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Adriano Benayon

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Brasil de Pé

Desnacionalização e defesa nacional

Adriano Benayon - Publicado: Segunda, 30 Mai 2011 02:00

Adriano Benayon

Intervenções estrangeiras: o Brasil sofreu ameaça de invasão durante a 2ª Guerra Mundial. Se não tivessem sido concedidas bases às FFAA dos EUA, estas teriam ocupado áreas, como Natal e outras, usadas para reabastecer os aviões dos EUA com destino à África.


2. Em 1945 e em 1954, embora moderado e conciliador, o presidente Vargas foi derrubado, por defender interesses nacionais. Os EUA usaram a influência que conquistaram junto aos oficiais da FEB sob seu comando na Itália, doutrinaram-nos ideologicamente, além de explorar o deslumbramento deles com os avanços tecnológicos e o poderio bélico estadunidense.

3. Em ambas feitas, os serviços secretos anglo-americanos organizaram conspirações com intensas campanhas nos bastidores e de mídia. Em 1945, o pretexto foi que Getúlio Vargas era ditador e queria continuar, não obstante ter ele decretado a realização de eleições, nas quais não concorreu à presidência.

4. Em 1954, montaram operação para implicar a guarda do presidente no assassinato do Major da Aeronáutica, Rubens Vaz, que prestava segurança a Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Vargas. O complô foi armado para matar o Major, como ocorreu, simulando, porém, que o alvo era Lacerda.

5. Houve também acusações a Vargas de corrupção, mentirosas, como comprova ter ele adquirido, durante toda a vida, só um simples apartamento, financiado. Getúlio não viajava ao exterior e nunca teve conta no exterior. De quantos políticos pode-se afirmar o mesmo?

6. A fórmula é sempre esta: exploram-se factoides e os sentimentos moralistas da classe média. Esta é enganada, crendo ser prejudicada com a reposição de perdas salariais dos trabalhadores, e distorce-se o conceito de democracia.

7. O golpe de 1954 foi chave na virada da política econômica que implantou a dependência financeira e tecnológica do País. O governo foi assumido pela UDN e militares americanófilos, na maioria, sendo Café Filho presidente só pró-forma. Passou-se a subsidiar os investimentos diretos estrangeiros (IDEs), e as empresas transnacionais sediadas no exterior foram ocupando os espaços econômicos do País. Abortou-se, assim, a verdadeira indústria nacional, que surgira ao longo da 1ª metade do Século XX.

8. A desnacionalização acentuou-se sob JK, que não modificou a política de subsidiar os IDEs e ainda lhes ofereceu favores adicionais. Inviabilizou a indústria automobilística nacional, ao entregar o mercado à Volkswagen e a outras transnacionais, donas de maquinaria e tecnologia amortizadas no exterior.

9. Em 1964 as FFAA dos EUA envolveram-se diretamente no golpe, pondo navios de guerra com tropas diante das costas brasileiras. João Goulart só teve um ano de governo sob regime presidencialista e provavelmente não tinha em mente reverter de modo cabal o processo de desnacionalização.

10. Pelo sim, pelo não, os serviços secretos estrangeiros armaram o golpe. Ademais, Goulart fez aprovar a Lei 4.131, de 03.09.1962, que limitou a remessa de lucros do capital estrangeiro, não revogada até hoje.

11. Ela não coibe as remessas de lucros disfarçados através de quinze mecanismos i, como subfaturar exportações e superfaturar importações, e pagar às matrizes serviços superfaturados e até fictícios.

12. Apesar de alguns chefes militares, de 1964 a 1982, não terem sido pró-capital estrangeiro e terem fortalecido empresas estatais, a linha mestra da política econômica e financeira continuou ajudando a concentração e a desnacionalização. Isso resultou na crise da dívida e na inadimplência. Desde 1977/1978, a maioria dos empréstimos e financiamentos externos destinava-se a rolar dívidas.

13. Na ausência de elite nacional capaz de influir positivamente nos destinos do País, deu-se a capitulação diante dos bancos estrangeiros, aceitando os extorsivos planos Baker e Brady. Esse processo, iniciado sob Figueiredo, último presidente militar, culminou com a fraude na Constituição de 1988, que privilegiou o pagamento do “serviço da dívida”.ii Paralelamente, deu-se a transição para a “democracia”, regida pelos serviços secretos estrangeiros que haviam orientado os golpes militares.

14. A desnacionalização deu passos gigantescos com Collor, só suplantados pelos desastres causados por FHC. Lula e Dilma nada consertaram e agravaram as coisas, inclusive com reformas tributária e previdenciária favoráveis aos concentradores.

15. Em suma, as potências hegemônicas usaram as FFAA brasileiras e depois as enfraqueceram. Hoje, o País está sem defesa diante das ameaças presentes. O regime “democrático” acelerou ainda mais a desindustrialização, prejudicando a base industrial e tecnológica sem a qual não há segurança nacional.

16. Esta não depende só de armamento, que pode ser importado, mas de nada serve num conflito que envolva as potências hegemônicas, não apenas porque elas dispõem de armas muitíssimo mais poderosas, como mísseis e arsenais nucleares, mas porque são essas potências que possuem os códigos dos chips das armas que vendem.

17. Veja-se a Guerra das Malvinas, em 1982. Com a heróica atuação de seus oficiais e soldados, a Argentina obteve êxitos, e encouraçados britânicos foram afundados por mísseis Exocet, adquiridos da França. Então, os britânicos e norte-americanos “convenceram” o governo francês a informar-lhes os códigos desses mísseis, tornando inevitável a derrota dos argentinos.

18. O Brasil já sofreu na própria pele, com a explosão do dispositivo que acionaria o míssil de sua missão espacial, em frente a cuja base se encontrava um navio norte-americano tipo Pueblo.

19. Até para negociar a aquisição de tecnologia estrangeira é indispensável estar apto a desenvolver tecnologias próprias de produtos e processos. Ora, em vez de iludir-se com bobagens, como tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, sem ter poder militar algum, o País tem por primeira tarefa reindustrializar-se com o máximo possível de tecnologias controladas por si.

Publicado em A Nova Democracia, nº 77 – maio de 2011

I Esses mecanismos são descritos no capítulo 7 de meu livro “Globalização versus Desenvolvimento”.

II De 1988 a 2010, a dívida pública já consumiu mais de R$ 6 trilhões dos cofres da União Federal.

* - Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br


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