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Óscar Peres Vidal

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Evoluçom da Economia Galega: fracasso do binómio “Espanha-Capitalismo”

Óscar Peres Vidal - Publicado: Quinta, 08 Janeiro 2015 13:04

"Nos países democráticos nom se revela o caráter de violência que tem a economia; nos países autoritários, ocorre o mesmo com o caráter económico da violência." Bertol Brecht


O último informe publicado polo Conselho Económico e Social da Galiza (CES) referente à situaçom económica e social no nosso país no ano 2013, oferece, em traços grossos, a descriçom dumha naçom que oferece sintomas preocupantes tanto de presente como de futuro. Umha sociedade envelhecida, na qual diminui a populaçom emquanto a economia permanece estancada ou em retrocesso. É umha sociedade em crise tanto do ponto de vista social como económico.

Frente a essa Galiza idílica que nos querem vender os diferentes governos do Partido Popular, tanto na Moncloa como em Rajoi, sob a ideia de que umha mentira contada bem freqüentemente se torna verdade, a realidade monstra o seu traço mais terrível e o que é mais dramático, sem quase sinais de recuperaçom. Ao invés, a exploraçom do trabalho e a degradaçom da vida da classe trabalhadora se agudiza nos últimos anos, como condiçons necessárias para o capital se recuperar da sua crise.

Em multidom de ocasions, temos analisado a dramática situaçom da classe trabalhadora na Galiza, assim como as causas estruturais tanto do desemprego como do comportamento diferenciado do "mercado do trabalho" relativamente ao Estado espanhol, e como esta situaçom foi piorando nos últimos anos com a nova crise do sistema capitalista iniciada em finais de 2007.

Se bem a crise tem sacudido praticamente as economias de todo o mundo e sobretodo à classe trabalhadora dos respectivos Estados, no caso de Galiza esta situaçom é muito mais marcada pola imposiçom "espanha – capitalismo". Sob este binómio oculta-se precisamente um projeto político-económico, implementado há décadas, consistente em tornar inviável e economicamente dependente a nossa naçom. Só assim podemos explicar o ataque histórico aos nossos setores económicos e estratégicos e a transformaçom imposta na nossa economia desde finais do franquismo. Desde há décadas, os diferentes setores da nossa economia tenhem sido atacados e desmantelados por parte do Estado espanhol e da Uniom Europeia. Apesar de na maioria dos casos continuarmos a ser referentes, também é evidente que temos perdido peso especifico em relaçom a quando éramos potência mundial a nível pesqueiro, agro-pecuário e naval, para pôr alguns exemplos. Assim, a economia galega de finais dos anos setenta nom tem nada a ver com a atual. A distribuiçom da ocupaçom por setores da economia galega nos últimos quarenta anos demonstra esta transformaçom forçada e imposta polos diferentes governos.

A demografia no nosso país, sintoma da doença da nossa economia

Sem dúvida, umha conseqüência das diferentes políticas implementadas na Galiza é a perda continua de populaçom e o envelhecimento da mesma. Um estudo recentemente publicado polo INE e o IGE prognostica que a Galiza poderia perder mais de 205.000 pessoas nos vindouros 15 anos.

Em julho de 2013 (segundo os dados tirados no relatório do Conselho Económico e Social publicado em julho de 2014)a populaçom da Galiza situava-se nas 2.753.960 pessoas, quer dizer, 8.010 residentes menos do que ao começo do ano, devido a um saldo negativo migratório (-1.963 pessoas) e a um crescimento vegetativo negativo. A perda de populaçom é umha constante nas últimas décadas, mas sem dúvida agravada desde o início da nova crise económica. Assim, no intervalo 2008-2013, a populaçom na Galiza desceu em mais de 30.000 pessoas, em contraposiçom com o conjunto do Estado, no qual aumentou em 450.000 pessoas. Todo isto fai com que a Galiza, além de perder populaçom, perda peso especifico em relaçom ao conjunto do Estado espanhol, como se pode ver no seguinte gráfico.

Mas, além disto, existe um problema muito grave na sociedade galega, já que diminuiçom de populaçom anda a par e passo de um processo de envelhecimento que se incrementa em 6,5% no intervalo 2008-2013 e que concretamente na faixa de idade entre 15 e 39 anos diminui em mais de 13%.

