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301013 a heranca do vento capa dvdEstados Unidos - PGL - [José Paz Rodrigues] Desde 1988 que, por decisão da Assembleia Geral da ONU, se vem celebrando em alguns países, no período de 4 a 11 de novembro, a"Semana Internacional da Ciência e da Paz". O debate, muitas vezes virulento e irreflexivo entre os defensores de correntes díspares sobre as ciências e as religiões, ou sobre ciência e fé, vem de antigo.


Na atualidade volta a manifestar-se o enfrentamento de posturas nos EUA, e também nos países árabes mais fundamentalistas. Como muito bem diz ao respeito o professor da Complutense Tomás Domínguez Moratalla, "os desafios de uma sociedade dinâmica e aberta, com pluralidade de ideias e crenças, devem ser assumidos criticamente desde uma educação para a responsabilidade, o que pode alcançar-se através de uma educação para a deliberação". O mesmo professor, cujos comentários tomo como base argumental para este meu artigo, assinala que um dos maiores choques entre a ciência e as crenças religiosas não só católicas, foi, sem dúvida, o que representou a teoria da evolução de Darwin. O enfrentamento foi total. Questionava-se diretamente um dos princípios fundamentais do Cristianismo e outras religiões. Pensava-se que se se aceitava o evolucionismo, rompia-se o ideal bíblico do homem como "imagem de Deus".

Este choque, conflito ou enfrentamento, não é algo que possa ser considerado passado, e que hoje esteja superado. A teoria da evolução continua a ser questionada com argumentos muito fracos, e a crítica da religião com base em postulados evolucionistas é em muitas ocasiões tremendamente simples. Apresentar a questão e o problema não está por demais. O desenvolvimento da ciênciaatual demonstrou as origens do ser humano e, portanto, questionando cada vez mais as suas originalidades. Reconhecer as origens representa diluir as originalidades? A teoria de Darwin não é só científica. É muito mais, dado que envolve um conjunto de ideias que provocam o derrube de bastantes crenças. O significado da teoria, ademais de científico, é cultural. Junto com a de Copérnico e a de Freud, também culturais, embora ademais científicas. As três provocam uma "comoção" no nível das crenças humanas e representam uma ferida no coração do homem moderno. Representam uma crítica ao narcisismo moderno, ao sentimento humano de domínio e superioridade.

O ser humano já não ocupa um lugar central no Universo (Copérnico). Tampouco é dono da sua própria casa e da sua própria consciência, muito mais profunda do que se pensava, ao aparecer a ideia de que temos subconsciente (S. Freud); nem tampouco o ser humano é superior ao resto dos animais, lição dada pelo darwinismo (Ch. Darwin). As três são mortificações, a cada qual mais grave e forte. O próprio Freud opinava que a investigação biológica de Darwin era muito determinante em tudo isto. A teoria evolucionista choca frontalmente em primeiro lugar com a Bíblia, se fazemos da mesma – como por desgraça o fazem muitas seitas religiosas cristãs – uma interpretação literal. Neste livro aparecem, como sabemos, afirmações sobre a origem do mundo, dos animais e do ser humano, no chamado "Antigo Testamento". É claro que, se cometemos o erro de interpretar a Bíblia literalmente, (ou outros livros "sagrados" de outras religiões, tal como o caso do Alcorão), não podemos ser evolucionistas, pois o evolucionismo questiona a crença de que o ser humano está feito à imagem e semelhança de Deus e que, portanto, ocupa um lugar especial na criação. Pôr em dúvida este lugar especial do ser humano e supor que possa ter evoluído, e provir do macaco, significa atentar contra a Bíblia.

Por esta razão, frente ao evolucionismo (teoria científica) aparece o criacionismo (teoria religiosa) que busca explicações que vão defender a criação divina das espécies de forma separada, sobretudo do ser humano. O criacionismo não é só um movimento religioso do século passado, surgido como reação contra o evolucionismo, é também um movimento atual, muito presente nos EUA, embora não só, onde uma grande percentagem da população, muito manipulável, segundo recentes inquéritos, acredita como verídicas e "reais" as descrições bíblicas, nomeadamente as do Antigo Testamento.

