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160313 a outra arvore guernica 1PGL - [José Paz Rodrigues] No dia 21 de março, com a chegada da primavera, celebra-se desde há muito tempo, na maior parte dos países do hemisfério norte, o Dia da Árvore. Já a princípios do século XX muitas escolas de ensino primário celebravam a data e há publicações que assim o demonstram. Como as da Junta de Ampliação de Estudos e a Instituição Livre do Ensino de Giner e Cossio.


Todos os pedagogos da Escola Nova europeia, nomeadamente Reddie, Geheeb, Demolins, Decroly, Ferrière, Freinet e Cousinet, organizavam com os seus estudantes nas suas escolas atividades artísticas e lúdicas arredor da festa da árvore. Na Índia as árvores são sagradas, por isso Tagore criou a sua escola numa fraga de árvores. Existem naquele “campus”, chamado Santiniketon ou Morada da Paz, infinidade de árvores de todas as espécies. As aulas dão-se ao ar livre debaixo das mesmas, nas quais se pousam pássaros de todas as cores, que animam as classes com os seus formosos trinos. Robindronath indicava aos mestres que era necessário levar as aulas para baixo das árvores, onde estas dão flores e frutos. À aula fechada não se podiam levar, agás só em imagens no papel. Todos os anos celebra-se na sua escola a Festa da Árvore, com lindas atividades artísticas e musicais e a plantação de uma árvore. O nome da festa em Bangla é «Brikhoropon».

Para os romanos as árvores também eram sagradas. Especialmente os carvalhos e as carvalheiras. Quando chegou o Cristianismo considerava-se isto como algo pagão e as fragas de carvalhos foram cristianizadas, colocando nelas alguma capela na honra dum santo ou santa. Como a nossa famosa de São Justo. Sobre a qual existe aquela formosa cantiga popular: “Carvalheira de S. Justo, carvalheira derramada...”. O culto às árvores vem de muito antigo, e já desde o paraíso bíblico da árvore do bem e do mal.

Nesse excecional livro Sempre em Galiza, que todo bom galego deveria ler, o nosso grande Castelão coloca a árvore, junto com a vaca e o peixe, como um dos bens mais prezados para a nossa vida e cultura. Tem razão o de Rianjo quando diz que a árvore é o símbolo do senhorio espiritual da Galiza. O seu texto sobre a árvore é de grande profundidade e formosura. Um verdadeiro poema em prosa, em que fala do bem que nos fazem as árvores, tanto para a nossa saúde, a nossa riqueza, o nosso descanso e o nosso disfrute espiritual, pola sua beleza. E o disfrute do gosto das suas frutas. Pode ler-se ao final do presente artigo num anexo.

A amar aprende-se, e a amar as árvores e a natureza também se pode e deve aprender. Desde as três escolas, a familiar, a pública e a paralela dos meios de comunicação, que podiam fazer muito em favor desta aprendizagem. As aprendizagens apreciativas, que têm que ver com os sentimentos, a afetividade, o amor e as emoções, devem cultivar-se mais do que se faz nas nossas escolas. Viradas em maior medida para as aprendizagens racionais, associativas e psicomotoras. Todos os estabelecimentos de ensino deveriam celebrar o dia da árvore. Realizando plantações de árvores nobres, como carvalhos, castanheiros, nogueiras e azinheiras, nos pátios das escolas. Na festa não deveriam faltar a música, as cantigas, os jogos, as redações e as atividades artísticas e lúdicas. Nas quais o tema central sejam as árvores. Os conhecimentos hão vir logo, e os rapazes procurarão informações sobre espécies arbóreas, as suas flores e os seus frutos.

Tampouco devemos esquecer que o carvalho é a nossa árvore nobre mais importante. Um simples carvalho, parte de um ecossistema florestal, abriga em si uma ampla comunidade. De mais de mil espécies vegetais e animais. Cortar ou queimar um carvalho é um grande crime. Não se alporiçam os meus leitores, igual que me passa a mim, quando veem ao lado de uma estrada, carvalhos decepados que estão a apodrecer? Ou com os incêndios estivais? Escolhi hoje como filme apropriado sobre o tema «A outra árvore de Guernica», realizado por Pedro Lazaga em 1969 e baseado no famoso romance de Luís de Castresana. Serve também como metáfora e alegoria do terrível crime realizado contra toda a população da localidade basca de Guernica, pola aviação alemã da infame Legião Condor. Só ficara em pé uma árvore, arredor da qual ainda hoje se reúnem os bascos bons e generosos, para lembrar a barbárie, que o genial Pablo Picasso representou no seu famoso quadro, conhecido em todo o mundo.

Ficha técnica do filme:

Título original: El otro árbol de Guernica (A outra árvore de Guernica).

Diretor: Pedro Lazaga (Espanha, 1969, 100 min., Colorido).

Roteiro: Pedro Masó e Florentino Soria, baseado no romance do mesmo título de Luís de Castresana.

Fotografia: Juan Mariné. Música : Antón Garcia Abril. Produtora: CB Films.

Atores: José Manuel Barrio, Inma de Santis, Sandra Mozarowsky, Maria Fernanda D´Ocón, Ramón Corroto, Marcelo Arroitia-Jaúregui, José Montijano e Alicia Altabella.