Muito indicativo é que no conjunto do Estado espanhol e dentro das Comunidades Autónomas (CA), a Galiza ocupe os últimos postos quanto a menor peso da populaçom até os 39 anos e, ao contrário, seja a terceira CA com maior peso da populaçom com mais de 64 anos de idade; quer dizer, pouca juventude num país envelhecido, sintoma preocupante de cara ao futuro.

Além dos custos que implica para umha sociedade ter umha populaçom envelhecida, tambémdemonstra, infelizmente, que nom existem setores nem políticas económicas na Galiza que permitam criar e manter emprego e, portanto, assentar a populaçom. Esta situaçom é muito mais marcada na zona rural, que leva décadas num processo de despovoamento. Temos que lembrar que, no ano 1980, mais de 40% da populaçom trabalhava em atividades relacionadas com a agricultura ou as pescas, enquanto em 2013 mal ultrapassavam os 8% as pessoas ocupadas nestes setores. A política de imposiçons de Espanha da Uniom Europeia de cara ao setor primário, ainda que também ao secundário ou industrial, tivo como conseqüência um crescimento da emigraçom e do despovoamento das zonas rurais.

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A transformaçom e destruiçom dos nossos setores económicos

A transformaçom dos nossos setores económicos desde a década dos anos setenta, início da II restauraçom borbónica, e até a atualidade, oferece umha informaçom clarificadora sobre como se tem transformado a sociedade e a economia galega nos últimos quarenta anos. Nom devemos esquecer que esta evoluçom é fruto das diferentes políticas levadas a cabo por parte de Estado espanhol e da Uniom Europeia, seguindo o ditame das instituiçons económicas e financeiras internacionais, que contribuírom para o desmantelamento de setores fundamentais para a nossa economia. Assim como acontece com os sintomas de umha pessoa doente, a situaçom da demografia na Galiza é a expressom dumha doença crónica do ponto de vista económico e político.

Analisando unicamente a composiçom dos diferentes setores económicos no ano 2013, segundo os dados recolhidos no informe do Conselho Económico e Social de Galiza  para 2013, obtemos a seguinte radiografia:

O setor primário, composto basicamente polos subsetores agro-pecuário, pesqueiro e silvicultura – madeira, representa concretamente 7,3% de emprego na Galiza (mais de 75.000 pessoas), duplicando a média estatal, se bem está a se perceber um retrocesso do mesmo e um abandono progressivo da atividade, o que tem como conseqüência umha reduçom do numero de indústrias agro-pecuárias ligada com a descida dos preços de produçom do leite (devemos lembrar que os preços do leite na Galiza som dos mais baixos do Estado espanhol, apesar de suporem 37,4% da quota total leiteira do Estado) ou umha diminuiçom dos rendimentos do setor pesqueiro, de mais de 6% no ano 2013, segundo os resultados obtidos nas lotas do País.

No caso do setor industrial, com cerca de 15% (151.000 pessoas) da ocupaçom total, a situaçom nom e positiva. Assim, no ano 2013 a demanda de produtos petrolíferos na Galiza viu-se reduzido em 7,2% (4,5% no conjunto do Estado espanhol), o que reflete uma menor atividade económica e industrial, mais acusada no caso galego. Tam só o subsetor da automoçom mostra certos sinais de melhoria, com 2,7% de crescimento de emprego a respeito do anterior, se bem com umha muito marcada degradaçom das condiçons de trabalho para o pessoal empregado no setor.

No entanto, sem dúvida, o subsetor numha situaçom mais delicada é o naval, apesar dos cantos de sereia de Feijó e do Partido Popular, anunciando carga de trabalho para os estaleiros galegos. A realidade mostra umha situaçom verdadeira dramática: no ano 2013, o conjunto do Estado o setor naval assinou um total de 28 contratos e nengum por parte de um estaleiro galego. No que di respeito à carga de trabalho pendente, também se viu reduzida, pois se no ano 2012 havia 13 contratos pendentes de conclusom, no ano 2013 reduzírom-se até os 6. Uns dados que som exemplo do que está acontecer na Galiza e que se pode extrapolar ao abandono noutros setores e a situaçom da comarca de Trasancos, onde nos deparamos com um setor naval destruído por decisons políticas e que tivo como conseqüências converter-se na comarca galega com maior desemprego, indo além dos 30%, e a que sofreu umha maior queda demográfica nas últimas décadas, com umha perda de quase 20% da populaçom desde a década de oitenta e até a atualidade na cidade de Ferrol.

