Contudo pode-se asseverar a desigualdade feminina, porque, por mais que se comparta o mesmo espaço – o que tampouco sucede -, homens e mulheres vivem em mundos diferentes. Dá-se umha pavorosa desigualdade em liberdades, saúde, sexualidade – mesmo é possível falar de escravitude sexual mundializada -, trabalho doméstico e assalariado, educaçom, política, religiom, et cetera.
Umha violência simbólica, diria Pierre Bourdieu, nom captada, fundamentada no reconhecimento, obtida por um trabalho continuado de inculcaçom de cara a legitimar e assegurar a permanência da dominaçom.
Umha violência que veicula as normas das classes dominantes e que vai sempre contra as classes populares.
Niste caso umha violência sobre as fêmeas, sibilina, dissimulada, ocultada... e que impom umha visom do mundo, uns roles sociais, umhas categorias cognitivas e umhas estruturas mentais.
Violência que se muda, também em palavras de Bourdieu, num habitus ou sistema de disposiçons duradouras que o indivíduo adquire no processo de socializaçom e que gera e organiza as práticas e as representaçons dos indivíduos e dos grupos. E que naturaliza, tenta atribuir à biologia, à genética, algo que somente fai parte da lógica do poder socioeconómico e simbólico.
E issa naturalizaçom transforma os corpos em alvos privilegiados do poder, somatiza-se o domínio. Há toda umha hierarquia corporal: corpos submissos e corpos agressivos. No andar, nas faces, no vestir, nos gestos... Encarna-se a subjugaçom...
E quando se di que os que exercem a violência som doentes a tratar proporciona-se umha percepçom calmante que esconde o patriarcalismo e o status de sujeito dominado.
E há umha dupla vitimizaçom da mulher: a que deriva da situaçom patriarcal e assim mesmo, por mais que se ligue à anterior, a culpabilizaçom que se produz com farta frequência.
E non se esqueça que crer mentiras é criar verdades.
Já som tempos de arrostar a mitologia neoliberal que favorece um tratamento eufemístico da questom das relaçons de género e todo para glória e ledícia de viver juntos na diferença, flanco benevolente da desigualdade.