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121029 goyaUnião Europeia - Vermelho - Em "La letra com sangre entra", uma pintura de Francisco de Goya, um professor bate no bumbum de seu aluno, com um cão a seus pés, enquanto dois estudantes, que já receberam a surra, observam a cena com um gesto de dor. No Carnaval veneziano que a zona do euro atravessa, o professor vem disfarçado de troika europeia, o cachorro pode ser qualquer um dos governos que aceitam, sem dizer nada, a receita neoliberal, e os alunos se vestem de pessoas que resistem como podem ao plano de ajuste.


A crise econômica é acompanhada pela violência de um Estado que aplica os cortes com rigor e não economiza em surrar a cidadania europeia. “O que a polícia da Espanha, Grécia e Romênia possui em comum?”, difundiu a Anistia Internacional na Espanha, em sua conta no Twitter (@amnistiaes pana), como se tratasse de uma trivialidade. Ontem, a organização humanitária revelou o mistério com a apresentação do documentário “Atuação policial nas manifestações na União Europeia”. 

Baseado em depoimentos recolhidos nesses três países, o documentário denuncia que pessoas que se manifestavam pacificamente, contra as medidas de austeridade aprovadas na União Europeia, receberam golpes e pontapés, gás lacrimogêneo e foram feridos por balas de borracha. Além disso, acentua a atuação da Justiça afirmando que o abuso policial não é investigado, nem castigado e, quando investigado, as demandas são dificultadas por não serem identificados os agentes envolvidos.

A história de Paloma Aznar é uma das que fazem parte dessa repressão que paira no ar europeu, como os gases lançados pela polícia antidistúrbio de seu país. Com o aumento dos acampamentos dos indignados do 15-M, a escritora, roteirista, cineasta e jornalista espanhola compreendeu que tinha histórias para contar sobre a crise, os protestos e os movimentos sociais na Espanha. Então, se instalou na madrilena Puerta del Sol. Já havia feito reportagens sobre o movimento Ocupe e a respeito dos abusos bancários.

Ela registrou os primeiros casos de abuso policial numa manifestação em frente ao Ministério do Interior, durante as reivindicações contra a viagem do papa Bento XVI a Madri, em agosto do ano passado. “Na medida em que foi endurecendo a crise, aumentaram os protestos e cresceu a violência policial contra manifestantes e jornalistas, que se tornaram testemunhas incômodas de abusos e agressões”, destaca a mulher, que já possui mais de um ano registrando surras em manifestantes e jornalistas.

Embora tenha estado no Iraque, assistiu manifestações no Egito e viajou para territórios palestinos em oito ocasiões. Já de início, a escritora – com a experiência de ter percorrido cenários de violência – afirma: “Não poderia imaginar que a polícia espanhola cometeria as atrocidades que cometeu nos últimos tempos, especialmente durante os dois últimos anos”. “Comecei a ver coisas inacreditáveis para um país europeu democrático”, insiste, a respeito das razões que a levaram a fazer a cobertura dos protestos em seu país.

“Em relação a quais atrocidades você se refere?” – pergunta este jornal.

“Desde que começou a crise, 23 pessoas perderam um dos olhos por balas de borracha, disparadas por agentes da UIP (antidistúrbios da Unidade de Intervenção Policial), e dois morreram. Todos os casos sobre os quais eu falo estão arquivados, não foram investigados e não tem nenhum policial punido. O último morto é Iñigo Cabacas, em Bilbao, no último mês de abril. Ficou em coma durante 72 horas, e morreu por lesões cerebrais depois de receber o impacto de uma bala de borracha. A agressão de Iñigo não foi produzida numa manifestação. A polícia basca (Ertzaintza) disparou em sua cabeça durante algumas agitações de rua, após uma partida de futebol. Uma mulher de 59 anos, também basca, chamada Rosa Zarra, faleceu por uma perfuração intestinal provocada por uma bala de borracha”.

Aznar também sofreu a violência da polícia espanhola. Num protesto contra a viagem do Papa, a polícia cercou os manifestantes na Rua Carretas para retirá-los da Puerta de Sol, que se enchia de peregrinos católicos. “Em Carretas avançaram contra as pessoas, vi vários policiais antidistúrbios golpeando uma jovem no chão, num beco, atrás do edifício da Presidência da Comunidade de Madri”, destaca Aznar. “Corri para lá pensando que quando me vissem com uma câmara, deixariam de agredir a jovem, mas voltaram e bateram em mim”. A cineasta recorda que eram policiais antidistúrbios com capacetes e escudos, a maioria sem número de identificação. “Um deles me bateu, mas sobre a jovem havia cinco. Eram várias unidades de UIP desocupando o lugar, cerca de cem agentes”, reconstitui. “Sabe? Agora vamos trabalhar com capacete!”, conta a situação em que trabalham os jornalistas espanhóis.

A jornalista sente medo e destaca que em seu país impera a doutrina do choque. “Em breve, a Espanha irá receber o resgate, a tensão aumentará, e a violência nas ruas também”, prevê. E questiona-se: “Se a polícia está para nos proteger, quem nos protege da polícia?”.

Fonte: Página/12


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