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100913 pkkCurdistám - PCB - [Leandro Albani] Nem vítimas e nem na segunda linha, mas sim guerrilheiras e em permanente libertação. Assim são as mulheres que integram a guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).


Isto pode ser comprovado após percorrer os vários acampamentos da insurgência nas montanhas de Kandil, ao norte do Iraque. Uma das primeiras surpresas é observar que a quantidade de comandantes mulheres quase supera em número a dos comandantes homens. Não é um capricho. No PKK e nas organizações que dependem do partido, todos os postos de direção são compartilhados através de copresidências.

Distribuir as responsabilidades e os trabalhos nos acampamentos não parece algo imposto ou rígido. Simplesmente na cozinha ou na hora de lavar pratos e copos, homens e mulheres se reúnem e o fazem. Algo que não difere quando chega o momento de deslocarem-se à frente de batalha e combater, como agora acontece no norte da Síria, região assediada por mercenários e membros da Frente Al Nusra, filial local do Al Qaeda.

Rengin Botan, com apenas 37 anos, é parte do Conselho do Comando Geral da União de Autodefesas do Povo (UAP), organização que agrupa guerrilheiros e guerrilheiras. Antes de falarmos com Rengin, a comandante Beritán comenta que essa mulher magra, que sorri sempre e que transmite uma fragilidade coberta de ternura, é uma das comandantes mais respeitadas da insurgência. O mesmo diz Mehmet Alí Dogan, antropólogo que me acompanha. “Quando ela dá uma ordem, homens e mulheres obedecem prontamente. Ela sempre está na linha de frente, nunca na retaguarda”, afirma.

História e tradição

“A sociedade curda não está desenvolvida, existem muitas tradições arcaicas. A estrutura feudal é dominante e não permite às mulheres libertarem-se. Nestas tradições, a mulher da casa é o orgulho da família, porém esse orgulho passa entre suas pernas. O homem, que também é vítima do sistema colonial, em lugar de tomar uma posição de rebeldia contra o sistema, mata sua mulher para descarregar sua raiva”, resume, sem meias palavras, a comandante Rengin.

Nas conversas, guerrilheiras e guerrilheiros concordam que as mulheres do Oriente Médio sofrem mais com a repressão patriarcal imposta pelo sistema, à qual soma-se a influência do Islã mais reacionário, que se complementa com o capitalismo. Por isso, dentro da insurgência classificações como esposa, mãe ou irmã não são utilizadas. Preferem o simples “camarada”. Dessa maneira, buscam varrer as condições impostas pela “modernidade capitalista”, segundo define a guerrilha.

Harun, comandante do PKK, sintetiza desta forma: “No Oriente Médio existe um provérbio que diz que a mulher tem nome, porém não existe. Nas sociedades originárias, de onde viemos, não havia Estado-Nação e a mulher participava naturalmente da sociedade. A mulher que participa em nossa luta insurgente prova que existe e como ser humano, sem falar de igualdade, é um ator ativo como todos”.

Contra o sexismo

No livro “Confederalismo democrático”, o dirigente máximo do PKK, Abdullah Ocalan, aponta que um dos pilares do Estado-Nação é o “sexismo”. Neste texto, analisa que as mulheres são exploradas e utilizadas como reserva de força de trabalho barata. Por sua vez, tanto Ocalan como os guerrilheiros e as guerrilheiras consultados, destacam que a libertação da mulher não pode ser alcançada uma vez conquistada a revolução. No PKK sabem que essa libertação será conquistada no furor da luta cotidiana, com fuzis nas mãos, formação ideológica e com a convicção de uma sociedade mais justa.

“Cada mulher tem suas razões para participar na luta, porém quando nos reunimos nos transformamos em uma só mulher”, comenta Rengin. “Podemos ver a libertação de uma sociedade segundo o nível de libertação da mulher. Esta filosofia é nosso princípio: temos que nos libertar como mulheres para libertar a sociedade”.