Argumento: Durante a Guerra Civil espanhola, um grupo de rapazes e meninas bascos, como outros de outros lugares do Estado, na zona republicana, foi evacuado para a Bélgica, e pô-lo assim longe dos terríveis bombardeios franquistas e dos horrores da guerra. Longe do seu lar, acolhidos por diversas famílias, vários dos rapazes tratarão de superar todas as dificuldades, apoiando-se uns aos outros, ao mesmo tempo que intentavam adaptar-se ao novo país, ao seu sistema escolar e aos seus pais adotivos. Sem perder o desejo de voltar de novo aos seus lares e regressar quanto antes, uma vez terminada a guerra. A qual, infelizmente, durou três anos, vencendo os franquistas na mesma e dando início a uma ditadura de 40 anos.

A parábola de um filme singular cheio de sensibilidade:

Foi este o terceiro filme em que interveio como atriz Inma de Santis, muito bem valorizado pola crítica cinematográfica. Apresenta este filme como tema central a história de dous rapazes bascos da cidade de Bilbau, os irmãos Santiago e Begonha Celaya, que junto a outros companheiros bascos veem-se forçados a exilar-se na Bélgica, partindo no barco britânico «HMS Franch», por culpa da guerra civil. Em Bruxelas são acolhidos por umas famílias que os tratam muito bem, como se fossem seus próprios filhos. Mas isto não há evitar que o rapaz Santiago, que é o que maior protagonismo tem no filme, seja enviado a um internato, instituição que, contra o que costuma acontecer no cinema e na literatura, não é dirigida por um tirano, mas por um senhor carinhoso e bondoso. Com a permanente saudade de sua família e da sua terra basca, Santiago faz muitos amigos belgas, convertendo-se ademais num líder entre os outros internos e apaixonando-se pola Montse, uma menina barcelonesa interpretada por Sandra Mozarowsky, linda atriz que lamentavelmente se suicidou em 1977 atirando-se da varanda da sua casa em Madrid. Estamos diante de um filme singelo, sensível, com final feliz e muito agradável de olhar. Os rapazes intérpretes do mesmo amostram como se pode e deve respeitar os factos diferenciais, de tipo cultural e a idiossincrasia do Estado Espanhol, colocando a amizade e a solidariedade por cima das diferenças naturais e lógicas que existem. Numa certa altura, de forma injusta, um grupo de belgas insulta, calunia e menospreza os rapazes e estes reagem com orgulho, agindo em uníssono, perante a agressão verbal que estão a sofrer.

Este filme, ideal para ver os estudantes de todos os níveis, não só serve para ilustrar a comemoração da festa da árvore, como também para analisar outros importantes temas como: os problemas de as pessoas terem de se exilar, as tristes consequências da guerra civil, o crime do bombardeio da localidade de Guernica, a solidariedade de outras gentes com a acolhida dos danificados por uma guerra fratricida, as relações entre os jovens, o funcionamento de um internato e das suas aulas e o ter que viver longe do lar e dos próprios pais por um certo tempo e em terra estranha.

Temas para fazer e refletir:

Depois de olhar o filme, organizar um cinema-fórum, para analisar a sua forma e conteúdo e debater sobre as propostas do mesmo, a psicologia das diferentes personagens, o despertar ao amor, a guerra civil fratricida e a importância da solidariedade.

Utilizar nos nossos estabelecimentos de ensino estratégias didáticas adequadas, pondo em prática, entre outras, as atividades seguintes: recitais, autocolantes, música e cantigas, teatro, desenho, amostras fotográficas, modelado, manualidades, jogos, textos criativos, murais coletivos, herbolários, jogos dramáticos, fazer uma plantação de um carvalho e/ou castanheiro, etc. Girando todo arredor do tema da árvore.

A árvore, sem pedir-nos nada, dá-nos a sombra, as flores e os frutos, a madeira, consome de noite o anidrido carbónico e na morte dá-nos as travessas do cadaleito. Não nos pode dar mais. Com este motivo, que os rapazes realizem fotografias, textos e desenhos livres, em forma de redações, poemas, teatro, lendas ou contos sobre o tema central da árvore.

Fazer uma lista de filmes e documentários sobre o tema, ademais de livros ilustrativos, procurando também informações na Internet. Buscar aforismos de Tagore sobre o assunto nos seus livros Pássaros perdidos e Vaga-lumes.

Anexo:

A Árvore, por Castelão (Sempre em Galiza)

A árvore é o símbolo do senhorio espiritual da Galiza.

A árvore é um engado dos olhos, pela sua formosura; é uma ledice dos ouvidos, porque nela cantam os pássaros; é um arrolador do espírito, porque nas suas pólas conta contos o vento.

A árvore dá-nos a fruta, que é um manjar composto pelo mesmo Criador, para regalia do nosso paladar: o derradeiro bem que nos quedou do Paraíso perdido.

A árvore pede água ao céu para que a terra tenha sangue, vida e bonitura.

A árvore dá-nos a sombra fresca no Verão e a quentura garimosa no Inverno.

A árvore dá-nos as traves, o sobrado e as portas da casa. Dá-nos a cama, o armário dos lençóis e a amassadeira do pão. Dá-nos o berço, o báculo da velhice e a caixa para baixar à terra.

A árvore dá-nos o papel barato que nos traz a de cotio as novas do que se passa no mundo.

Vale mais uma Terra com árvores nos montes que um Estado com ouro nos Bancos.

A calvície dos montes galegos é uma terrível acusação contra o Estado unitário.

As árvores são as minas galegas que nós saberemos explorar quando a nossa Terra for nossa.

A repovoação florestal será o património da nação galega e o me­lhor aforro da coletividade.

Na nossa Terra dão-se as melhores árvores.

No dia em que soubermos o que vale uma árvore, naquele dia não teremos necessidade de emigrar.

 


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