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Eliseo Fernández

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Memória viva

A criação da Confederação Operária Brasileira (1906)

Eliseo Fernández - Publicado: Terça, 09 Agosto 2011 02:00

Eliseo Fernández

O início do século XX marcou um ciclo de mobilização operária no Brasil, cheio de greves e conflitos. As reivindicações de oito horas de jornada, de incremento de salários e melhores condições de trabalho fizeram rebentar inúmeras greves em toda a nação, algumas delas fracassadas e outras bem-sucedidas.


O crescimento da organização operária e suas lutas mostraram a necessidade de articulação do movimento operário, para além das sociedades de ofício e alguma federação operária existente em centros urbanos do país.

Por volta de 1902, alguns dos promotores do jornal "O Amigo do Povo" de São Paulo, entre os quais o português Neno Vasco, o italiano Augusto Donati ou o galego Juan Bautista Pérez, tiveram a ideia de fazer um congresso operário na cidade paulista; na seqüência desta iniciativa e doutras semelhantes, diversas sociedades operárias do Rio de Janeiro decidiram em 1906 retomar a ideia de fazer um congresso operário no Brasil. Foi assim que aquelas organizações da classe operária brasileira deram em convocar o I Congresso Operário Brasileiro para Abril de 1906, nos salões do Centro Galego, na Rua Constituição 30-30 da cidade de Rio de Janeiro.

O investigador carioca Milton Lopes já tem assinalado que o Centro Galego de Rio teve atividades relacionadas com o movimento operário brasileiro a partir de Outubro de 1903, pois foi lá onde o primeiro grupo de teatro libertário do Rio, o chamado Grupo Dramático de Teatro Livre iniciou as suas atividades. Com a representação das peças intituladas 1º de Maio, do anarquista italiano Pietro Gori, e O mestre e a escola social ficava iniciada uma longa relação entre o sindicalismo brasileiro e o Centro Galego do Rio.

Afinal, nos dias 15 a 22 de Abril de 1906, efetuou-se o Congresso com a presença de quarenta e três delegados representando vinte e oito federações e sociedades operárias de todo o Brasil: Pernambuco, o Ceará, Alagoas, São Paulo, Rio Grande do Sul, Niterói, Juiz de Fora, Santos, Ribeirão Preto, Campinas e Rio de Janeiro. O congresso debateu diversos temas sob a situação da classe operária e dos seus organismos, e decidiu a criação da Confederação Operária Brasileira (COB), e do seu porta-voz, o jornal A Voz do Trabalhador. Ainda que a fundação da COB viesse seguir o caminho aberto pelo sindicalismo revolucionário francês, temos de lembrar que o Congresso Operário Brasileiro foi prévio ao Congresso da CGT francesa de Amiens em Outubro de 1906, a partir do qual foi difundida a denominada Carta de Amiens: o chamado à classe operária para se organizar fora do controlo dos partidos políticos de qualquer tipo. Em qualquer caso, o encerramento do Congresso marcou o ponto de partida para uma nova etapa do sindicalismo no Brasil.

Na memória operária brasileira, o Centro Galego ficou já como o lugar em que acontecera um dos comícios mais importantes da história do seu movimento operário. Mas não ficou aí a relação do Centro Galego de Rio com o sindicalismo brasileiro, pois o centro social dos imigrantes galegos continuou acolhendo atividades sindicalistas e anarquistas até pelo menos o ano 1922: foram palestras dos líderes operários e festivais teatrais e musicais, muitos deles focados em angariar fundos para greves, para auxílio aos presos e deportados, ou para a criação de escolas. Em agosto de 1913, foi também nos locais do Centro Galego onde houve um festival para recolher dinheiro para a organização do II Congresso Operário Brasileiro, que desta volta organizou-se no Centro Cosmopolita de Rio de Janeiro. Nas duas primeiras décadas do século XX, não resulta então errado afirmar que o operariado do Rio de Janeiro teve no Centro Galego um sólido refúgio para as suas atividades. Já veremos também como muitos imigrantes galegos ficaram envolvidos de jeito maciço em quase todas as lutas do proletariado brasileiro na primeira metade do século XX.

eliseo@nodo50.org


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