1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (5 Votos)
Séchu Sende

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Em coluna

Pobrinh@, nom sabe falar galego

Séchu Sende - Publicado: Sexta, 18 Março 2011 01:00

Séchu Sende

A minha filha está aprendendo a falar.


Na rua, no parque ou na biblioteca alguns nenos e nenas falam-lhe galego, muitos, castelám e quando estamos fora falam-lhe inglês, turco, croata… Na última viagem a minha filha chegou saudando em curdo: Roj bas, spas! Com menos de dous anos já fala o curdo melhor que seu pai e sua mae juntos!

É habitual observar nenos e nenas galego-falantes que quando falam com um castelám falante mudam de língua. Ao final acabam reproduzindo comportamentos que ainda muitos adultos padecem como qualquer outra afeçom psicológica.

Ui, que bonita é a nena…, -dixo-me hai uns dias umha senhora na rua-. E como se chama?
Estrela…
Ay, Estrella, que bonita, y que ojos tan grandes, cuchi, cuchi!
-    Senhora, -sorrim-, fale-lhe galego que a nena é de aqui.

Por aquilo das curiosidades sociolingüísticas, na casa anotamos num papelinho as vezes que lhe trocam o nome á nossa filha. De Estrela para Estrella. Pensei que podia ser um bom agasalho de aniversário para quando cumprisse os 18. De momento, em 23 meses, duas semanas e 1 dia já lhe mudárom o nome 47 vezes, -que nós saibamos-.

A ativista pola língua mais nova que conheço tem cinco anos. Cansa de que lhe chamassem por um nome que nom era o seu, quando umha senhora lhe dixo por enésima vez: Ui, que bonita me eres, Marina… ela ergueu a voz: Eu som Marinha!, Nha! Nha! Nha!

Como neno eu tamém vivim baixo a norma social que, condicionada polos preconceitos, obriga a muita gente velha –mesmo a galego-falante- a falar em castelám com a gente nova. Existe essa lei que vem ditar que quantos menos anos tem um galego ou galega menos possibilidades tem de que lhe falem em galego e, ao tempo, quanto maior é a pessoa, maior é a possibilidade de que lhe falem na língua do país.  No documentário Línguas Cruzadas, de Maria Yáñez e Mónica Ares, um rapaz castelám-falante verbaliza este comportamento exótico: Si me habla gallego un señor mayor yo a lo mejor si que le hablo en gallego.  Eu chamo-lhe a Lei de Matusalém, porque Matusalém seria esse velhinho que teria ganhado, por razom de idade, o direito a que a gente lhe fale em galego. Às vezes eu mesmo gostaria de ter noventa anos para gozar dessa situaçom…

Conheço o caso de alguém de minha idade, de Redondela, que prendia na língua. A mae, quando era um cativo, levou-no ao médico, que lhe dixo: Yo no le puedo arreglar el tartamudeo pero, si quiere disimular un poco, mejor que hable castellano. Talvez foi a primeira vez que alguém deixou de falar galego por prescriçom médica. Nom consta receita por escrito. Lástima, seria um documento histórico valiosíssimo!

Mas nom toda a gente obedece a Lei de Matusalém. E eu devo agradecer a todas essas pessoas que me falárom galego quando fum neno e moço porque as suas palavras mantiverom-me unido ao idioma que hoje falo. Para todas as pessoas velhas que lhes falades galego aos nenos e ás nenas, -faledes habitualmente em galego, ou mais em galego, ou mais em castelám,- um abraço entre estas palavras.

Quando umha persoa maior nom lhe fala galego a um neno está a excluí-lo da cultura que nos une. Quando um adulto nom lhe fala galego a umha nena está a expulsa-la da própria comunidade. Quando tu nom lhe falas galego a umha nena estás a impedir-lhe um desenvolvimento comunicativo livre. Quando nom lhe falas galego a um neno estás a privá-lo da liberdade de poder expresar-se na língua dos galegos e das galegas. Quando umha nena ou um neno medra sem contato com a nossa língua converte-se num inadaptado.

Mas quando lhe falamos galego a um neno enriquecemo-lo. Fazemos-lhe entender que a pesar das diferenças a língua nos une. Quando tu lhe falas galego a umha nena das-lhe umha chave para compreender o mundo que a rodeia. Quando lhe falas galego estás a dar-lhe a posibilidade de que melhore as suas habilidades comunicativas. Quando lhe falas galego estás a abrir-lhe umha porta de desenvolvimento, progresso e felicidade.

Escrevim todo isto porque hoje me contárom que a filha doutra colega, de cinco anos, o outro dia quando chegou a casa contou-lhe à mae que topara um neno muito simpático no parque…

-Pobrinho, dixo-lhe à mae.
-Por que?
-Porque nom sabia falar galego.
-Nom sabia falar galego?
-Nom, só sabia falar castelám. Pobrinho. Eu falei-lhe em galego, a ver se o vai aprendendo.

Fonte: Galiza Confidencial


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.