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José Borralho

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Desassossegar

Foi a luta de massas o factor determinante que dominou as eleições na Grécia

José Borralho - Publicado: Terça, 19 Junho 2012 09:00

A vitória tangencial da direita, (que fez a burguesia europeia suspirar de alívio) a deslocação de uma enorme massa anti austeridade para a esquerda moderada, a derrota brutal do KKE, a minimização do PASOK relegado para um plano insignificante e o aumento da extrema-direita, revelam-nos com crueza, uma Grécia fragmentada e dominada pela agudização da luta de classes.


A nova governação à direita terá de contar com um movimento de massas que claramente rejeita a política de austeridade e de empobrecimento que são a emanação das políticas da troika para toda a Europa.

A enorme subida da esquerda moderada,-o Syriza-longe de representar um retrocesso, pelo contrário, significa a aproximação das massas a uma política anti troika que o mesmo é dizer anti austeridade. Foi com a promessa de que rasgaria o memorando da troika, e que anularia as medidas de austeridade, que amplos sectores se aproximaram do Syriza e lhe deram o voto, possibilitando a este agrupamento mais ou menos radical assumir na sociedade grega o papel de uma esquerda combativa, "responsável," que soube bater o pé à austeridade da troika imperialista

As limitações políticas do Syriza, que se reflectem na sua integração plena no chamado jogo democrático burguês, que o leva a defender que, através das eleições conseguirá a refundação de uma Europa democrática e desenvolvida, são afinal os seus limites políticos e ideológicos, (partilhados em Portugal de forma entusiasta pelo Bloco de esquerda, e que são hoje uma corrente moderada com expressão europeia.)

Para as massas que lhe deram o voto, o que contou foram o seu programa anti austeridade, as suas promessas de se opor ao memorando, o seu bom senso de não cortar nem com o euro nem com a união europeia. No fundo, aceitaram a sua moderação "radical".

Sem parecer entender o quadro em que se movimentam as massas, e sem perceber o seu grau de amadurecimento político, o KKE ficou praticamente esmagado vendo fugir-lhe metade do eleitorado. Sempre com Lenine na boca, o KKE não percebeu que a luta de classes não se comporta de acordo com esquemas mas sim de acordo com os interesses das massas. Atirando com palavras de ordem avançadas para cima do movimento: saída do euro, saída da UE, socialização dos meios de produção, poder popular. Tratando as forças de esquerda moderadas como agentes do capital e do imperialismo, o KKE isolou-se no seu casulo, numa arrogância e soberba próprias de pequenos grupos de iluminados que julgam ser os donos da verdade absoluta e acabam carpindo as mágoas da derrota, duas léguas à "frente" das massas.

O que se torna caricato é que o partido irmão português do KKE, extremamente moderado, defensor de um crescimento económico, do reforço do aparelho produtivo, da renegociação da dívida, e que não diz uma palavra acerca da saída do Euro e da UE, venha assumir em comunicado, a defesa do KKE, com base em que este travou uma luta em condições difíceis de bipolarização. A bipolarização na luta de classes deveria afinal ser favorável aos comunistas, pelos vistos já não é assim.

Quanto ao crescimento eleitoral do Syriza, pura e simplesmente ignora esta força da esquerda moderada, numa atitude arrogante, na linha do que faz o KKE.

Porém, a Grécia não poderá deixar de ser para todos nós, o exemplo de como fazer frente ao capital e concretamente às imposições de austeridade da troika imperialista, e que poderá propiciar uma viragem à esquerda na maturidade da consciência do proletariado e das massas. Esse caminho que nos aponta a Grécia é o caminho da luta sem tréguas ao capital e às suas medidas de austeridade. O apoio dos trabalhadores portugueses aos trabalhadores gregos só pode ser incondicional, nomeadamente pela sua radicalidade e firmeza que fizeram recuar os partidos burgueses.

Sem dúvida, que a luta do KKE através da PAME, a sua propaganda de objectivos revolucionários junto dos sectores mais avançados do movimento, teve influência na radicalização do movimento grevista anti troika.

A emergência da democracia pequeno-burguesa através do aumento de votação no Syriza, não sendo uma vitória do proletariado, não deixa contudo de revelar uma passagem de votantes sociais-democratas para uma força moderada, contudo, anti austeridade, e é essa qualidade que é necessário realçar, e não o facto de o Syriza ser moderado. O que nos interessa é saber como avançar assestando golpes no inimigo principal aliando e ampliando novas forças à luta contra o capitalismo.

Se, por exemplo, o Syriza renegar o seu compromisso anti austeridade, depressa se desmascarará aos olhos dos trabalhadores, e mais depressa cairão as ilusões dos que nele depositaram confiança.

A revolução, é feita pelas massas, pela maioria das massas pobres e não por qualquer grupo ou individualidades iluminadas pelo dom da verdade, e é por isso, que qualquer tendência do KKE para se isolar no seu casulo, desprezando o movimento real das massas, estará condenado ao fracasso e ao isolamento. A soberba de um grupo revela-se exactamente na renúncia a qualquer tipo de aliança e na sua auto marginalização, mesmo que tal grupo ou partido pregue os melhores princípios do mundo.

Atacar juntos, caminhar separados, continua a ser um bom princípio para todos os que querem efectivamente derrotar o capitalismo.

Os problemas para o povo grego, vão agravar-se, porque a direita só pode produzir desigualdade miséria e austeridade: é esse o programa com que o capital quer sair da crise.

Na Grécia a luta vai continuar; de um lado os explorados, do outro os exploradores, mais do que nunca cabe aos trabalhadores portugueses apoiar as lutas dos trabalhadores e do povo gregos.


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