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Manoel Santos

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Às vezes ouço passar o vento

Touros e nacionalismo

Manoel Santos - Publicado: Quarta, 04 Agosto 2010 16:05

Manoel Santos

"Um pequeno passo para a humanidade. Um grande salto para os touros", escrevia neste jornal Antón Losada, fazendo referência à abolição das touradas na Catalunha.


Com efeito, aí deveria estar a cerna da briga dialéctica, pois além dos interesses nacionalistas catalães e espanhóis, que de fato há e com toda a legitimidade -não responsabilidade- o que com certeza aconteceu no Parlamento da Catalunha a 28 de Junho constitui um grande avanço na defesa dos direitos dos animais não humanos, assim como "na concepção da cultura avançada e progressista", como apontava Xoán Ermida em Galizia Ecosocialista.

Afinal, face aos ridículos e indecentes apelos à liberdade e à democracia esgrimidos pelos defensores da tortura-espectáculo, que lembram essa falácia da liberdade e o mercado, o que ocorreu foi precisamente isso, um exercício de liberdade e expressão democrática -aliás via iniciativa legislativa popular- do povo catalão representado pelo seu Parlamento. Ou não era isto a democracia representativa?

Tendo como premissa o anterior, é certo que para muitos nacionalistas catalães a proibição da dita festa nacional (espanhola) é também uma vitória, mais anedótica do que útil, na sua ansiada diferenciação, porquanto esquarteja na Catalunha um dos símbolos mais identificadores do nacionalismo espanhol. Mas esses interesses são legítimos e entendíveis, porquanto a diferenciação é estritamente necessária para a sobrevivência dos seus sinais de identidade -a cultura, a língua ou mesmo o sentimento (negado) de nação-, que correm perigo tanto por absorção e contaminação por parte da cultura hegemónica do Estado -apontemos que as touradas não são cultura, mas tortura-, como pela frontal ofensiva lançada contra o catalanismo pelo nacionalismo espanhol há já alguns aninhos, que criou uma perigosa rejeição de todo o catalão na maior parte do Estado. Dessa envenenada sementeira espanholista colhem-se agora os frutos.

Daquela, perguntarão, que diferença há entre ambos os dois bandos, se os dois são nacionalistas. Muitas, mas a principal está em que o nacionalismo espanhol, abrigado numa base legal herdada em bastantes aspectos do franquismo, funciona por negação de direitos, identidades e mesmo sentimentos; enquanto os nacionalismos periféricos funcionam por afirmação ou conquista desses mesmos direitos. Afinal, os primeiros só defendem e tratam de forçar, ou impor, a unidade territorial, mas só sob os seus excludentes símbolos, e os segundos só pretendem conservar o seu, tendo em conta que nos referimos ao conceito simbólico de, por exemplo, a cultura, a história e a língua, apesar de que evidentemente são bem mais que símbolos.

Porém, talvez com a proibição das touradas se abra um caminho para que os segundos clonem a nociva estratégia dos primeiros, empregando para isso as suas fracas armas legais, por muito que a tortura -seja dos outros animais que povoam o planeta ou da nossa espécie- não seja um direito a negar ou afirmar, mas uma barbaridade.


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