1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (4 Votos)
Anjo Torres

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Em coluna

James Connolly e o 'resgate' da Irlanda

Anjo Torres - Publicado: Sexta, 03 Dezembro 2010 01:00

Anjo Torres Cortiço

Quiçá nom seja preciso fazer umha apresentaçom de James Connolly, mas para quem nom o conheça direi brevemente que foi um revolucionário marxista e patriota irlandês (nascido na Escócia) com umha intensa vida de militáncia ao serviço da classe operária, do socialismo e da libertaçom nacional da Irlanda, vivesse lá, na Escócia ou nos Estados Unidos.


A sua vida militante abarcou diversos ámbitos, desde o sindicalismo à fundaçom de partidos obreiros socialistas, desde o jornalismo à organizaçom da milícia operária do Exército Cidadao Irlandês que, junto com os Voluntários Irlandeses, protagonizou o Levantamento de Páscoa de 1916, fito de capital importáncia no processo de libertaçom nacional irlandês. James Connolly foi fuzilado o 12 de Maio de 1916 polas tropas de ocupaçom británicas depois da derrota do Levantamento de Páscoa, mas a sua figura e o seu exemplo passárom a fazer parte do património do povo trabalhador irlandês e das suas organizaçons políticas e militares para a libertaçom nacional e social.

A sua figura, o seu pensamento e a sua obra prática volvem à actualidade nestes dias em que a República de Irlanda (o estado que ainda hoje abrange só umha parte da naçom irlandesa) foi intervida polas instituiçons do capitalismo internacional, pola Uniom Europeia e o FMI, para "resgatá-la" e "ajudá-la" a superar as dificuldades financeiras do estado que até o começo da actual crise capitalista mundial era louvado pola sua "milagrosa" e aparente descolagem económica, baseada na especulaçom imobiliária e nas tremendas facilidades fiscais outorgadas às grandes transnacionais das novas tecnologias para assentar-se no país (Microsoft, Intel, IBM, Motorola...).

Parece ser que ao estourar a bolha financeira-imobiliária em 2008 o governo irlandês correu apressado a salvar os seus bancos, injectando-lhes 50.000 milhons de euros. Isto deixou o estado sem recursos e endividado, algo no que influiu decisivamente a política de facilidades fiscais às empresas (o imposto de sociedades é do 12,5% frente ao 24,5% da meia da UE). Irlanda encontrou-se sem dinheiro para pagar os créditos que adivida à banca británica (42.000 milhons de dólares), alemá (46.000 milhons de dólares), estado-unidense (25.000 milhons de dólares) ou francesa (21.000 milhons de dólares). Mas os tubarons das finanças nom tenhem piedade e começárom a sua campanha para forçar a intervençom da UE do FMI.

Finalmente o governo irlandês aceitou submissamente as ordens dos seus amos. Receberá 85.000 milhons de euros que deverá devolver com uns juros do 5%. Os bancos e os que especulam com as dívidas dos estados receberám, de novo, milhares de milhons de euros. Irlanda aplicará obediente medidas de ajuste para rebaixar o défice público do 32% ao 3% em 4 anos. O povo trabalhador sofrerá a reduçom do salário mínimo, o aumento do IVA, o aumento das taxas no ensino ou o retrasso na idade de reforma até os 68 anos. Um negócio perfeito para a burguesia. A independência formal que atingiu a República de Irlanda, emancipando-se da secular opressom do imperialismo británico, fica agora em nada e é de novo o imperialismo quem governa aos trabalhadores e trabalhadoras irlandesas. Um caminho parecido ao que seguiu Grécia e que podem seguir Portugal e o Estado espanhol proximamente.

É por isto polo que lembrei os múltiplos artigos em que James Connolly falava da ligaçom existente entre a libertaçom nacional e a construçom do socialismo como única maneira de garantir umha verdadeira soberania para a Irlanda, isto é, para o povo trabalhador. Assim, no artigo "Socialismo e nacionalismo", de 1897, replicava ao nacionalismo interclassista:

"Se amanhá expulsades o exército inglês e erguedes a bandeira verde no Dublin Castle, a menos que emprendades a organizaçom da república socialista, os vossos esforços ham ser em vao.

Inglaterra ainda vos dominará. Dominará-vos por meio dos seus capitalistas, por meio dos seus terratenentes, por meio dos seus financeiros, por meio da série de instituiçons comerciais e individuais que plantou neste país e regou com as bágoas das nossas maes e o sangue dos nossos mártires.

Inglaterra ainda vos dominará até a vossa ruína, inclusive mentres os vossos beiços ofereçam umha hipócrita homenagem ao altar dessa liberdade que atraiçoastes.

O nacionalismo sem socialismo, sem umha reorganizaçom da sociedade sobre a base de umha mais ampla e desenvolvida propriedade comunal que era o alicerce da estrutura social da antiga Eirim, é só covardia nacional."

E em "A bandeira irlandesa", artigo escrito poucos dias antes de que o Exército Cidadao Irlandês, sob a bandeira "Starry Plough", protagonizasse o Levantamento de Páscoa, acrescentava:

"Queremos umha Irlanda para os irlandeses. Mas, quem som os irlandeses? Nom o terratenente usureiro e proprietário de casoupas, nom o capitalista negreiro devorador de benefícios, nom o advogado meloso e gordurento, nom o jornalista prostituído, mentiroso alugado polo inimigo. Nom som estes os irlandeses dos que depende o futuro. Nom som estes senom a classe operária irlandesa, o único alicerce seguro sobre o que se pode erguer umha naçom livre."

A história deu a razom a Connolly e olhamos hoje como, mesmo nos estados formalmente independentes da Europa, a luita contra o imperialismo e contra um sistema capitalista doente que tenta sobreviver aumentando a opressom e a exploraçom da classe trabalhadora, está ligada à luita pola soberania nacional real (a que mantém Cuba desde 1959, por exemplo).

Umha liçom da que na Galiza também devemos tirar conclusons. Nengumha libertaçom virá da mao de umha falsa uniom de interesses entre a burguesia galega e a classe operária. Empenhar-se nisso, como fai o autonomismo, é umha estupidez, um engano e umha traiçom. Também nom os titubeios e a tendência a situar a libertaçom nacional como o principal e quase o único factor na luita independentista nos farám avançar, a independência nom é algo abstracto, sempre responde aos interesses concretos de algumha classe social. A ligaçom entre libertaçom nacional, social e de género é a chave para atingirmos umha verdadeira independência para a verdadeira naçom, a naçom trabalhadora.

Fonte: Primeira Linha.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.