Para tratar e comentar este importante tema escolhi um filme muito adequado intitulado "O vento será tua herança", do qual existem duas versões, a de S. Kramer de 1960, e a de D. Petrie de 1999, que é um verdadeiro laboratório para refletir e indagar sobre as ideias e as crenças ao redor do relacionamento entre ciência e fé, ciências e religiões. O filme pode ser utilizado em todos os níveis do ensino. E mesmo para motivar um debate-papo ou tertúlia em grupo sobre tema tão polémico.

Ficha técnica das duas versões do filme:

1. Versão de 1960 :

Título original: Inherit the wind (O vento será tua herança / La herencia del viento).

Diretor: Stanley Kramer (EUA, 1960, 127 min., preto e branco).

Roteiro: Harold Jacob Smith e Nedrick Young, segundo a peça teatral de Jerome Lawrence e Robert E. Lee. Montagem e Fotografia: Ernest Laszlo. Música:Ernest Gold.

Atores: Spencer Tracy (Henry Drummond, advogado da defesa), Fredric March(Matthew Harrison Brady, advogado da acusação), Gene Kelly (E. K. Hornbeck, o jornalista), Dick York (Bertram Cates, o professor), Claude Akins (o predicador), Florence Eldridge, Donna Anderson, Harry Morgan e Elliot Reid.

Prémios: Urso de Prata no Festival de Berlim para o ator Fredric March (1960) e eleito como melhor filme no mesmo festival pelo júri jovem. No mesmo ano de 1960 foi nomeado para o óscar ao melhor roteiro adaptado, melhor ator (S. Tracy), melhor fotografia e montagem. No mesmo ano teve duas nomeações aos Globos de Ouro, incluída a de melhor filme.

Argumento: O famoso caso ocorrido em 1925, no estado americano do Tennessee, quando o professor John Thomas Scopes foi julgado criminalmente por ensinar a teoria da evolução de Darwin numa escola pública. ''O Julgamento do Macaco'' (Monkey Trial), como ficou conhecido, teve repercussão mundial pela batalha travada pelos advogados de acusação e defesa. Durante o julgamento, que durou onze dias e foi o primeiro a ser transmitido por rádio, a defesa foi impedida pelo juiz de apresentar cientistas como testemunhas em favor da teoria da evolução. Baseado no romance de J. Lawrence e Robert E. Lee, escrito em 1951.

Versão de 1999:

Título original: Inherit the wind (O vento será tua herança / La herencia del viento).

Diretor: Daniel Petrie (EUA, 1999, 113 min., A cores).

Roteiro: Nedrick Young e Harold Jacob Smith, segundo a obra de Jerome Lawrence e Robert E. Lee.

Fotografia: James Bartle. Música: Laurence Rosenthal. Produtora: MGM Television.

Atores: Jack Lemmon (Henry Drummond, advogado da defesa), George C. Scott(Matthew Harrison Brady, advogado da acusação), David Wells, Beau Bridges (E. K. Hornbeck, o jornalista), Tom Everett Scott (Bertram Cates, o professor), John Cullum (o juiz), Kathryn Morris (Rachel Brown), Lane Smith (o reverendo), Brad Greenquist, Piper Laurie, Peter Mackenzie e Jim Meskimen.

Prémios: Globos de ouro de 1999: Melhor ator numa minissérie ou filme para TV (Jack Lemmon). Emmy de 1999: Nomeações ao melhor ator (Lemmon) e ator secundário (Bridges)

Argumento: Filme baseado num caso real que teve lugar em 1925 nos EUA. Dous grandes advogados enfrentam-se num julgamento insólito: o acusado é um professor de ciências que ensina aos seus alunos a teoria darwinista da evolução.

