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Emílio Cambeiro

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De todo um pouco

Vim porque me pagavam

Emílio Cambeiro - Publicado: Sexta, 08 Junho 2012 01:09

Às vezes há livros que chegam às mãos por surpresa. Não aguardas por eles, mas o seu caminho já fora traçado com anterioridade. E assim é que chegou às minhas mãos o Vim porque me pagavam, surpreendente e fascinante livro de poesia de uma das novas poetas em língua portuguesa, Golgona Anghel.


Este livro chegou por surpresa para ser lido, chegou para ser relido e para ser devorado. Os seus poemas, os seus versos cheios de força têm a frescura suficiente para te seguir prendendo quando já terminaste de ler, e já dedicado a outras cousas continuas e pensar nele.

O livro divide-se em três partes diferentes: Sem destino, Sem personagem principal  e Sem tempo. Cada uma de elas tem uma essência própria, mas sem se afastar de uma certa linha comum.

Na primeira das partes podemos ver um Eu poético, que como bem indica o título está sem destino, sem um rumo certo a seguir, perdido num mundo às vezes estranho aos seus olhos. Uma derrota vital que o desanima ou meramente o faz conformar-se com o que lhe tocou viver:

O que me preocupa – e isso, sim, pode ser relevante

para o fim da história – é saber

quando é que me transformei,

eu que era uma loba solitária,

neste caniche de apartamento que vos fala agora?

 

Temos também um Eu observador do mundo, da sua realidade e das cousas e pessoas todas que o rodeiam e lhe fazem pensar na própria natureza delas mesmas. E uma vontade de ser e passar às vezes pela vida como um figurante de um grande teatro. Uma visão que depois nos acompanhará gratamente nos nossos passeios de figurantes da cidade.

Não sou infeliz. Não, não me quero matar.

Tenho até uma certa simpatia por esta vida

passada nos autocarros,

para a cima e para baixo (…)

Gosto desses homens com bigodes e pulseiras grossas.

Acredito nos milagres de Fátima

e no bacalhau com broa.

Gosto dessa gente toda.

Quero ser um deles. 

 

Na segunda das partes do livro, Sem personagem principal, o leitor assiste a um monólogo do Eu dirigido ao Tu umas vezes, e outras a ele mesmo; todo isto já nos foi anunciado a nós, espectadores curiosos, que esse Tu funciona como personagem principal. Mas obviamente não um Tu único, mas bem uma amálgama de diferentes destinatários que conformam esse Tu.

 

Ainda bem que te foste embora

o nosso sistema linfático não era de todo compatível,

sobre todo às sextas, depois aos sábados e assim a seguir.

Nesta parte do livro achamos ao Eu suficientemente inteligente para valorar desde aparente distancia:

 

Abro a porta.

Tenho cuidado com os vidros partidos.

Olho constantemente para o mapa

mas já não me lembro para onde queria ir.

 

Para finalizarmos o livro temos o Sem tempo. Onde o Eu se converte em observador deixando cair o seu olhar para a realidade e a hipocrisia da conformidade social, a própria intertextualidade ou a razoar filosoficamente sobre diferentes ideias como a da felicidade, como podemos ver em poemas como os Tenho humor e vendo-o barato ou Portugal, dia um de Maio de dois mil e oito. Textos os dois de uma enorme qualidade e dos quais ponho negativa rotundamente a citar, bem por indivisíveis, bem para forçar ao leitor (o qual deverá agradecer-me isto eternamente) a conseguir um exemplar de este magnífico livro. 


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