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Alberto Garcia

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Esperanto, mais do que uma língua para a comunicação internacional

Alberto Garcia - Publicado: Segunda, 16 Agosto 2010 02:00

Alberto Garcia

"A idéia interna do Esperanto é: fundando-se sobre um idioma neutro fazer desaparecer as barreiras entre os povos e fazer que as pessoas se acostumem a ver as outras apenas como pessoas e como irmãs" [L. Zamenhof, 1912]

Para compreender a idéia do esperanto é bom realizar um exercício de imaginação. Repara na seguinte situação: um acidente de trânsito em qualquer vila da Galiza, com dois veículos implicados, um conduzido por um turista francês e um outro por um turista inglês. Ambos falam apenas a sua língua natal e estão em desacordo sobre a responsabilidade do sinistro. Ao pouco chega um polícia para levantar atestado, que também não pode falar nenhuma destas línguas. O conflito está assegurado; para a sua resolução seria necessária a participação de pelo menos três tradutores-intérpretes, com o conseguinte gasto de tempo, esforço e dinheiro.

Agora imagina que todos os atores deste drama podem se expressar corretamente numa segunda língua auxiliar que lhes permite se compreender. A situação resolver-se-ia facilmente sem passar a ser maior problema.

O esperanto: fundações e história

O esperanto é uma língua artificial criada no final do século XIX por Ludwik Zamenhof, um oftalmologista judeu nascido em Bialystok, uma cidade que naquele momento pertencia ao Império Russo (atualmente à Polônia) Segundo o seu depoimento, Zamenhof criou-se num ambiente multi-étnico, dado que a sua cidade natal estava habitada por russos, alemães e lituanos. Tinha observado que a diversidade lingüística entre os povos podia causar sérias dificuldades e conflitos.

Isto motivou-lhe para procurar uma solução ao problema: uma língua apta para a comunicação internacional que deveria cumprir cada um dos seguintes requerimentos:

- Não podia ser uma língua nacional, dado que os falantes dessa língua teriam vantagem sobre todos os demais à hora de estabelecer comunicação internacional. Isto permitiria a comunicação ser justa, com igualdade de direitos e com recíproco respeito pela língua do outro. A supremacia do inglês agora, ou do francês no seu dia, não é mais do que uma outra mostra injusta de imperialismo e hegemonia econômica.

- Tinha que ser fácil de aprender. Está demonstrado que o esperanto se aprende dez vezes mais rápido que qualquer segunda língua nacional. É uma língua que só tem dazasseis regras gramaticais e nenhuma exceção. Seis meses de estudo são suficientes para expressar-se com correção em esperanto. Além disso é uma língua plenamente funcional, apta para designar todas as realidades da vida e válida para qualquer campo do saber: ciência, literatura, filosofia, artes, tecnologia, etc.

- Devia promover o respeito pelas línguas nacionais, especialmente as minoritárias e/ou minorizadas que estão em perigo de desaparecimento. Já que o esperanto é uma língua artificial auxiliar, nenhum povo do mundo a acha própria, fazendo mais difícil que alguma potência imponha a utilização da sua língua nacional para a comunicação internacional sendo pretexto dum mero imperialismo.

- Não podia favorecer o modelo patriarcal nem a invisibilidade social das mulheres. Não existe o gênero gramatical em esperanto, só uma desinência que marca o sexo se é necessário para expressar essa realidade. É bem sabido que as línguas nacionais são reflito das injustiças sociais, neste aspecto como em muitos outros.

A idéia de Zamenhof era criar uma língua útil para comunicação entre os povos do mundo que ao mesmo tempo fosse neutra, que não estivesse de parte de nenhum tipo de gente ou de cultura, proporcionando uma atmosfera de igualdade de direitos, tolerância e verdadeira internacionalidade.

O esperanto tem uns 130 anos de vida nos que sofreu incompreensão, rejeição e inclusive repressão política. Os esperantistas foram perseguidos e assassinados durante a Segunda Guerra Mundial por Hitler e depois por Stalin, por ser considerados falantes duma língua de espiões criada por um judeu ou um idioma de pequenos burgueses, todo isso unido a sua condição de pacifistas. No entanto há historiadores que reconhecem que durante o período de entre-guerras chegaram a atingir a impressionante cifra de 10 milhões de falantes.

O esperanto no Mundo de hoje

Hoje em dia o esperanto desfruta de muito boa saúde. Conta com uma Associação Mundial com secções organizadas em 70 países e com membros individuais nuns 120. Há falantes de esperanto em tudo mundo, com concentrações notáveis em países tão diversos como a China, o Japão, o Brasil, o Irã, Madagascar, a Hungria e Cuba. Existe uma rica literatura original em esperanto. Algumas obras tiveram tanta importância que foram traduzidas para outros idiomas. Calcula-se que existem mais de 35.000 livros escritos em esperanto, tanto traduções como originais, entre os quais a Bíblia, o Corám, O Quixote ou O Senhor dos Anéis. Ainda existe uma Academia do Esperanto, fundada em 1905, com a tarefa de conservar e proteger as fundações do idioma e controlar sua evolução. Com o tempo foi se construindo a partir do esperanto uma fértil cultura definida que não é própria de nenhum povo ou nação, mas patrimônio da humanidade no seu conjunto.

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O inglês como qualquer outra língua nacional merece respeito e aprecio. No entanto, seu atual domínio no mundo é um fato e um resultado principalmente da globalização neoliberal. Esta situação precisa de um exame crítico de todas as suas conseqüências. Um outro mundo, para merecer esse nome, deve reexaminar os seus princípios básicos. Será caduco desde o princípio se não inclui a conservação da diversidade cultural, o que torna indispensável uma profunda reorientação do uso lingüístico mundial. O esperanto amostra aqui umas perspectivas valiosas e pode ter um papel importante. É por isso que merece mais atenção e um estudo mais sério que o que recebeu até agora. Empenho não evidente na nossa sociedade de cada vez mais anglófila.

Os esperantistas lutam porque a ideia de Zamenhof germine na sociedade. É mais um passo para a construção dum mundo melhor e mais justo. Fica claro que não são muitos, mas como o companheiro Fidel Castro disse num discurso pronunciado no Congresso Internacional de Esperanto realizado na Havana no ano 1990: "Vocês os esperantistas foram perseverantes numa tarefa que é muito difícil, mas vão tendo sucesso, vão triunfando. Se se desalentam nalgum momento, pensem que o cristianismo começou com um grupo menor, e olhem o que são agora... Vocês triunfarão, porque a idéia é muito justa"

Que assim seja, Comandante.

Nas imagens:

1-Faixa em esperanto nas manifestções pela libertação nacional da Catalunha. Diz "Nós queremos a independência. Nós desejamos um estado próprio".

2-Bandeira do esperanto.



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