Educar na liberdade e na tolerância:

Segundo o artigo 18 da Declaração universal dos Direitos Humanos, toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou crença, individual e coletivamente, tanto em público como em privado, pelo ensino, a prática, o culto e a observância. O advogado da defesa no filme comenta que uma ideia é um monumento maior do que qualquer catedral. A tolerância religiosa significa respeitar e aceitar a existência de outras formas de vida, crenças e ideias, ou ainda a não crença em qualquer religião. A intolerância religiosa pode consistir em considerar certas crenças como anómalas, fora de lugar ou heréticas, pelo simples facto de serem diferentes. Para que exista tolerância religiosa é necessário que os indivíduos e as instituições reconheçam a pluralidade e a diversidade do mundo em que vivemos, assim como a existência de conceitos que para outros são importantes embora pertençam a uma minoria. Os dogmas dum culto em particular devem-se interpretar como para uso dentro da comunidade que os professa, e sem involucrar terceiros no mundo exterior que não desejem participar deles.

A liberdade de cadeira é direito dos docentes e investigadores, para pesquisarem nos seus respetivos campos do conhecimento e expressarem as suas anotações e opiniões, sem temor a serem rejeitados ou apartados da sua tarefa. Segundo o pedagogo Luis Mª Cifuentes, no seu livro Educação para a tolerância, podemos perguntar-nos porque é que hoje em dia em todos os sistemas educativos europeus ressurge de novo a preocupação pelo tema da educação intercultural e do respeito pelas minorias. Porque precisamente vivemos cada vez mais em sociedades multinacionais, complexas e plurais no âmbito religioso, moral e cultural. Nenhum Estado pode pretender hoje em dia uma total coincidência dos seus cidadãos numa só crença religiosa, numa só língua e numa idêntica tradição cultural. Antes pelo contrário, a tolerância do diferente converteu-se no desafio mais sério da sociedade presente e futura.

Todo o sistema educativo e a escola devem ser antes do mais um serviço público gratuito que se ofereça em plano de igualdade a todos os cidadãos, com independência da sua capacidade económica e das suas tradições culturais. Por isso, a rede pública de estabelecimentos de ensino deve ser atendida de modo prioritário, dotando-a de todos os recursos financeiros e humanos de que necessita para realizar esse labor social tão importante. O fator de compensação das desigualdades que tem a escola pública baseia-se em que oferece um serviço público gratuito, que procede das receitas fiscais por via de impostos, e isso não significa, sob nenhum conceito, que deva prescindir da exigência académica nem da disciplina coletiva, como garantia de igualdade para todos nos centros académicos. Antes pelo contrário, deve cuidar com a máxima vigilância e controlo o uso dos recursos públicos, que são de todos e estão ao serviço de todos. Por isto, a evidente função social que exerce a escola pública é totalmente compatível com a exigência científica e racional própria de toda a instituição que transmite conhecimentos e que passa o testemunho aos jovens, de toda a tradição canónica da nossa cultura. Uma das caraterísticas essenciais da escola pública é que o seu objetivo irrenunciável é antes de tudo de caráter moral, de educar cidadãos livres, democráticos, críticos e tolerantes. E isto de uma perspetiva integral do ser humano, na qual no sistema escolar não se mutile nem se oculte ou diminua nenhuma dimensão da vida nem da cultura humanas: ciência, humanidades, arte, tecnologia, religião, educação física... e tudo de um modo harmónico e equilibrado através de uns currículos desenhados com esse objetivo de formar cidadãos, que sejam e se sintam úteis a si mesmos e para os demais. Curiosamente, a LOMCE, enésima lei educativa que vem de aprovar-se recentemente no Parlamento de Madrid, com tão só o apoio do partido no governo e a oposição de todos os demais, choca frontalmente com muitos dos princípios que venho de comentar. Educar na liberdade e na tolerância converteu-se em todos os países europeus numa exigência imprescindível, porque a escola é a instituição que com mais intensidade está sofrendo na sua própria pele a realidade social do pluralismo cultural e moral das sociedades atuais.

