A Shell já detém essas licenças, outorgadas pelo governo Obama em tempo recorde sob a alegação dos altos preços do petróleo e a suposta geração de 54.000 novos postos de emprego nos Estados Unidos. Não houve exigências de planos de desastres adequado para o caso de um vazamento de petróleo. Não foram exigidos padrões de exploração compatíveis com as caraterísticas extremas do Ártico nem processos de testes pilotos e certificações que os atestem.
30% das reservas mundiais de gás, 15% do petróleo e rota do Caminho da Seda
O aquecimento global tem liberado vastas extensões para o acesso a gigantescas reservas de petróleo e minerais no Ártico, incluindo 30% das reservas mundiais de gás e 13% das reservas de petróleo. Além disso, por ali passará uma das rotas do Novo Caminho da Seda que conectará, pela via marítima Pequim até a Europa.
Enquanto a crise capitalista se aprofunda, aumenta a corrida por lucros fáceis em regiões ricas em reservas naturais, que somente podem ser viabilizados por meio de métodos de exploração altamente depredatórios.
A escalada militar em direção ao Círculo Polar
O governo russo avança na tentativa de controlar uma parte do Ártico, de olho nos outros sete países que também o reivindicam. Cinco desses países participam na OTAN. A corrida armamentista na região levou à escalada das contradições entre a Rússia e os países nórdicos.
Às manobras da OTAN na região e no Báltico, a Rússia tem respondido por meio da reativação de antigas bases da época da União Soviética, por exercícios militares e pelo reforço militar na região. Os últimos exercícios militares do Exército russo colocaram em movimento dezenas de milhares de soldados e marinheiros, além de mísseis anti-aéreos e balísticos, como os Iskander-M.
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A nova doutrina militar, aprovada no mês de dezembro do ano passado, colocou o Ártico dentro das prioridades, junto com o controle do Mar Negro.
A Frota do Norte já representa mais da metade do poderio naval russo. Conta com quebra-gelos movidos a energia nuclear. Mísseis S400 foram movidos para a região. Serão estacionados seis mil soldados a mais em Murmansk e em Yamal Nenets, que se somarão às dezenas de aviões de combate, caças, helicópteros, navios, submarinos e mísseis. Tudo é controlado a partir de um comando unificado. O Mar de Barents é vigiado de perto pela aviação russa.
A Noruega passou a apoiar as movimentações da OTAN no Ártico e as sanções contra a Rússia por causa do aumento das pressões do imperialismo. A política mantida durante o século passado está mudando para uma política mais agressiva. O governo chegou a anunciar que realizará manobras militares em larga escala em Finnmark, na fronteira com a Rússia. O país, além de disputar em termos geográficos o controle da região, possui o comando do exército acima do Círculo Polar.
A China e a Índia também buscam controlar a região, principalmente a China que é o principal mentor do Novo Caminho da Seda.
Ártico: lucros a qualquer custo e desastre ambiental em largas proporções
As consequências de um provável vazamento de petróleo na região do Ártico podem ser catastróficas e muito mais difíceis de serem controladas que em águas não congeladas. As águas são escuras, de difícil acesso, congeladas e com temperaturas muito baixas. A flora e fauna locais, assim como os animais migratórios, serão gravemente afetadas. Na região, existem criadouros naturais para muitas espécies aquáticas que enfrentam perigo de extinção.
As perfurações deverão ser feitas a milhares de quilômetros dos centros ou das bases operacionais, sujeitos a ventos fortes e marés altas, que mudam com muita rapidez, e que impedem a existência de micróbios capazes de quebrar partículas de petróleo, que seriam fundamentais nas operações de limpeza de um possível vazamento. No caso de um desastre ambiental, a ajuda demoraria dias para chegar ao local.
As baixas temperaturas e a falta de luz no inverno reduzem a capacidade de absorção do petróleo. Mesmo após mais de 20 anos do acidente da Exxon Valdez no Alasca, ainda é possível encontrar petróleo nas praias de Prince William Sound, localizadas ao norte do Alasca.
O Ártico é um ambiente inóspito e com grande influência sobre o restante do planeta. No caso de acontecer uma explosão numa das plataformas, como aconteceu no Golfo do México há quatro anos, a perfuração de um poço de alívio seria muito mais difícil. Se o inverno rigoroso chegar durante essas operações, o óleo ficará vazando durante vários meses. A recuperação de petróleo no gelo é extremamente difícil. A tecnologia usada na contenção de derramamentos é inútil no gelo espesso.
No plano de desastres da Shell, por exemplo, constam apenas 9 navios que atuariam no caso de derrames de petróleo no Mar Chukchi. Como referência, para conter o acidente da BP, no Golfo do México, foram utilizados 6.000 navios para retirar o óleo.
As reservas estimadas no Ártico são de, aproximadamente, 90 bilhões de barris de petróleo, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, e os custos de produção deverão ultrapassar os do Mar do Norte e os do Pré-Sal. A rentabilidade, portanto, só poderá provir da exploração e produção depredatória. A estruturação, manutenção e implementação de um plano de resgate e investimentos em tecnologias apropriadas são componentes extremamente caros dos processos de exploração e produção de hidrocarbonetos, e incompatíveis com o caráter depredatório das multinacionais imperialistas que buscam lucros rápidos e fáceis. Por esse motivo, uma catástrofe ambiental de grandes proporções no Ártico é altamente provável, principalmente, se analisarmos o histórico recente e o das últimas décadas.
A exploração e produção de petróleo na região do Ártico, com segurança, são operações extremamente caras e incompatíveis com o caráter extremamente parasitário do capitalismo na sua fase atual que persegue a obtenção de lucros a qualquer custo.
Alejandro Acosta está atualmente na Rússia cobrindo os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.