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José Borralho

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Desassossegar

O proletariado existe!

José Borralho - Publicado: Terça, 02 Agosto 2011 02:00

José Borralho

Centrar um debate sobre o proletariado, os seus interesses, o seu papel na luta política e os seus aliados na revolução, representa uma forma de chegarmos pouco a pouco aquilo que nos interessa: quem caminhará com o Partido revolucionário, (quando ele existir e tiver uma palavra a dizer na luta de classes), na revolução dos explorados e oprimidos?


O que interessa ao proletariado para dirigir uma revolução socialista, é possuir independência política como classe, e ganhar a hegemonia que lhe permita conduzir um processo revolucionário em que destrói as actuais relações de produção capitalistas e liberta todos os outros explorados e oprimidos. Se esta condição de hegemonia não estiver concretizada, como sempre, lá vai o proletariado fazer o frete de ser carne para canhão para que outras classes se aproveitem da sua combatividade e em seu nome se elevem ao poder.

O marxismo, é uma teoria científica que tendo como métodos de análise o materialismo histórico e o materialismo dialéctico, os seu fundadores Karl Marx e Frederic Engels, ao abordarem a formação do capitalismo e todas as consequências sociais do seu funcionamento e desenvolvimento concluíram que, a sua socialização criou um personagem histórico -o proletariado- que será o coveiro do próprio capitalismo, dado que, este se tornará um obstáculo ao desenvolvimento social e consequentemente à felicidade humana. É o que a história tem confirmado abundantemente, revelando que a luta de classes entre explorados e exploradores é o motor que faz caminhar a humanidade.

Marx, colocou o proletariado e só o proletariado como o sujeito revolucionário, parteiro de uma nova sociedade sem classes, sem explorados nem exploradores e sem sistema assalariado. Isto não significa caminhar sozinho na luta contra o capitalismo, mas tão só, caminhar com independência política.

Proletários genuínos, são os operários que, produzem riqueza e que, acrescentam mais-valia à mercadoria produzida depois de o capitalista lhe pagar o trabalho socialmente necessário para a manutenção do operário enquanto força de trabalho, e o excedente se transformar em capital variável. São estes os produtores de riqueza, os que fazem trabalho produtivo.

Fazem parte do proletariado todas as camadas pobres dos assalariados que, integrando a cadeia de produção completam o circuito da mercadoria até ao seu final. Seguem-se-lhe os proletários agrícolas, os pescadores por conta de outrem e toda a imensa camada de assalariados pobres dos mais diversos trabalhos.

O marxismo, é uma bússola e um guia para a análise e a acção revolucionárias, não é um dogma estático e eternamente repetido, e por essa sua particularidade científica, não traz receitas que possam ser aplicadas em momentos históricos diferentes. Por exemplo: no tempo vivido por Marx as alianças de classe com os camponeses eram indispensáveis, dado o progressismo das suas reivindicações e a sua representatividade. Salvo uma faixa estreita de pequenos camponeses super-explorados, o mesmo não se passa hoje em dia nas sociedades desenvolvidas em que os camponeses foram substituídos por modernas sociedades agrícolas. Se estas forem arruinadas pela voragem do capitalismo, os seus associados virar-se-ão para outras soluções que lhes permitam sobreviver: cooperativistas, capitalistas, ou, a solução que o Partido proletário conseguir afirmar, se tiver autoridade para isso.

Igualmente no tempo de Marx as classes intermédias não capitalistas, os artesãos e as velhas fábricas assentes no puro trabalho manual, foram devoradas pelo capitalismo em ascensão, não tendo hoje qualquer expressão económica e social.

Ao invés, no nosso tempo, deparamo-nos com classes intermédias a que o capitalismo deu vida, e essas classes tornaram-se de tal forma influentes na sociedade, que lhe são indispensáveis, -ao capital,- para a sua sobrevivência. Por muito que custe ouvir a alguns, o mundo mudou, o capitalismo trouxe com ele duas novas revoluções industriais, novas forças produtivas e as modernas tecnologias que lhe estão associadas, eliminou sectores inteiros de mão-de-obra operária intensiva, aumentou o exército de mão-de-obra desempregada, apareceram em cena novos sectores técnicos que substituíram em grande parte as tarefas dos antigos operários: engenheiros, quadros técnicos especialistas e outros quadros são hoje os "proletários" que comandam a produção de mercadorias nas empresas.