E a liberdade de cadeira, académica e de pensamento, é outro direito fundamental dos docentes no seu exercício profissional, que têm que ter a liberdade de ensinar e debater sem ver-se limitados por doutrinas institucionais. Os professores devem ter liberdade para expressar-se livremente com as suas próprias opiniões, liberdade perante a censura institucional e liberdade de participar em órgãos profissionais ou organizações académicas representativas. No entanto, é fundamental que respeitem escrupulosamente os seus alunos, nas suas ideias ou crenças, na sua língua e na sua cultura próprias. Este tema nunca o deveriam de perder de vista os docentes de todos os níveis, tal como o tinham sempre presente todos os educadores da Escola Nova, com Robindronath Tagore à cabeça.

O modelo integrador e intercultural de Tagore:

Acho que em nada me engano ao dizer que o modelo que desde 1901 aplicou nas suas escolas e universidade internacional Tagore em Santiniketon (Bengala-Índia), que continuam hoje a funcionar, é o mais perfeito que existe neste tema, ao integrar todo o tipo de estudantes e respeitar escrupulosamente as suas ideias e crenças, sejam quais forem, nem discriminando por razão de sexo, etnia ou casta (classe social). No campus tagoreano, no qual as aulas são quase todas ao ar livre debaixo das árvores, agás na estação das chuvas dos meses de julho e agosto, funcionam várias escolas infantis, primárias, secundárias, profissionais, artesanais, uma quinta pedagógica denominada Sriniketon ("Morada da Abundância") e uma universidade internacional com 14 faculdades e o nome de Visva-Bharoti ("Sabedoria Universal").

O magno centro educativo tagoreano tem infinidade de aspetos educativos positivos, embora seja precisamente essencial aquele que se refere à integração de todos os alunos, o fomento do interculturalismo, o sagrado respeito pela figura do aluno e a sua autonomia, o desenvolvimento escrupuloso da liberdade e da tolerância nos estudantes, como cidadãos do futuro, e a educação para a bondade, generosidade, verdade, espírito ético, amor pela paz, pela vida e pela beleza (esta em todas as suas manifestações naturais e/ou artísticas) e pelo respeito aos direitos humanos, o entendimento entre todos os povos do mundo, as suas religiões, idiomas, culturas e etnias, despreciando unicamente as pessoas que atentam contra a vida de seres humanos, povos e a natureza toda. Para conseguir tudo isto que venho de enumerar, Tagore tinha muito claro que o seu grande centro educativo, por força, tinha que ser laico, não implicando-se com qualquer crença religiosa particular, o que é bastante difícil num país em que a religião hinduísta é professada por mais de 80 % da população, e as demais religiões são minoritárias, embora tenha bastante presença o maometanismo (15 %).

No intuito de incutir nos seus alunos o respeito pelas crenças e ideias de todos, em Santiniketon, ao longo de todo o ano, ademais de comemorar o rico ciclo anual das festas populares de Bengala, e as comemorações relacionadas com Gandhi e a independência do país do jugo britânico, têm lugar as festividades religiosas mais importantes dos diferentes credos: hinduísta, budista, muçulmano, jainista, cristã e o da sociorreligião do Brahmo-Somaj, defensora da igualdade de todos os seres humanos, da educação da mulher em igualdade com o homem e da liberdade, fraternidade e igualdade (tomadas da revolução francesa). Embora em todo o campus não esteja permitida qualquer exposição de figuras e ídolos hinduístas ou de qualquer outro credo. É muito importante o funcionamento no campus tagoreano de uma Faculdade para a Integração que leva o nome de "Indira Gandhi", que no seu dia foi também aluna de Tagore em Santiniketon. O objetivo central desta Faculdade é fomentar nos alunos universitários que a frequentam o respeito por todos os povos, idiomas, crenças, religiões e etnias que coexistem bastante pacificamente no grande país tão diverso que é a República Federal da Índia, com cerca de mil e duzentos milhões de cidadãos. Infelizmente, até à data, ainda não foi criado em Santiniketon um Centro para o relacionamento dos estudantes e docentes de Oriente e Ocidente, que era o maior sonho que tinha Tagore. Esperemos poder vê-lo algum dia não muito distante.

