Entretanto, foi apanhado a aceitar contribuições para o seu partido da parte do traficante de armas Karl-Heinz Schreiber, condenado por fuga ao fisco. A verdadeira vocação de Schäuble era para chefiar as polícias e não para dirigir as finanças públicas. Por algum motivo foi parar às Finanças, quando começou a ser procurado para o cargo um perfil de polícia.
Mais alma de polícia do que Schäuble era difícil. Quando ministro do Interior. distinguiu-se por uma constante paranóia securitária. Em Outubro de 2009 recebeu o prémio negativo “Big Brother”, pela sua concepção autoritária do Estado.
Entre as ideias preferidas de Schäuble estava a de permitir a intervenção das Forças Armadas em tarefas de segurança interna, nomeadamente para que pudessem ser abatidos aviões civis julgados suspeitos.
Outra ideia de Schäuble era a de subtrair os serviços secretos alemães ao controlo do parlamento. A fundamentação desta ideia peregrina era a de, alegadamente, haver serviços secretos estrangeiros que limitavam a cooperação com os colegas alemães para não verem depois os seus assuntos devassados por comissões parlamentares.
Schäuble defendeu, além disso, que cidadãos suspeitos de terrorismo fossem submetidos a um regime legal diferente dos restantes, e a medidas de prevenção dos actos que, supostamente, tencionariam cometer.
Em coerência com estas ideias, o incansável ministro defendeu também em 2005 que se anulasse a proibição de utilizar em tribunal depoimentos obtidos sob tortura. Deputados de todos os partidos, do Governo e da oposição, rejeitaram este plano.
Em 2007, defendeu a criação de campos de concentração para pessoas consideradas perigosas, também como meio auxiliar de prevenção do terrorismo. E preconizou o assassínio selectivo de suspeitos de terrorismo — tudo isto, dizia, para não ser preciso recorrer ao estado de sítio.
Inversamente, Schäuble opôs-se ao pedido de extradição da Procuradoria da Justiça de Munique contra 13 agentes da CIA envolvidos no sequestro do cidadão alemão Khaled al-Masri. E, quando em 2013 foi descoberta a espionagem praticada contra Angela Merkel pela NSA, Schäuble defendeu os serviços secretos norte-americanos, com o argumento de que tudo se destinava a impedir atentados terroristas.
Neste último caso, já ele era ministro das Finanças — mas no fundo tão caceteiro policial como sempre.
Houve, ao longo de toda esta história, muito quem quisesse ver a origem da sua obsessão securitária no azedume por ter ficado em cadeira de rodas desde 1990, devido ao atentado de um doente mental. O dr. Strangelove, no clássico filme de Stanley Kubrick, também odiava o mundo, sentado na sua cadeira de rodas. O general Millan Astray, mutilado e desfigurado, também gritava “Viva la muerte” diante do horrorizado filósofo Miguel Unamuno.
Mas o que aqui nos importa não são as curvas e contracurvas destas retorcidas psiques, e sim uma questão muito mais simples: porquê a principal potência capitalista da Europa teve de ir buscar um polícia frustrado e psicopata para uma pasta ministerial com mais poderes do que a própria chancelaria?