Caminho da libertação

“Cada participação das mulheres na guerrilha é uma expressão que demonstra que existimos e que buscamos nos libertar. Uma mulher guerrilheira está na montanha porque se sente totalmente livre e porque vive uma ruptura com sua história”, assegura Rengin Botan.

Nas duas últimas décadas, dentro do PKK a questão da mulher tomou um impulso que segue em desenvolvimento. Muitos dos combatentes assinalam que a postura de Ocalan de respaldo à participação feminina foi desestabilizadora para começar a acabar com o machismo das fileiras revolucionárias.

Crítica ao machismo

O comandante Harum explica que sempre “fazemos uma crítica radical ao machismo. Onde quer que o homem esteja, seja numa empresa ou numa família, tem o poder e dominação total. A luta do PKK é para transformar o homem machista num homem normal. A mulher não pode ter um lugar na sociedade sem a transformação do homem machista”.

Quando foi criada a insurgência, recorda a comandante Rengin, “a atitude dos companheiros homens era que a mulher apenas podia lutar nos espaços democráticos e legais, ou fazer a comida, porém não podia entrar na guerrilha. Apesar deste obstáculo, ingressamos na guerrilha e participamos nas frentes de combate. Nesse momento não era fácil, tínhamos que demonstrar que podíamos resistir fisicamente, comandar um grupo e fazer ações. Quando viram que as mulheres podiam fazer tudo, começaram a aceitá-las. Temos muitas comandantes heroínas que se sacrificaram por uma maioria de companheiros homens. Agora, graças a nossa prática, o PKK aceita o fato de que, nas áreas de guerra, uma mulher comete menos erros que um homem. O homem, porque vem de uma história machista, às vezes se sente mais forte e seguro, porém a mulher é mais atenta e analisa ponto por ponto”.

Os espaços da mulher

No PKK as estruturas organizativas têm espaços particulares para as mulheres. Das 15 escolas de formação, 4 são exclusivas para mulheres, onde discutem e analisam suas problemáticas. Também existem acampamentos e unidades guerrilheiras formadas por mulheres.

Em 1993, se formou a primeira unidade guerrilheira de mulheres, que teve o total apoio de Ocalan. “Criamos esta formação porque queríamos sair completamente da direção do homem”, explica Rengin Botan. “A mulher tem argumentos e razões particulares que o homem não pode dar respostas. O nascimento desta unidade permitia uma vida social mais equilibrada e exemplar, e para nós foi uma revolução”.

“Somos uma organização onde as mulheres têm suas próprias estruturas”, assinala Harun. “Isto permite à mulher existir e participar. Quando nós criamos o partido talvez não existissem essas definições ideológicas, porém a maneira de lutar nos permitiu chegar a estas resoluções. Muitas mulheres que são líderes marcaram o partido. Na guerrilha existe formação política e militar, e grupos guerrilheiros para homens e mulheres. Quando os ocidentais escutam isto pensam que é algo arcaico, porém não é no sentido tradicional, mas porque as mulheres e os homens necessitam falar de suas particularidades e ter seus espaços. Homens e mulheres estão juntos em cada espaço de luta. Temos um partido de mulheres, colunas de mulheres, e outras formas de organizações. As mulheres se organizam a nível regional, nacional e confederal. Nas últimas eleições da União de Comunidades do Curdistão (UCK), as mulheres obtiveram 63% dos votos”.

“Em geral estamos juntos e quando uma região necessita uma unidade decidimos quantos homens e mulheres vão. Também existem brigadas de mulheres que estão combatendo na Turquia. Se decide segundo as necessidades e a região. Em cada comissão estamos juntos, porém nas unidades guerrilheiras podemos estar separados, existem acampamentos de mulheres e homens, porém quando vamos à frente de combate nos misturamos”, finaliza Rengin Botan.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB) 


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