Segundo os dados -do ano 2008- recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e a consultora ErnstYoung -par surpreendente- a classe média espanhola, que se mede só em nível de renda -entre 20.000 e 60.000 euros anuais-, recuou quase a níveis de 1960, situando-se em 42,9% face aos 41% daquele ano.
Algo semelhante acontece com as classes baixa e pobre, que hoje formam 50,4% -30,4% a baixa e 20% a pobre- da população, face aos 56% de 1960.
Uma queda no consumo deveria supor também uma queda na produção, na exploração de recursos não renováveis e na destruição ambiental. Em crise também há quem experimente um ligeiro alívio.
Mas desses números também podemos extrair outras leituras. Não é um dado nada desprezível que a população pertencente à classe mais alta, quer dizer, os ricos mais ricos, duplicasse no mesmo período, passando de 3% em 1960 para 6,7% em 2008. Segundo este indicador, o que realmente aumentou de modo alarmante foi a desigualdade social. Alguém calculou que aconteceria se os rendimentos dos 6,7% ultrarricos se redistribuíssem entre os 20% da chamada classe pobre?
Porém, isto não é exclusivo do Estado espanhol. A nível mundial, em 1960 a fenda entre os 20% mais ricos do planeta e os 80% mais pobres era de 1 para 30. Hoje é de 1 para 80.
Haveria que perguntar a esses analistas se para eles é justificável que, sob a ditadura do financeiro que caracterizou as três últimas décadas, as 3 pessoas mais ricas do planeta tenham uma fortuna superior ao PIB total dos 48 países mais pobres, ou que o património das 15 pessoas mais milionárias do mundo ultrapasse o PIB de toda a África subsaariana.
Um par de reflexões mais podem ajudar-nos a desvendar se estamos ou não perante uma catástrofe. A primeira traz-no-la Philippe Saint-Marc, que convida a imaginar um país com só 200.000 desempregados, no qual a criminalidade seja 5 vezes menor, as hospitalizações por doenças mentais um terço das actuais, os suicídios só metade e as drogas entre a mocidade quase inexistentes. Pois bem, essa era a França de 1960.
A segunda, trazida por Carlos Taibo e outros "autores do decrescimento", corresponde a dados recolhidos por diversos inquéritos em diferentes países -EUA, Cánada, Japão e a UE. A maior parte destas sociedades pensam que viviam melhor na década de 1960, e as percentagens de cidadãos que se declaram felizes e satisfeitos é cada vez menor.
O único problema é que na sociedade de hoje, adita ao crescimento ilimitado, a descida da classe consumista -que não média- pode, com efeito, levar ao colapso, pois aniquila as bases do sistema, que são o consumo e a produção sem controlo. Eis o que deveríamos mudar.
Fonte: Galiza Hoje.