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Iñaki Gil de San Vicente

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Precisamos de poder

Iñaki Gil de San Vicente - Publicado: Terça, 27 Setembro 2011 04:31

Iñaki Gil de San Vicente

Entre milhares de notícias idênticas, quatro muito recentes enfrentam-nos ao problema do poder.


Umha, o FMI exige à burguesia grega que condene ao desemprego a 100.000 trabalhadores mais. Duas, a transnacional Renault adverte a Japom que pode deslocalizar a sua empresa em Yokohama se nom toma medidas para conter a revalorizaçom do iene com respeito ao dólar e ao euro. Três, os Estados Unidos saem umha vez mais em defesa de Israel e na contramao do direito palestiniano ao seu próprio Estado. E quatro, euroalemania aplaude à burguesia espanhola polo golpe constitucional que amputa ainda mais as raquíticas liberdades e direitos ainda sobreviventes. As quatro tenhem relacionamentos diretas e indiretas com Euskal Herria, fam referência ao papel dos Estados, às grandes corporaçon transnacionais, às agências imperialistas que defendem os interesses do capital financeiro e à funçom do medo e da violência na política assim que economia concentrada. Em síntese tratam sobre a dialética entre o poder do capital e a exploraçom dos povos sem poder próprio.

Escolhemos estes exemplos nom só porque som recentes senom porque proponhem problemas que em aparência se mexem na estratosfera da alta política, mas que na realidade bulem na materialidade da vida quotidiana dos povos esmagados. Embaixo dessas grandes notícias agitam-se as resistências e os debates por melhorar as formas de organizaçom das gentes. O povo palestiniano, dividido e esmagado, tivo que experimentar todas as formas organizativas possíveis, e o povo grego lembrou em pouco tempo as formas de auto-organizaçom com as que resistiu aos nazistas e aos británicos. A classe operária do Estado francês sustentou greves vibrantes em 2010 enquanto as grandes empresas da sua burguesia saqueavam o mundo, e no Estado espanhol a debilidade histórica das esquerdas dificulta a descolagem das resistências, enquanto as naçons oprimidas caminhamos na frente.

Ao longo destas e outras práticas muito anteriores aprecia-se umha dinámica de avanço instável e inseguro, oscilante, com recuos e derrotas, que pode ir do contra-poder ao poder popular e ao Estado operário passando polo duplo poder. Falamos de umha dinâmica histórica que nos seus embrions aparece já na auto-organizaçom clandestina dos trabalhadores ingleses desde finais do século XVIII, com a sua auto-organizaçom, solidariedade e ajuda mútua, marchas, manifestaçons, greves e sabotagens. Um século depois, desde finais do XIX, a mesma dinâmica começará a estender-se por Hego Euskal Herria conforme avança a industrializaçom. E o mesmo acontecerá, mas numha escala qualitativamente superior e mais rica a partir de finais da década de 1950 com o início do processo que culminará com a fusom do independentismo com o socialismo.

Um coletivo operário que se organiza para legalizar umha assembleia, umha associaçom de vizinhos e vizinhas, um grupo de estudantes, um coletivo feminista que consegue que um agressor seja julgado, umha Cámara municipal que passa a maos do povo, etc., som práticas de contra-poder porque conseguírom assentar umha força classista, popular, social, vizinal, de sexo-género, que, no seu campo de açom, detém um fechamento de empresa, umha urbanizaçom irracional ou qualquer outro ataque do poder dominante; ou ao menos condiciona-o fortemente. E tanto mais som um contra-poder na medida em que o seu agir é inserido numha estratégia independentista, de fortalecimento da identidade e língua basca.

Mas pola mesma natureza da política como economia concentrada que em última instáncia depende do Estado ocupante, por isto, o contra-poder nunca é estável porque é imediatamente combatido, submetido a toda a série de pressons. Um contra-poder que ficar à defensiva dura pouco, começa a desanimar-se se nom consegue mais conquistas. A luita ofensiva é a vida do contra-poder e isso fai com que, se quer existir, tem de dar o salto ao duplo poder. Nom há outra alternativa à luz da experiência histórica, e portanto da teoria.

Da mesma forma em que todo contra-poder que se detém no seu avanço começa a se debilitar e, mais cedo que tarde, a recuar, o mesmo lhe acontece mas a escala mais ampla e rápida às situaçons de duplo poder. Um contra-poder estável, por agora, som as cámaras municipais e outras instituiçons “superiores”, e podem e devem constituir-se em duplo poder graças à sua capacidade pedagógica, conscientizadora, de planejamento democrático, etc., mas baterám em mais e mais resistências do Estado espanhol e os seus peons autótones.

O duplo poder caracteriza-se pola sua capacidade de derrotar planos importantes do poder opresor, desde urbanísticos até sociais, culturais, linguísticos, ecológicos e mesmo, e sobretodo, para ativar vias sócio-económicas muito progressistas que podem, se se quisesse fazer, começar a minar algumhas bases da propriedade privada e da força repressiva do Estado. Por exemplo, cooperativismo popular, de produçom e consumo, recuperaçom pública de empresas e de bens comuns, redes de intercámbio justo interno e internacional, economia solidária e empréstimos sem interesse, bancos de tempo, jazigos de trabalho social, segurança coletiva democrática, luita em massa pola anistia, etc. Mas estas vias devem assentar-se em umha crescente mobilizaçom política de massas em que o povo trabalhador seja a força diretora, e dentro deste a classe operária. Se o duplo poder nom avança, recua.

Falamos da dialética entre reforma e revoluçom, programa mínimo e programa máximo, auto-governo tolerado e independência socialista. Em um capitalismo em crise, nada disto se deve fazer sem um programa de integraçom das mal chamadas “classes médias” e da pequena e média burguesia, a diferentes níveis obviamente, mas deve ser feito. Nom é um debate novo na história política, remonta-se, no mínimo, à revisom crítica dos erros cometidos polas forças revolucionárias em 1848-1849. O capital aprendeu da Igreja a manipular as consciências e a dirigir a estrutura psíquica de faixas sociais e classes intermédias para a obediência à “figura do Amo”. É certo que a opressom nacional dificulta a tendência latente para o autoritarismo, presidencialismo e fascismo, reserva reacionária que dorme como um vírus no inconsciente de massas. Mas a consciência nacional nom é umha vacina perfeita, precisa de umha praxe estratégica que alumie sempre os objetivos irrenunciáveis. Por isto, é vital continuar a avançar do duplo poder ao poder popular, ao Estado basco inserido na República Socialista Basca. O duplo poder extingue-se ou é afogado em sangue se nom avança ao poder estatal, popular.

Compreendemos agora melhor o significado prático e imediato das quatro notícias com as que iniciávamos este artigo. A necessidade de um Estado é inegável para as naçons oprimidas se queremos sobreviver na mundializaçom capitalista. Inclusive os povos formalmente soberanos precisam de recuperar a independência económica que as suas burguesias entregárom ao imperialismo, e neste contexto todo o Estado que quiger defender o seu povo tem de avançar ao socialismo com o poder popular e a solidariedade internacionalista. Nom há outra alternativa, caso contrário será engolido pola desnacionalizaçom inerente à expansom do capital e re-nacionalizados, subsumidos, nas novas formas ideológicas e culturais criadas polas re-ordenaçons imperialistas que estám a ter lugar. Sem um Estado basco, seremos umha regiom inserida em um protetorado económico com forma de Estado periférico da Uniom Europeia.

Euskal Herria, 21 de setembro de 2011


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