Análise do filme: "Versus" Evolucionismo-Criacionismo:

O filme é inspirado num caso real, o "Processo do Macaco de Scopes", como foi chamado o caso do Estado do Tennessee contra o professor de biologia John Thomas Scopes, ocorrido na cidade de Dayton em 1925. O professor foi julgado por ensinar a teoria da evolução de Darwin numa escola pública. Algumas personagens tiveram o nome modificado, caso de Henry Drummond (baseado no advogado Clarence Darrow, interpretado por Spencer Tracy), Matthew Harrison Brady (baseado em Willliam Jenning Bryan, interpretado por Fredric March), o professor Bertram Cates (baseado em John Thomas Scopes, interpretado por Dick York) e o jornalista E. K. Hornbeck (baseado em H. L. Mencken ou Henry Louis, interpretado por Gene Kelly). A cidade também teve o seu nome modificado, de Dayton para Hillsboro.

O professor de Biologia foi preso porque estava ensinando "darwinismo e evolucionismo" aos alunos, infringindo uma lei local que dizia que os funcionários públicos não poderiam questionar o "criacionismo" ou trabalhar com os preceitos darwinistas. Ele é preso e o seu caso ganha dimensão nacional, principalmente pela escolha dos polémicos e famosos advogado da defesa e da acusação. Praticamente a cidade inteira ficou contra o professor e o advogado, pois os moradores possuíam uma cultura que estava sendo questionada, podendo vir a ser destruída ao cair em contradição. Os "criacionistas" baseavam a sua visão do mundo e a sua conceção de natureza na tradição judaico-cristã, tanto no Velho, como no Novo Testamento. Os "evolucionistas" eram chamados por estes de pagãos e ateus. Importante perceber as posturas e reações do Reverendo Jeremiah Brown e do presidente da câmara Jason Carter, que eram fanáticos e intolerantes quanto a outras crenças religiosas e ao conhecimento científico dos "evolucionistas". Importante é destacar a postura igualmente intolerante do jornalista ateu E. K. Hornbeck, parecendo ser fundamentalista e fanático por uma outra via.

As ações do jornalista, do reverendo e do presidente da câmara eram altamente negativas para a ocasião, "incendiando" a situação e manipulando os sentimentos dos moradores. No início do julgamento, o advogado da defesa pede para ser posto em "pé de igualdade" com o da acusação, pois este segundo fora herói de guerra e coronel. Esta igualdade ocorrerá pelas mãos do presidente da câmara Jason Carter e do juiz Mel Coffey. Inicialmente a estratégia da defesa era defender"o direito de ser diferente, de pensar e de ter conhecimento". Já a estratégia da acusação foi utilizar o tempo todo do fanatismo religioso em conjunto com o ódio e a ignorância, chegando a pedir que a defesa "não confunda cousas materiais com realidade espiritual" e que "não se questionasse as verdades da Bíblia Sagrada". A defesa defende-se ao dizer que "deixar a Igreja não significa deixar Deus". No segundo dia de julgamento, a defesa tenta trazer cientistas evolucionistas para falar, sendo proibidos erroneamente pelo juiz. O advogado da defesa se revolta com tal situação e quase foi preso por desacato ao juiz. Com a confusão, a sessão do dia foi cancelada. No terceiro dia de julgamento, a estratégia do advogado da defesa foi falar com o acusador. Esta situação é bem irónica, pois "peritos em ciência" não puderam falar e um "perito em Bíblia" pôde falar.

