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Eliseo Fernández

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Memória viva

A batalha de Monsanto (e II)

Eliseo Fernández - Publicado: Terça, 04 Mai 2010 02:00

Eliseo Fernández

Nos dias que se seguiram ao início do conflito dos padeiros, foi crescendo o numero de grevistas acampados na Serra do Monsanto. Segundo algum jornal, dos 7.000 padeiros matriculados na Câmara Municipal de Lisboa, quase a metade achariam-se em greve no Monsanto.

As autoridades quiseram fazer desistir os grevistas da sua atitude colocando forças de cavalaria e infantaria para os rodear, e mesmo fecharam o poço de agua do qual se-abasteciam. Mas os padeiros estavam dispostos a manter a greve e o acampamento foi pondo-se em ordem: os grevistas começaram a construir barracas e forneceram-se de roupa e alimentos. Só o vinho era proibido de entrar no acampamento. E também na cidade os moços de padeiro atuavam, atacando aos fura-greves que os vieram substituir no trabalho.

O cônsul espanhol foi para o Monsanto e quis convencer aos padeiros galegos para deixarem a greve, sob a ameaça das autoridades portuguesas de pô-los na fronteira em vinte quatro horas. A situação dos operários galegos complicava-se ainda mais pelo facto de que alguns puderam ser perseguidos em Espanha por serem refratários ao serviço militar.

Afinal, a ameaça fez-se realidade na madrugada de 22 de Junho, quando forças militares e de polícia cercaram o acampamento e apartaram a 286 padeiros galegos, que foram detidos e levados para o Arsenal da Marinha e o Quartel do Carmo, com a intenção de expulsa-los para Cádiz. O resto dos grevistas ficou dispersado pelos lados de Alcântara, Benfica e as portas de Campo d'Ourique e Campolide; a ideia deles era a de irem para Cacilhas e embarcarem ali para fazer mais um acampamento na Caparica, mas o projeto foi malogrado pela intervenção da polícia, que fez um cento de detidos.

Entretanto, outros moços de padeiro enfrentavam a policia e os fura-greves nas ruas de Lisboa e vários deles, também detidos, entravam na prisão do Limoeiro.

A única intervenção do governo espanhol foi a de pôr-se em comunicação com o governo português para lhe pedir que os grevistas foram expulsos para Vigo e não para Cádiz como era a primeira intenção das autoridades lusas.

A petição espanhola foi atendida e os 286 padeiros galegos foram forçados a embarcarem no transporte militar "África", que os conduziu a Vigo em 24 de Junho de 1894. A desorganização do acampamento do Monsanto, a prisão de muitos grevistas e a deportação dos operários galegos marcou o final da greve, e muitos padeiros começaram a regressar progressivamente à labuta.

Os operários chegaram a Vigo em 25 de Junho, e a prensa galega relatou as circunstâncias da expulsão, informando que grande parte dos padeiros eram jovens de entre 17 a 30 anos, e só uma dúzia deles eram algo mais velhos. Mais de setenta deles eram oriundos da província de Ourense, dois eram da Corunha e o resto eram originários de diferentes localidades raianas da província de Pontevedra, entre as quais destacava Covelo, com quase uma centena de expulsos.

Nos inícios do mês de Julho, a imprensa portuguesa ainda transmitia informações sobre as tentativas de muitos operários galegos de retornarem a Lisboa para reunirem-se ali com suas famílias ou simplesmente voltar ao trabalho. Nas estações do caminho-de-ferro de Caminha, Porto e Lisboa foram detidos dezenas de padeiros galegos que voltavam da Galiza, acusados de desobediência ao governo português. O regresso de muitos padeiros galegos coincidiu com a viagem duma comissão da colónia galaica de Lisboa, que foi a Madrid para protestar (concertadamente com o Centro Galego de Madrid) diante do governo espanhol pela expulsão dos moços de padeiro galegos.

Na memória da classe toda ficariam gravadas as cenas de emoção na separação dos padeiros de todas as origens na Serra do Monsanto, mas também a concertação de esforços dos governos de Espanha e Portugal para desbaratar o combate unitário daqueles operários galegos e portugueses.


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