Portugal não precisa de falsas unanimidades, nem de consensos podres, entre aquilo que é inconciliável, e os senhores presidentes deviam sabê-lo muito bem. O que é exigido ao país pelos donos do dinheiro, de quem se diz hipocritamente que nos vêm ajudar, é que hipotequemos o nosso futuro nas próximas décadas, para que o grande capital financeiro possa daí obter a máxima rentabilidade.

É preciso sacrifícios, dizem-nos e repetem-nos, é preciso que todos façamos sacrifícios. Dito assim, só um estúpido não estará de acordo. Então se todos nós fizermos sacrifícios Portugal caminhará para um luminoso futuro, qual é a dúvida?

Mas, pelo sim pelo não, algumas questões prévias aos senhores ex-presidentes da República.

Que tipo de sacrifícios estão exactamente a pensar fazer?

Estão por acaso entre os dois milhões de portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza?

Estão, ou têm algum familiar próximo entre os mais 600 mil desempregados a quem o FMI promete cortar as ditas "regalias"?

Contam-se entre os milhares de idosos que têm de escolher na farmácia entre os medicamentos que levam para casa e os que ficam para uma próxima oportunidade?

Já equacionaram retirar os vossos filhos ou netos do ensino superior por não terem dinheiro para as propinas?

Já começaram a comer umas sopas bem nutritivas, como agora se aconselha, que até são mais saudáveis, esquecendo por uns tempos o sabor da carne e do peixe?

Aos senhores ex-presidentes da República, e também ao actual, pois claro, o que deve ser pedido é que comecem por exigir sacrifícios aos donos de Portugal que vos pagaram as campanhas eleitorais. Eles que dêem o exemplo ao povo, e quando pela primeira vez um deles tiver que fazer um sacrifício que seja igual ao dia a dia da generalidade dos portugueses, então nessa altura venham falar connosco, e cá estaremos para a nossa parte do apertar o cinto. Para já, deixem-se de histórias.