Mas esses mandatários vão sempre por diante e seus governos avançam, no âmbito interno, mudando para melhor as deploráveis -e históricas- condições de vida de boa parte de sua população e experimentando com mecanismos de participação popular impensáveis no norte; e no âmbito externo erguendo a voz para propor novos modos de integração entre os Estados, novas e mais justas regras de cooperação internacional e, sobretudo, novas formas de pensar o planeta, ou de nos relacionarmos com ele.
O Equador acabou de dar um passo prático, talvez fundamental, para uma nova ética planetária, que é como definiu a sua ministra do Património, María Fernanda Espinosa, a assinatura no passado dia 2 de agosto do fideicomiso entre seu governo e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para desenvolver a iniciativa Yasuní-ITT.
De modo simples, diremos que a dita iniciativa, ideada há três anos, quer deixar sob terra reservas de petróleo de até 850 milhões de barris em três xacementos -Ishpingo, Tambococha e Tipuyini (ITT)- do Parque Nacional Yasuní, um dos lugares de maior biodiversidade da Amazonia, no que ainda moram os Tagaeri e os Taromenane, os dois últimos povos indígenas em isolamento voluntário do país.
Em troca, o Equador apela à corresponsabilidade internacional (iriam deixar de ser emitidos 407 milhões de toneladas de CO2) e a novas regras de relacionamento entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, pedindo uma compensação econômica equivalente a só metade do preço que esse petróleo teria no mercado, uns 3.600 milhões de dólares que serão administrados pelo antedito fideicomiso e empregado em projectos de energias renováveis, conservação de áreas protegidas, reflorestação, investimento social, ciência e tecnologia, etc. Alemanha, Bélgica, França, Espanha, Itália e Noruega, assim como muitas instituições privadas, já manifestaram que contribuirão para o dito fideicomiso.
É de justiça lembrar que o Equador -sim, esse Estado andino dirigido pelo mesmo Correa que vemos nas fotos com Chávez e Morales- é um país bem pobre. Tem no ouro preto a sua maior fonte de riqueza, pois constitui 22% do seu PIB e quase 65% de suas exportações. Ao mesmo tempo, o crude que se pretende deixar abaixo dos ricos chãos do Yasuní representa não menos de 20% das reservas do país. No entanto, é capaz de empreender uma aventura radical a favor de um planeta mais saudável e de uma economia mais sustentável. Aventura? Bem, havemos de ver isso nos próximos anos, mas no mínimo alguém dá passos para tentar reverter a agonizante situação do planeta de todos. O que fazem os outros?