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Narciso Isa Conde

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Em coluna

Colômbia: O “Santo” prestes a golpear a mesa de paz

Narciso Isa Conde - Publicado: Sexta, 08 Agosto 2014 12:43

Era de se esperar que o presidente colombiano Manuel Santos, uma vez reeleito, tentasse golpear a mesa de diálogo pela paz estabelecida em Havana, Cuba.


Aparentemente, se examinarmos seus discursos, suas iniciativas e suas debilidades frente à corja de Uribe Vélez e a extrema direita, vão crescendo os sinais nessa direção.

Não podemos esquecer que, apesar de sua cômoda linguagem pró-paz, diante dos eleições presidenciais e gerais, Santos foi um cruel ministro da guerra suja.

SIMULAÇÃO UTILITÁRIA E FARSA ELEITORAL.

Sempre se suspeitou que esse novo tom do presidente colombiano com vocação de "jogador", tinha por motivo essencial procurar simpatias eleitorais em uma sociedade atormentada pela guerra e inclinada em mais de 70% para a paz; sobretudo, depois de sua disputa com Uribe e de suas dificuldades para obter apoio na faixa do voto duro belicista sem contar com este.

As pesquisas diziam que subia quando se mostrava a favor dos diálogos e baixava quando o dificultava.

O choque com o uribismo lhe oferecia, além das classes dominantes, as direitas de todos os calibres e o imperialismo estadunidense, a possibilidade de montar umas eleições para competir fundamentalmente entre suas duas principais facções e oligopolizar, assim, as votações. Uma facção com a bandeira da paz negociada e outra com a da continuidade da guerra.

Isto ocorreu no período em que a abordagem consequente da saída política ao conflito social armado potencializou politicamente a insurgência e favoreceu o processo de formação de um grande movimento político-social alternativo de esquerda, com perspectiva de derrotar as direitas em diversos cenários, ainda que, todavia, sem garantias para atuar a nível eleitoral e sem uma fórmula unitária contundente nesse plano.

Essa enganosa fórmula eleitoral deu resultado ao bloco dominante, com Uribe e seus apoiadores colhendo as maiores vantagens institucionais a nível congressual e intermediário, ainda que com Santos alcançando seu propósito de reeleição, agregando a sua precária votação inicial um conjunto de votos concedidos no segundo turno, motivados pelos anseios de paz e pela ameaça de retorno do uribismo ao governo.

ALTA ABSTENÇÃO E ENFRAQUECIMENTO DE SANTOS.

A abstenção, no contexto de um sistema eleitoral podre, um regime cruelmente repressivo e com escassa credibilidade, derrotou por muito a participação eleitoral.

As direitas se enfraqueceram, mas hegemonizaram a disputa. Santos levou a pior parte na disputa com Uribe. Significativamente, a centro-esquerda reformista cresceu em votos, porém foi comprometida por essa polarização entre as direitas e terminou agregando seus votos ao partido de Santos para bloquear o caminho ao uribismo.

REAGRUPAMENTO DIREITISTA CONTRA A PAZ.

Por si só, com sua própria força, Santos formou um governo extremamente fraco, que se permanecer distante da outra direita, reduz e a coesão e a força do regime estabelecido no curso do confronto político-social-militar em marcha. E como as classes dominantes e seus padrinhos imperiais não se suicidam, passadas as eleições, está se registrando um processo de reagrupamento das decadentes direitas colombianas, que inclui novos pactos do santismo com o uribismo.

O presidente Santos e outros agrupamentos de direita começaram a proteger Uribe em termos de Congresso e sistema judiciário, impedindo o conjunto de justas iniciativas contra sua impunidade e a de sua corte; igualmente, iniciou o desmonte do tom pró-paz de seu governo para agradar a extrema direita belicista, as máfias paramilitares internas e os falcões estadunidenses.

Esse pretenso reagrupamento passa por golpear a mesa de Havana, os acordos obtidos, a agenda pendente e seu incontestável impacto positivo em nível nacional e internacional. Outro crime de consequências imprevisíveis, contudo não consumado.

Justo quando vai se tratar o tema das vítimas e algozes dentro do conflito armado, justo quando a realidade obriga a precisar a verdade histórica, da qual Santos e Uribe não podem sair ilesos, cresce a conjura contra os diálogos e o Presidente, supostamente pacifista, volta a exibir com descaramento o traje dos "falsos positivos", os bombardeios em grande escala e as perseguições punitivas contra os líderes da insurgência político-militar e contra a multico lo r resistência civil, que luta por uma nova Colômbia.

CÍRCULO VICIOSO OU ESPIRAL?

A história do engano, das simulações, das armadilhas, da dupla moral ... tenta-se repetir.

Porém, visto o acumulado na consciência social e na organização popular a favor de uma paz digna, com justiça social e soberania, cabe pensar que não se trata de um novo giro dentro de um círculo vicioso, onde tudo volta à posição anterior. A virada para o pior, no entanto, não será fácil para essa facção direitista.

Penso que, desta vez, estamos dentro de um movimento espiral, em um estágio superior de acumulação para a mudança, em meio ao qual o retrocesso que implica "golpear a mesa" de Havana, impõe um enorme custo político a Santos, a seu governo, ao Estado e às direitas em geral, que poderia gerar um bumerangue poli-insurgente e um tsunami pela paz. Que assim seja!

01-08-2014, Santo Domingo, RD.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB).


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