2014 está quase no fim, e já faz tempos que a rede globo botou no ar sua tradicional mensagem de natal e ano-novo. Se 2015 será o ano da renovação, é difícil dizer, mas algumas notícias dos últimos dias mostram que, se velhos hábitos são difíceis de morrer, imagine postura de opressão.
Entrevistada pelo portal EGO, a funkeira Mc Thaysa, membra do grupo Bonde das Maravilhas, deu uma entrevista em que revelava o desejo de prestar vestibular para medicina. A declaração repercutiu nas redes sociais. E se alguns poucos davam palavras de incentivo à moça, a maioria lançou palavras de preconceito e machismo.
Alguns dias depois, foi a vez de outra jovem brasileira ser jogada na berlinda: a escolhida da vez foi Paloma de Carvalho, vítima de revenge porn por parte de seu ex-namorado. Após o término no namoro, o rapaz jogou na rede vídeos de relações sexuais entre os dois. A situação chegou ao ponto de se criarem perfis fakes no facebook e twitter divulgando as imagens. Assim como, Thaysa, Paloma não teve misericórdia: foram diversos os comentários depreciativos e machistas, de homens e mulheres.
Antes de começar este artigo, me perguntei se seria necessária o meu comentário. Não me julgo capaz de reproduzir nada de novo, nada melhor do que já foi dito em repúdio a violência que as duas sofreram. Pensava nisso, quando vi diversos comentários no twitter dizendo que já estavam cansados de tantas postagens sobre a tal de Paloma. Estas afirmações me chamaram atenção porque me fizeram lembrar de uma terceira situação de machismo recente.
Quando Jair Bolsonaro disse a deputada Maria do Rosário que não a estrupava porque ela não merecia ( palavras do deputado) muitos homens declararam que era melhor deixar pra lá, que não se devia dar atenção a alguém como Bolsonaro.Que fazer qualquer crítica era perder tempo. De certa maneira, não é muito diferente dos que dizem estar cansados de Paloma.
No momento em que essa postagem for publicada, muitos vão pensar " ai, de novo não, a chata da Fernanda vindo falar de machismo, feminismo, opressão e blá blá blá". Infelizmente ( ou felizmente) a chata vai escrever essa coluna até o final, e depois mandará por e-mail para que seja publicada no Diário a tempo da ceia de ano-novo.
E podem continuar chamando de chata. É sua opinião, não precisa gostar do que eu e outras escrevemos. Porque no fundo, nossa preocupação não é agradar ou não. O motivo de escrever esse artigo não é ganhar um concurso de popularidade, mas falar sobre a Paloma, a Thaysa, a Maria do Rosário e , infelizmente, do Jair Bolsonaro.Porque é preciso falar.
Quando se é criança, volta e meia surge um coleguinha que nos faz de gato e sapato. Nessas horas, as mães sempre dizem para ignorar. O problema é que depois de um tempo já não basta ignorar. Porque o coleguinha irritante não muda de atitude, apenas troca de vítima. E de nada adianta o seu conforto se outra pessoa continua sofrendo opressão.
Enquanto houver Bolsonaros , nós vamos continuar falando, exclamando, gritando, urrando. Fazendo o que for preciso para deixar claro que não está certo, nem nunca estará. Vamos repetir a mesma coisa, vinte, cinquenta, quantas vezes forem necessárias. Quem sabe na 101ª, finalmente escutem.
Um feliz ano-novo para todos, com menos machismo e mais megafones.