A nova sociedade capitalista, provida de uma imensa capacidade produtiva, muniu-se de todo um conjunto de "colaboradores" que formam uma classe pequeno-burguesa que está sempre pronta a afogar o proletariado na fornalha dos seus interesses. Os grandes capitalistas, administradores, gestores, directores, catadupas de chefes de divisão, de sector, de secção, etc.

Políticos de carreira, os séquitos que rodeiam os orgãos de poder, militares de carreira, e os mais de trezentos e cinquenta mil patrões, e teremos traçado com crueza o quadro das relações de classe em que se movimenta o proletariado, que é constituído por centenas de milhares de operários e operárias, das fábricas, da construção civil, das minas, dos transportes, das comunicações, das limpezas, das pescas e dos portos, assalariados agricolas, e todo o tipo de assalariados nos mais diversos sectores, auxiliares de saúde e de educação, trabalhadores do comércio e dos mais variados serviços, soldados e marinheiros, milhões de pensionistas miseráveis, jovens à procura de emprego e centenas de milhares de desempregados, este é o nosso exército!

Enfermeiros e professores, médicos e advogados por conta de outrém e outros sectores técnicos, são assalariados que produzem lucro aos seus patrões, ou prestam um serviço necessário, são as chamadas classes médias, instáveis pela sua situação de classe, serão aliados do proletariado, mas não são proletários.

No decurso da crise, uma política justa de alianças, trará estes assalariados para o campo da revolução, mas nunca poderão ser o condutor da luta, porque, condenariam o processo de mudança revolucionária ao fracasso adaptando-a ao seu estatuto priviligiado.

A sublimação dos avanços tecnológicos que supostamente acabariam por transformar o proletariado numa figura decorativa, apresentam uma enorme contradição que, hoje está bem visível aos olhos de todos, e dá pelo nome de crise do sistema, devida à concorrência incessantemente desenvolvida entre capitalistas.

Para acontecer "ficarmos sem proletariado,"era preciso que no capitalismo não existissem contradições e este fosse um sistema perfeito. Mas, como o capitalismo contínuamente gera crises, a proletarização e o empobrecimento de cada vez maiores contigentes de trabalhadores e de classes vítimas da irracionalidade do sistema é inevitável, e recompõe contínuamente as fileiras dos desapossados.

Pelo "medo" de que o proletariado fique isolado, inevitávelmente baixam-se as reivindicações proletárias (afastando o proletariado do objectivo do poder), submetendo-o à direcção da pequena burguesia. E tem sido sempre, este caminho que o tem tornado tropa de choque dos interesses que não são os seus. Foi esse o papel que o centrismo desempenhou ao longo da história, e que conduziu as experiências de socialismo à derrota do proletariado em toda a linha. Este é aliás tema de um livro de Francisco Martins Rodrigues que urge debater.

O maior erro em que os comunistas poderiam caír seria alargar o conceito de proletariado a todos os assalariados, desconhecendo a diferença materialista entre produção da mais-valia dada pelo proletariado,(o trabalho produtivo), e a contribuição para o acréscimo dos lucros do capital, proveniente das camadas superiores dos assalariados, a diferença entre explorados e sectores intermédios.

O rigor científico é apanágio dos marxistas, que, seguindo o método dialéctico não podem nunca, adaptar a realidade às suas conveniências momentâneas.

Um partido revolucionário e comunista só pode vingar se souber que classe representa e como pode transformar a sua luta num projecto colectivo vitorioso. E por isso se chama partido do proletariado, a única classe interessada até ao fim em que termine a exploração do homem pelo homem, que produzirá a libertação de toda a sociedade e dos seus membros, através do trabalho criador e da justa repartição da riqueza produzida.


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