O setor da construçom, com quase 70.000 pessoas, continua com a descida no referente a ocupaçom desde o início da crise. Assim, no ano 2013, o setor viu reduzido o emprego em 12,7%, se bem a reduçom que experimentou o setor desde 2007 até 2013 foi de mais de 52%.

Por último o setor serviços que ocupa no nosso país a mais de 700.000 pessoas e aporta 65% do valor acrescentado bruto total da economia galega no ano 2013, por volta de sete pontos percentuais menos que a média estatal e que supom quase 33 mil milhons de euros. No ano 2013 houvo umha reduçom do número de ocupados no setor de perto de 14.000 pessoas menos com respeito ao ano anterior. Logicamente a menor atividade económica e os diferentes cortes aplicados polos governos tivérom efeito negativo para um setor que engloba atividades de comércio, sanitárias e serviços sociais, hotelaria, educaçom, segurança social e administraçons públicas

Porém, o mais significativo é vermos como a inícios dos anos 80 a economia de Galiza estava assente fundamentalmente no setor primário, o que tinha conseqüências muito positivas para o nosso país, já que, além da própria ocupaçom laboral, permitia o assentamento da populaçom no rural, enquanto na atualidade se converteu numha economia baseada fundamentalmente no setor terciário, que supom praticamente 70% de ocupaçom laboral. A estrutura que apresentava a economia galega estava claramente diferenciada da economia espanhola naquela altura; assim, a finais da década de setenta a ocupaçom laboral da maioria da populaçom estava no campo ou na pesca, supondo a indústria naval também um suporte importante na economia e no emprego, junto às indústrias siderúrgica, conserveira e têxtil, entre outras. Estes setores supunham mais de 64% da ocupaçom total na Galiza, frente a menos de 48% dos mesmos no Estado espanhol.

Precisamente os setores naval, pesqueiro ou agro-pecuário tenhem sido o alvo dos ataques à economia galega por parte de Estado espanhol e da Uniom Europeia desde os anos oitenta até hoje, padecendo políticas de submetimento da nossa economia, o que provocou um comportamento diferente do emprego na Galiza. O resultado destas políticas tenhem efeitos evidentes; assim, durante estes anos, a ocupaçom laboral no nosso país tem tido umha descida de cerca de 19%, sendo este dado do ano 2013 inferior ao que regista a existente no ano 1976. Umha percentagem contraditória, tendo em conta que no conjunto do Estado espanhol a ocupaçom laboral aumentou mais de 32% neste mesmo período, o que pom de relevo o resultado do desmantelamento industrial, pecuário, pesqueiro. A entrada do Estado espanhol na CEE converteu a Galiza na saca onde Espanha e a Uniom Europeia pudérom bater com força para favorecer interesses económicos tanto de poderes económicos e financeiros como doutras áreas com mais capacidade de tomada de decisons.

Derivado desta situaçom e ligado à ausência de políticas de intervençom em chave nacional para o desenvolvimento socioeconómico da nossa naçom a diferentes níveis (industrial, florestal, ambiental, pesqueiro, agrário, energético…) desenha-se um futuro trágico para o nosso país: Carecemos de planos de atuaçom próprios nos diferentes setores que permitam, por um lado, estabelecer políticas pensadas por e para a Galiza, assim como administrar os nossos recursos e potencialidades, caminhando para umha economia sustentável e respeitosa com o nosso meio.O panorama agrava-se por umha degradaçom das condiçons de vida e trabalho derivada da crise económica e dos planos e cortes aplicados polo Estado espanhol.

