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Eliseo Fernández

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Memória viva

Imigrantes e sindicalistas em São Paulo: "O amigo do povo"

Eliseo Fernández - Publicado: Domingo, 13 Junho 2010 13:31

Eliseo Fernández

Nos finais do século XIX São Paulo foi a principal cidade de recepção de imigrantes do Brasil.

Nos finais do século XIX São Paulo foi a principal cidade de recepção de imigrantes do Brasil.

A chegada de operários com experiência sindical favoreceu a propagação das ideias e a prática do movimento operário. Naquela altura foi marcante a actividade de imigrantes do norte de Itália, especialmente da região do Veneto, que povoavam o estado paulista.

Os imigrantes italianos foram muito activos na organização de sindicatos operários, imprimindo-lhe ao movimento sindical uma orientação anarquista, pois esta era a ideologia que tinha a maioria deles. Para fazerem propaganda dos seus ideais, eles publicaram jornais anarquistas em língua italiana, como os titulados "Gli schiavi bianchi", "Il risveglio" ou "Germinal", que estavam dirigidos aos imigrantes da sua mesma nacionalidade.

Afinal, os militantes italianos romperam o círculo fechado da imigração e começaram a dirigir-se ao conjunto da multicultural sociedade brasileira.

Foi por volta do mês de Abril de 1902 quando nasceu em São Paulo o jornal anarquista "O amigo do povo". A influência da imigração italiana no jornal continuava sendo muito forte, pois os tipógrafos que o elaboravam eram dessa nacionalidade; em consequência, o jornal publicava muitas colaborações em língua italiana, ainda que a língua predominante era o português, e mesmo também publicou algum artigo em língua espanhola. Mas a originalidade deste novo jornal era que estava dirigido a uma segunda geração de militantes sindicais de diversas nacionalidades, e contava com a participação de colaboradores italianos, brasileiros, portugueses e mesmo galegos. O grupo iniciador do jornal era também internacional e estava formado pelo brasileiro Benjamin Mota, o português Neno Vasco, o italiano Alessandro Cerchiai e o galego Juan Bautista Perez, entre outros.

Tanto o Neno Vasco como o Benjamin Mota, eram militantes ainda novos, advogados os dois, que estavam nos seus primeiros anos de militância operária. Eles teriam uma grande influência no movimento operário e libertário de Brasil nos anos vindouros, e Neno Vasco também influiu muito no movimento operário português, quando regressou ao seu país em 1910, depois da proclamação da República. O caso de Alessandro Cerchiai e Juan Bautista Pérez não era igual, pois eles já tinham uma forte experiência de luta em Itália e na Galiza. Cerchiai estivera envolto no levantamento popular de Milão em 1898, pelo qual foi condenado a dois anos de prisão; quando saiu da cadeia, ele fui para o Brasil, e muito rapidamente ingressou nos grupos anarquistas italianos. O Juan Bautista Pérez começou a sua militância operária na Federação de Trabalhadores de Ferrol em 1884; deslocado para a Corunha, ele participou na edição do jornal "El Corsario" e quando este deixou de se-publicar, imigrou para o Brasil. No início do século XX Juan Bautista colaborou em jornais operários galegos e também no jornal anarquista cubano "¡¡¡Tierra!!!".

Aquele ambiente da imigração italiana e do anarquismo brasileiro ficou muito bem retratado no romance da Zélia Gattai "Anarquistas, graças a Deus". A escritora, companheira do romancista Jorge Amado, refere no livro a história da sua infância e adolescência em São Paulo junto aos seus pais, anarquistas italianos no Brasil. Este romance teve um grande sucesso e mesmo foi levado à televisão numa minissérie da Rede Globo à altura de 1984.

Eliseo Fernández


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