Aos poucos, o advogado da defesa foi esmorecendo a imagem do acusador ao fazer este cair em contradição. Inicialmente, o advogado da defesa pergunta se"tudo na Bíblia tem de ser levado ao ‘pé-da-letra", questionando as situações:"como um homem dentro de uma baleia poderia sobreviver""como que o sol poderia ser parado por um ser humano""o facto de o sexo ser um pecado original e a humanidade ter nascido e espalhado com a procriação de Adão e Eva""o facto de o planeta Terra ter sido feito em 5 dias, aonde o sol só teria sido feito no segundo dia (sendo impossível delimitar-se o tempo do primeiro dia)". Depois deste massacre, a sessão do dia é encerrada e o acusador vai para a sua casa muito abalado, questionando "porque Deus estaria sendo julgado". O quarto dia do julgamento foi só para se dar o veredito, que foi unânime, decidindo por considerar o professor Bertram Cates culpado por violar as leis, mas tendo de pagar uma mísera multa de cem dólares. A acusação revolta-se com o valor e a defesa diz que entrarão com um recurso no Supremo Tribunal Federal para não pagar esta multa. Depois do veredito final, o acusador Matthew Harrison Brady tenta ler um texto criacionista, sendo ignorado pelos presentes. Ele enlouquece, tem um infarto do coração e morre no local.

Podemos dizer que o acusador enlouquece porque a sua cultura foi questionada e quando morre temos uma "alegoria" sinalizando o surgimento de "uma nova era" na cidade e no país, que seria de "não fanatismo religioso". Depois da morte de Brady, Hornbeck jocosamente faz planos para o obituário de Brady, usando as palavras que o orador invocara na reunião de orações. "Aquele que perturba a sua própria casa herdará o vento". Quando Drummond cita a Bíblia e defende Brady como um grande homem, Hornbeck percebe que o famoso advogado da defesa é um crente e o execra como um hipócrita. Drummond responde que o cinismo do jornalista o deixou sem qualquer tipo de sentimento ou significado. Depois que Hornbeck vai embora, Drummond embala seus pertences e despede-se de Hillsboro, segurando o livro de Charles Darwin e a sua Bíblia, lado a lado. Talvez uma outra alegoria, para demonstrar que talvez dê para se conviver com estas duas culturas, ou seja, a tolerância e a alteridade são possíveis. Desta forma, o filme é um "choque cultural" entre "evolucionismo" e "criacionismo". Podemos refletir que a cultura da intolerância e do fanatismo é algo negativo, mas que deve ser respeitada. Aquela comunidade isolada e fechada tem o direito de existir e a existência das discussões evolucionistas foi algo negativo para a cultura hegemónica, ajudando a implodi-la. Uma postura acertada é defender a tolerância e a alteridade cultural, pensando até na possibilidade de um hibridismo cultural.

Temas para refletir e realizar:

Depois de ver os filmes, utilizando a técnica de dinâmica de grupos do "cinema-fórum", debater sobre os aspetos fílmicos dos mesmos, o roteiro e a linguagem cinematográfica utilizada pelos realizadores americanos. Fazer o mesmo sobre a psicologia e as ideias das diferentes personagens interpretadas. Refletir também sobre a intolerância sectária e os temas das teorias evolucionistas e criacionistas.

Procurando informação em livros especializados e também na Internet, elaborar uma monografia sobre o evolucionismo e o criacionismo. Organizar nos estabelecimentos de ensino uma amostra à volta destes temas. Na mesma teriam que incluir-se fotos, textos e desenhos dos alunos, poemas, canções, livros, revistas, retalhos de imprensa, murais coletivos, autocolantes, cartazes, selos de correios, etc. Tudo para sensibilizar sobre o importante que é fomentar a tolerância e o respeito por todas as ideias e crenças, sem cair no fanatismo. Também para fomentar nas escolas o interculturalismo, a liberdade de pensamento e o respeito por todos os direitos humanos.

Organizar nas aulas, seguindo os interessantes diálogos que aparecem nos filmes que comentamos, entre os advogados, juízes, predicadores, docentes e jornalistas, diversos jogos dramáticos ou dramatizações, em que participem os alunos.

(*) Académico da AGLP, Didata e Pedagogo Tagoreano.

 

 


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