A situaçom do mercado do trabalho nom deixa de ser extremamente preocupante. Todo isto fai com que a classe trabalhadora galega e, concretamente, a mocidade nom poda aspirar a trabalhar na nossa terra, sendo a imigraçom umha triste realidade para o nosso país. Também as mulheres sofrem muito mais o resultado destas políticas em setores como a indústria, a agricultura e a pesca, nos quais o aumento do desemprego é muito maior no seu caso. Assim, desde que se iniciou a crise a finais do ano 2007, o peso das pessoas assalariadas como contributo para o PIB desceu em cerca de 4%, enquanto o custo laboral regista umha queda importante, muito mais acusado que no conjunto do Estado, e o comportamento do desemprego é bem pior no caso da Galiza. De facto, o custo laboral por trabalhador/a e mês na Galiza situa-se 2,4% acima do ano anterior (face a 0,2% em Espanha), mas ainda assim situa-se em 11,20% abaixo da média espanhola. Converte-se a Galiza na terceira Comunidade Autónoma com custo laboral mais reduzido. Ligado com isto e como exemplo de degradaçom das condiçons laborais, o aumento salarial médio na Galiza situava-se, no ano 2013, segundo recolhia o informe do CES, em 0,57%: a percentagem mais baixa desde que se tem registo no Conselho Económico de Relaçons Laborais.

Som esses alguns exemplos da situaçom do mercado do trabalho no ano 2013, mas poderíamos acrescentar muito mais, como: a maior destruiçom de emprego que no Estado espanhol; a diminuiçom de quotizantes à Segurança Social; o aumento das horas trabalhadas e, ao invés, a diminuiçom salarial; a destruiçom dos setores públicos; o aumento da temporalidade; a dramática situaçom da juventude e das mulheres, com taxas de desemprego realmente alarmantes; ou mesmo o aumento de impostos e bens de consumo, com maior repercussom para a classe trabalhadora se comparado com as grandes fortunas, a banco ou o patronato…

O custo que está ter a crise para a classe trabalhadora fica perfeitamente refletido noutra série de dados publicados no último relatório do CES para o ano 2013 e tirados do INE. A Galiza ocupa a quinta posiçom entre as Comunidades Autónomas em que entre 2008 e 2013 mais aumentárom as dificuldades para chegar ao fim do mês e, concretamente, dentro dessas cinco, é a única que supera umha percentagem de 70% de populaçom com dificuldades para chegar a fim de mês.

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Conclusons

É evidente que a transformaçom, por meio da imposiçom, da nossa economia durante os últimos quarenta anos, passando de umha sociedade assente fundamentalmente no setor primário (pesca, agro-pecuário, florestal…), com peso importante do setor industrial, a outra baseada no setor terciário tem sido prejudicial para o nosso país. Junto a isto, a aplicaçom de políticas neoliberais supujo umha deterioraçom das condiçons de vida e trabalho mais do que evidentes para a classe trabalhadora e, portanto, para a maioria da populaçom. Daí que podamos afirmar que a evoluçom da economia galega nos últimos anos expressa o fracasso do binómio “Espanha – capitalismo” para a Galiza.

Ao longo das últimas décadas, ficou demonstrado que a política neoliberal e centralista por parte do Estado espanhol, juntamente com a Uniom Europeia, estám a levar o nosso país à ruína económica e social, cultural e lingüística. As políticas económicas implementadas desde meados do século passado, e aceleradas após a II Restauraçom Bourbónica, atacárom diretamente os setores em que a Galiza era umha potência a nível mundial. A ausência de políticas ativas para o setor primário, ao nom contar com planos económicos e sociais de atuaçom próprios, desenhados por e para a nossa naçom, junto com o abandono e a deterioraçom do setor agro-pecuário e pesqueiro provocou também o abandono do nosso meio rural o que tivo conseqüências nefastas, já que, devido às peculiaridades da nossa naçom, estas atividades permitiam vertebrar o nosso país.

A situaçom de urgência nacional em todos os ámbitos provoca que a rutura com Espanha e com o capital se converta numha necessidade inadiável para o povo galego e para a classe trabalhadora, numha tarefa obrigatória à qual dedicar todos os nossos esfoços como comunistas galegos.

E para isso como sempre, a luita é o único caminho.

Fonte: Primeira Linha.


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