Ó, minha senhora, mas lá são finlandeses! Lá estou eu com coisas, não quero bajular o estrangeiro em detrimento de coisa nenhuma, nem desvalorizar o produto português, quero eu dizer, mas lá rumam para a democracia e certas coisas já estão, digamos que, ultrapassadas... Eu sei que é chata essa coisa, seria muito mais interessante, povo-clero-nobreza e burguesia para explorar pessoas e diamantes. Mas não dá, os tempos mudam e parece que se quer a democracia. Eu próprio não sei em que moldes se quer esta, há muitos contrassensos lá, embora me queira parecer que mais os há por cá. Sei que, em qualquer molde, faz esta comichão no rabo, a muita gente, porque quer ela que todos sejam humanos!
Ai os títulos, minha douta senhora! A entrada foi-lhe barrada e a senhora empertiga-se com o título seu e de seu pai, deus o valha, que também fora embaixador deste país? Muito bem representado andamos, vivesse eu na Finlândia e, acusando-me inevitavelmente a fisionomia sul europeia, dizia antes que era espanhol! E, minha senhora, deve saber que, se algo entende de história (o que duvidarei, pela indução do sucedido), antes Tudo, em capital letra, que espanhol. Mas a senhora não me deixaria outra solução. Ó valha-me a Santa Engrácia, do mal, o menos! Fez-me a sua afirmação lembrar outra, igualmente marcante, embora pela inteligência, durante um episódio do documentário "A Guerra", de Joaquim Fortado, na qual o entrevistado, relatando os tempos da outra senhora, mãe dos títulos e vícios proto-burgueses desta república endemoninhada, dizia "as senhoras Marias tornavam-se todas Senhoras Donas Marias, quando atravessavam o equador". Capitulando os títulos e a estupidez extemporânea perpretada durante a colonização portuguesa, a senhora aventura-se na Finlândia onde, apesar de não ter atravessado a linha longitudinal do Ecuador, atravessou a linha de Greenwich e todas as outras imaginárias linhas que nos fazem ser um país de medíocres políticos e embaixadores, como tão bem os caracteriza. Quer levar o quê para a Finlândia? Os bons costumes do passado português, senhora dona embaixadora?
Não me faça trincar cebolas cruas para fingir o choro do riso que me causa. É que, às vezes, prefiro parecer o que não sou.