"O peso desta medida fiscal temporária seja equivalente a 50% do subsídio de Natal acima do salário mínimo nacional", foi o que disse PPC no Parlamento, no que foi de imediato lido, e não desmentido, como um corte de metade nos subsídios de Natal superiores ao SMN. Veio depois a clarificação, e o Jornal de Negócios publicou de imediato uma prestimosa calculadora, onde podemos saber que afinal "apenas" nos será subtraído metade da parcela do nosso subsídio que for superior aos 485 euros do SMN (traduzindo, em 1000 euros de subsídio de Natal serão retidos (1000 - 485) / 2 = 257,5 €).
A habilidade de Coelho, e não nos venham com semânticas equívocas, foi a de criar o pânico nos cidadãos, para depois os sossegar, criando-lhes mesmo a ilusão de que até ficarão a ganhar umas centenas de euros com esta medida suplementar ao programa de governo.
O número de Coelho lembra um dos últimos actos da farsa socrática, quando o ex-primeiro-ministro veio, prazenteiro, anunciar aos portugueses as medidas que não faziam parte do acordo com a troika internacional, como se se tratasse de uma reencarnação da senhora de Aljubarrota, capaz de correr à pazada com a corja estrangeira.
Mas, para quem vivia ainda em ilusão, a curta realidade já nos vai mostrando que - como alguém escrevia numa rede social - este Sócrates é muito parecido com o outro.
E todos nos dias nos vão repetindo a ladainha de que Portugal não é a Grécia, ao mesmo tempo que replicam as medidas que colocaram os gregos em fúria, e literalmente capazes de espancarem os seus representantes parlamentares. Por cá, o povo ainda é sereno...