidente de extrema-direita Sebastian Piñera, alcança seus vizinhos de menor porte territorial Uruguai e Paraguai, mas bate em Brasília e mostra um caminho que nem Lula e nem Dilma foram capazes de tomar a despeito dos compromissos de seu partido e de suas próprias campanhas eleitorais.

A grande preocupação da presidente brasileira é a guerra cambial e isso é jogo das grandes potências, potências prepostas, cada vez mais o Brasil se enreda nas políticas neoliberais do governo petista, cada vez mais fica distante da necessidade de voltarmos a ser os senhores de nossas soberania e nosso território.

Do contrário, como andam as coisas, Daniel Dantas, Carlos Cachoeira, Naji Nahas, FHC, Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, com Boris Casoy de mestre de cerimônia ainda recebem o rei da Espanha para caçar onças na Amazônia. O orador oficial vai ser Demóstenes Torres.

Com direito a edição especial de VEJA (em português e espanhol) e um baita anúncio de página dupla da Repsol.

Se surgir algum problema Gilmar Mendes dá o habeas corpus.


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