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Narciso Isa Conde

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Venezuela: Dupla vitória

Narciso Isa Conde - Publicado: Segunda, 16 Dezembro 2013 01:28

Ganhar a grande maioria das Prefeituras e tirar a maioria dos votos nacionalmente com uma boa margem sobre as direitas, é uma dupla vitória do PSUV, do POLO PATRIÓTICO e do povo chavista.


Fazê-lo em meio a uma guerra econômica e a um intenso plano de desestabilização, tem, todavia, um valor maior e um triplo impacto.

- Valor para o processo bolivariano na Venezuela, que precisa ser defendido e aprofundado, obtendo novas conquistas.

- Valor para a onda continental pela nova independência e pela emancipação de nossos povos, que têm na Venezuela um grande exemplo e um forte incentivo.

- Valor para a necessária redenção da humanidade submetida atualmente aos efeitos destrutivos e degradantes da multicrise capitalista.

A dupla vitória demonstra que a baixa relativa nas eleições presidenciais passadas, afetadas pelo então muito recente falecimento do comandante Chávez e por certa tendência ao declínio eleitoral progressivo, pode e deve ser revertida.

A chave do sucesso recente.

A chave deste duplo triunfo eleitoral – e mais que eleitoral –, com triplo impacto positivo, ao meu entender esteve na radicalização da resposta à guerra econômica montada pela grande burguesia transnacional e local, instrumentada pelas direitas políticas com o propósito de diminuir a base social para a revolução.

Erodir a popularidade do processo, descontrolá-lo, desorganizá-lo e transpassar o desgaste ao cenário propriamente eleitoral, com precisos planos desestabilizadores.

A radicalização nesta ocasião consistiu em enfocar os problemas e acionar o Estado, as forças políticas e os movimentos sociais patrióticos e de esquerda, de tal maneira que uma parte do povo humilde e setores médios de baixa renda puderam identificar muito bem as direitas políticas e a grande burguesia como causadores da especulação, dos desabastecimentos, da desvalorização do Bolívar e da crise dos câmbios.

Por sua vez, isto implicou cortar conexões sensíveis do grande capital com determinados entraves da burocracia contrarrevolucionária, corrompida ou desertora; procedendo pontualmente em atacar ou ameaçar determinados focos e formas de corrupção relacionadas com essas práticas ruins.

Incluiu a aprovação da Lei Habilitante e o uso dos poderes concentrados derivados da mesma, para estabelecer controles em matéria de preços, quantidade e uso de câmbios, comércio exterior e comercialização interna; assim como ágeis mecanismos de abastecimento e intervenções drásticas do Estado que garantiram a distribuição fluída de alimentos e artigos de alto consumo popular e asseguraram o controle da carestia desatada com fins políticos, ao tempo de desnudar com mais precisão e contundência uma parte dos agentes culpados.

Efeitos positivos na subjetividade chavista e no povo pobre.

Isto elevou a moral da rebelde pobreza venezuelana, a aproximou ainda mais do governo e dos/as candidatos/as do PSUV e do Polo Patriótico, potencializou o chavismo e atraiu setores confusos ou desalentados, convertendo o torneio eleitoral numa confrontação política e de classe muito mais clara e precisa.

Esse oportuno giro permitiu o Presidente Maduro, sua equipe de governo e a direção política do processo, passar claramente à ofensiva e sacudir a direita e a ultradireita social e política pelo pescoço; assim, contribuindo para elevar a subjetividade chavista e a confiança na vitória, gerando mais entusiasmo e maior disposição para o combate.

Tais passos potencializaram, imediatamente, o perfil de luta de classe na competência política e recuperação em maior grau do legado combativo de Chávez.

Assim, as coisas – ainda que, todavia, em escala limitada –, o processo para a revolução foi defendido, aprofundando-se; indo mais além da competência eleitoral, das práticas clientelistas, da variedade de cores, da propaganda massiva, das diferenças históricas e da polarização tradicional. Começou a golpear, parcialmente, certos pontos nevrálgicos da velha ordem que, todavia, sobrevive e bloqueia, gerando perigosos desgastes que é preciso reverter definitivamente.

Significado desta dupla vitória.

Isto mostra todo o potencial de um maior aprofundamento, radicalização e expansão das transformações anticapitalistas na Venezuela, indo além desses controles recentes – não totalmente invulneráveis pela dinâmica capitalista, inclusive, alguns formulados sobre uma lógica estritamente consumista – implicaria expropriar e socializar progressivamente a grande propriedade capitalista e subverter sua lógica, todavia, dominante...

Refiro-me à transformação que implicaria socializar de maneira ascendente o privado e o estatal, atacar a corrupção sistêmica, subverter a cultura rentista-consumista e desburocratizar os centros estatais de direção no marco de uma complexa transição, onde o velho resiste à morte e o novo não acaba de crescer e desenvolver-se. E no qual, para avançar substancialmente, o Estado atual deverá ser desmontado para dar o passo ao poder da sociedade, tal e como apontou Chávez em seu Alô Presidente Autocrítico (“Golpe de Timón”).

Estou certo de que, assumidas com vigor a via anticapitalista e a expansão do poder popular e da democracia direta, elas corroerão em grau muito maior a base político-eleitoral das direitas, que superam 40% dos votantes e que, inclusive – ainda em meio a este declínio – conseguiu manter o controle municipal em importantes cidades venezuelanas e conserva uma forte influência cultural.

Os resultados desta significativa experiência e desta obrigatória radicalização do processo em meio às recentes eleições, indicam que no futuro é perfeitamente possível reduzir ao mínimo a força política da contrarrevolução e enfraquecê-la em maior escala seu atual peso eleitoral e institucional; impulsionando a socialização da economia e do poder, expandindo as comunas em todos os níveis, transferindo cada vez mais o poder ao povo, assumindo o aprofundamento do GOLPE DE TIMÓN levantado pelo comandante Chávez e executando consequentemente o Programa da Pátria, felizmente convertido em lei.

A força eleitoral da contrarrevolução, debilitada em certa medida nestas eleições municipais, radica, todavia, na força econômica do grande capital privado local e transnacional, em seu poder midiático, em sua hegemonia cultural nutrida por esses meios e em suas fábricas de ideologia capitalista, em suas propriedades e operações financeiras, industriais e comerciais, no poder reversível que conserva nas áreas de serviços, colégios e universidades, na corrupção burocrática, no capitalismo de Estado…

E essa correlação mudaria radicalmente e favor da revolução com uma reconfiguração das forças de vanguarda e um impulso categórico à socialização (que não é igual à estatização), bem pensado, paulatino, alicerçado, firme e ascendente; acompanhado do estímulo de sustento às mudanças revolucionárias a nível continental e mundial.

Não existe outra maneira. Revolução que se estanca e se isola, enfraquece, retrocede e sucumbe. Revolução que avança, aprofundando-se, radicalizando-se em seu interior e para além, torna-se muito mais difícil de ser derrotada.

O processo para a revolução na Venezuela, com tudo o que significa para nossa América e para o mundo, tem um novo período favorável para impulsionar seu projeto em profundidade e seu crescimento. Uma nova oportunidade.

Os piores momentos do passado recente foram superados, sem que isto implique o cessar da ação contrarrevolucionária dos EUA e suas forças aliadas e o fim dos riscos de reversibilidade.

Lindo fim de ano abraçados/as aos exemplos de Chávez e Mandela.

Felicitamos todos/as! E aproveitemos esta nova fase ao máximo.

10-12-2013, Santo Domingo, RD.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


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